Por Luiz Carlos Prestes Filho

Não fui amigo íntimo do cantor Agnaldo Timóteo. Estivemos juntos em algumas ocasiões públicas e familiares nos últimos anos. Somente. Mas sua morte me abateu fortemente. Ao imaginar que nunca mais vou ouvir aquele seu brado quando me via – “Luizinho! Como vai menino?!” – uma tristeza profunda me abateu.

Maria Prestes no centro com o cantor Agnaldo Timóteo e o compositor João Roberto Kelly

Em 2020 fiz uma entrevista com ele sobre o impacto da pandemia da Covid 19 em sua vida, este ano publiquei uma outra entrevista. Agora sobre o tema: regulamentação de cassinos, bingos e do Jogo do Bicho. Nesta, com a coragem que lhe sempre acompanhou, enalteceu os amigos Anísio Abrão David, GRES Beija-Flor de Nilópolis e o Capitão Guimarães, GRES Vila Isabel. Fez questão de destacar o seu respeito pelo Castor de Andrade, GRES Mocidade Independente, e pelo Luizinho Drummond, Imperatriz Leopoldinense.

Repetiu várias vezes: “Pode escrever menino, os bicheiros me deram dinheiro porque eu fui pedir para eles! Os presidentes Tancredo, Collor e FHC pediam dinheiro para os banqueiros e para as multinacionais. Eu nunca tive essa possibilidade!”

Agnaldo Timóteo com o livro de Luiz Carlos Prestes Filho: “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo”

No ano de 2018, realizei uma série de atividades que envolveram o centenário do compositor Adelino Moreira. Entre estas, o lançamento de um selo comemorativo pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT). Quando o convidei para participar da obliteração, ao lado da fadista Maria Alcina, no Consulado de Portugal, de imediato aceitou… mas com uma condição: “Serei voluntário menino! O que o amigo Adelino Moreira de Castro fez pela música brasileira é incomensurável, sempre fui seu admirador e cantor de sua obra magnífica. As canções A VOLTA DO BOÊMIO e NEGUE são dois clássicos que nunca deixarão de serem cantadas”. O evento foi um sucesso com a presença do Embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, do Ministro da Cultura de Portugal, Luís Felipe Carrilho de Castro Mendes e do Consul de Portugal no Rio de Janeiro, Jaime Van Zeller Leitão. O grande amigo do Adelino Moreira, o compositor João Roberto Kelly, fez questão de marcar a sua presença na plateia.

Durante os ensaios Agnaldo repetiu várias vezes que tinha admiração pelo meu pai, Luiz Carlos Prestes: “Foi uma das maiores honras do mundo acompanhar o Cavaleiro da Esperança numa viagem até a Itália, na década de 1980, onde ele foi o palestrante no Congresso Mundial da Paz. Viver a firmeza de sua voz e de suas convicções foi uma experiência única durante o meu mandato de Deputado Federal”.

Maria Prestes e sua irmã Lia, entre o compositor João Roberto Kelly e o cantor Agnaldo Timóteo, na festa de 90 anos da viúva do Cavaleiro da Esperança

Em fevereiro de 2020, o Agnaldo foi um dos primeiros a chegar na festa de aniversário de minha mãe Maria. Com toda a humildade cumprimentou todos os presentes e soltou a sua voz num belo “Ave Maria”. Minha mãe, encantada, teve a oportunidade de mais uma vez aplaudir o talento deste cantor original e, ao mesmo tempo, ser homenageada. Na ocasião ele reencontrou velhos amigos do parlamento, os ex-deputados José Dirceu e Luiz Alfredo Salomão. Foi uma festa! Sem dúvida, foi uma tarde memorável. Ainda mais, porque todos celebravam a impressionante recuperação da saúde do Agnaldo, que meses antes tinha sofrido um AVC.

O ator Antônio Pedro, o cantor Agnaldo Timóteo, Maria Prestes, o jornalista Luiz Carlos Prestes Filho, o ex-deputado José Dirceu, o compositor João Roberto Kelly, o vereador Lindbergh Farias e o doutor Arthur Guimarães

Este ano iríamos comemorar os 85 anos do Agnaldo Timóteo. Infelizmente, aconteceu essa tragédia.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Diretor Executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Cineasta, formado em Direção de Filmes Documentários para Televisão e Cinema pelo Instituto Estatal de Cinema da União Soviética; Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local; Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009); É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).