Por José Macedo

“Chegamos ao estágio da história em que devemos começar a pensar sobre o próprio pensar” (John Lukacs)

O objetivo central desse artigo é o de contribuir para a reflexão sobre o retrocesso das relações sociais, da política e da economia. A lógica capitalista origina-se da ganância pelo lucro e a acumulação do capital, é o ponto de partida desses breves comentários. Essa narrativa tem o propósito de provocar o debate sobre o tema, não importa que as respostas sejam silenciosas, justificadas, em função do momento delicado da pandemia. A ganância desenfreada pelo lucro, própria do Sistema Capitalista, corrompe as democracias em todo mundo. Outro fenômeno de igual importância, incluído no tema é o da monetização da economia. A acelerada monetização trouxe mudanças em todo sistema, em escala mundial. O capital financeiro passou a ditar as regras. As economias tornaram-se dependentes do mercado de capitais e do sistema bancário.

As pessoas físicas e jurídicas foram obrigadas a fazer profundas mudanças.

No bojo desses fatos, não posso deixar de registrar o renascimento do velho e desacreditado liberalismo, vindo com nova roupagem de neoliberalismo e seus fetiches, o Estado Mínimo e o “deus mercado”. Obviamente, com o fortalecimento desses agentes, via-a-vis, derivados do mercado financeiro e de capitais, o cenário politico sofre alterações. Sem dúvida, menciono a influência politica desses novos agentes. Assim, o novo quadro econômico criou as condições concretas e suficientes para a desideologização da política, que chamo de pós-politica. A nova economia passou a demandar desses agentes novos papéis, para atender ao apelo do capital. A lógica capitalista é a coisificação, a reificação da vida social, o desprezo do outro, o polo de atração e o da motivação da vida é o lucro. Não havendo mudanças, o processo destruidor será irreversível, permanentemente, predatório e seremos vítimas dos “outsiders”, dos 1% que detêm cerca de 30% da Riqueza Nacional, a maior concentração de riqueza do mundo.

Os ideais iluministas e da Resolução Francesa perderam-se, no curso de pouco mais de 2 séculos.

Inegavelmente, ouve progressos na ciência e no conhecimento, mas também destruição na unidade e parceria homem e natureza, colocando em risco a vida de muitos. No entanto, esse progresso é usufruído por uma minoria privilegiada, a maioria paga esse preço, até com a vida. Essa crise da dimensão do humano, sob minha visão, não está restrita à atual pandemia, à crise climática, à7 saúde, ao desemprego, à violência, à moral, à ética e à fome. A crise está na incapacidade de recuperação de nossas velhas ideologias, sonhos e utopias. Então, como será regida a vida, caso não superemos as forças do capitalismo, por natureza destruidor e predatório? A resposta está na capacidade de substituição por um sistema de valores, que tenha o homem como centro na conquista da unidade, homem natureza. Enfim, para essa substituição, o requisito é a aliança com a natureza, no reconhecimento dessa imprescindível unidade, repito. A humanidade resistiu e superou repetidas crises e pandemias, por isso, não foi engolida por essa lógica de crueldade, não permaneceu na condição de seres errantes e de vidas sem rumo. Contudo, as crises são cíclicas, repetem-se.

Assim, é a lógica capitalista e, em tempos pós-modernos, a da “pós-política”.

Nesse contexto, no debate da crise e de seus contrários, o enfrentamento é com esses “outsiders”, fortes e atuantes. Muitos deles, que se confessam avessos à política, foram eleitos, para presidente, governador, deputado, cujo discurso foi o apelo à antipolítica, um discurso anticiência e anticorrupção, como farsa. A hipocrisia está na disseminação das falsas notícias e desse hipócrita discurso anticorrupção. Agora, a “casa caiu!”! Todos que se elegeram com esse falso discurso, lambusam-se e bebem seus próprios venenos. Com certeza, alguns serão condenados e afastados da política, que negaram. Temos inúmeros exemplos de “outsiders”, que se elegeram. O ex-presidente Trump fez escola e teve como fiel seguidor, o Capitão Jair Bolsonaro, presidente do Brasil. Esses indivíduos são a antítese da política e obstáculo para a desejada paz social, são predadores da vida, mórbidos e insensíveis. Os supostos “outsiders” trazem seus vícios e frustrações, tutelados por seguidores revoltados, marcados pelo ódio e vingança, sentem-se seguros por forças marginais e delinquentes, a ultra direita e as milícias.

Assim é que, essa nova extrema direita alimenta o autoritarismo e ressuscita traços fortes do nazifascismo.

Na década de 1920, surgiu o maior exemplo do “outsiderism”: Adolf Hitler, que nos serve de exemplo e de alerta. Esses negacionistas, antidemocratas são os mesmos, que criticam a política e dizem-se apolíticos, arvoram-se contrários à corrupção, mas quando são eleitos, agarram-se ás benesses do poder e do establishment. Muitos foram eleitos com esse discurso de bons gestores e de serem contrários à forma atual de fazer política, rotulando-a de “velha política”. No meu sentir, esse movimento, nascido dessa época de forte negacionismo e de frustrações merece profunda e urgente reflexão. É inegável que, essa onda não é recente, renasce do momento em que as forças conservadoras se unem. Posto isto, aduzo a necessidade de que novas portas sejam abertas, para que possam resgatar os valores perdidos, simbiose homem natureza seja recuperada, quando então nascerá uma nova forma de humanização e, com certeza, de sociabilidade e de nossa maioridade humana. Mas, sem querer ser apocalíptico, o contrário, veremos o fracasso do homem na terra, ai sim, “o fim da história”. Por que não revisitar, a título de reflexão, a República de Platão, a Utopia de Thomas Morus, escritos filosóficos do Beneditino, Campanella, Pasárgada, de Manuel Bandeira, Canudos, do Conselheiro. Afinal, a história não é regida pelo determinismo, pela matemática cartesianismo a a cartesiana, não é tecnicista, muito menos pelas forças do mercado.

Assim, resta-nos também a consciência de que somos agentes da história, o que é o primeiro passo. Nem tudo está perdido!


JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.