Por Siro Darlan –

Série Presídios XXVIII.

“E quanta mocidade fora enterrada inutilmente naquelas muralhas, quantas forças poderosas ali pereceram em vão! Vamos, é preciso dizer tudo: vamos aquela era uma gente extraordinária. Pois é possível que aquela fosse até mesmo a gente mais talentosa, a gente mais forte de todo o nosso povo. E aquelas forças poderosas pereceram em vão, pereceram de forma anormal, ilícita, irrecuperável. E de quem é a culpa?”

Fiódor Dostoievski, Recordações da Casa dos Mortos.

Primeiramente, é aquele que tem dinheiro para comprar tudo que ele precisa, desde comida da cantina, passando por visita íntima, remição de pena, até alvará falso.

Em segundo lugar, é aquele que não conhece direito algum, não reivindica nada, não reclama de nada, não se comunica com nenhum representante dos Poderes Públicos. Vive o dia todo se drogando ou jogando baralho, comendo pizza ou lasanha com coca cola ou até wiskie se puder pagar. Ou aquele que passa o tempo todo com seu smartphone, e paga o resgate todas as vezes que seu telefone é levado na geral (revista). Esse é o tipo de preso perfeito padrão SEAP – um preso exemplar.

Mas ler; se instruir; frequentar a Unidade Escolar Prisional; escrever para alguma autoridade; reivindicar algum direito; reclamar da lavagem servida como refeição, são atividades subversivas que trazem perigo à Grande Prostituta Babilônia conhecida como SEAP.

Mas o maldito Sistema também produz seu efeito colateral – é verdade que talvez seja um em um milhão, mas produz. Esse efeito colateral são geralmente os que sobreviveram alimentados pelo ódio, e não aceitam sofrer calados todas as atrocidades que o Estado criminosa e covardemente lhes impôs.

Este autor não possui a ingenuidade de pensar que isso tudo vá um dia simplesmente acabar, sem luta, sem derramamento de sangue, com diplomacia, discursos filosóficos ou coisa do gênero, o que nós precisamos é de homens como Osama Bin Laden, para fazer esse Sistema corrupto sangrar, até que paguem vida por vida, olho por olho e dente por dente.

Maldito seja o Sistema e todos os seus integrantes!

Aqui encerramos parte da série dedicada ao desabafo de um único interno, que quis dar seu testemunho em mais de trinta páginas que subdividimos em capítulos para não cercear em nada sua palavra.

Prosseguiremos na série com outros depoimentos. Todos os capítulos foram encabeçados por frases retiradas do livro Recordações da Casa dos mortos do escritor e também detento Fiódor Dostoievski e das poesias retiradas do livro Corpo preso, mente livre: Versos aos verbos de um interno, editado por 17 poetas presos, alunos da Escola Estadual Mario Quintana.

Leia também:

1- A roubada dos presídios federais – por Siro Darlan e Raphael Montenegro

2- Para que servem os presídios? – por Siro Darlan

3- Como transformar seres humanos em seres sem dignidade humana – por Siro Darlan

4- A guerra aos povos pobres e negros com nome de “guerra às drogas” – por Siro Darlan 

5- O dia que a casa caiu – por Siro Darlan 

6- Isso é uma vergonha, diz o Ministro Gilmar Mendes – por Siro Darlan 

7- “Bandido bom é bandido morto” – por Siro Darlan

8- A pena não pode passar da pessoa condenada – por Siro Darlan

9-  O Dia do Detento – por Siro Darlan

10- Para além das prisões – por Siro Darlan 

11- Justiça Restaurativa – por Siro Darlan 

12 – Alternativas à privação da liberdade – por Siro Darlan

13- Quem nasceu primeiro o cidadão infrator ou o Estado criminoso? – por Siro Darlan

14- A ponte para a liberdade – por Siro Darlan 

15- O Estado Criminoso – por Siro Darlan

16- O Estado Criminoso II – por Siro Darlan

17- O Estado Criminoso III – por Siro Darlan 

18- O Estado Criminoso IV – por Siro Darlan

19- O Estado Criminoso V – por Siro Darlan 

20- O Estado Criminoso VI – por Siro Darlan 

21- O Estado Criminoso VII – por Siro Darlan 

22- O Estado Criminoso VIII – por Siro Darlan 

23- SEAP no banco dos réus – por Siro Darlan 

24- Homicídios – por Siro Darlan 

25- Desvio de dinheiro público / alimentos superfaturados / enriquecimento ilícito – por Siro Darlan

26- Trabalho em condições análogas à escravidão / prevaricação / omissão de socorro – por Siro Darlan

27- Vítima da SEAP II – por Siro Darlan

SIRO DARLAN – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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