Por Siro Darlan

Espantoso como mudou de personalidade o jornalista Ricardo Bruno, antes um defensor das causas sociais e dos direitos humanos, hoje dando eco aos gritos dos racistas, misóginos e arbitrários defensores da violência pela violência. Sua última manifestação em Agenda do Poder que acompanho com interesse e admiração, é um grito à barbárie. Espantoso como, sempre estudioso e pesquisado da notícia, combate uma decisão judicial atacando uma juíza, que atendeu aos reclamos do Ministério Público, respeitável órgão fiscalizado da lei e das polícias.

O jornalista em nenhum momento, por medo ou covardia, ataca o requerente Ministério Público, que recorreu à Justiça para garantir a isonomia de tratamentos, à igualdade e dignidade das pessoas pobres, evitar o preconceito e discriminação, tratamento diferenciado dos que moram à beira mar e os que mesmo morando longe tem igual direito de frequentar os espaços públicos.

Procura ridicularizar a juíza, porque uma autoridade mulher no exercício de suas funções e abstém-se de comentar os representantes do Ministério Público que provocou a decisão judicial inatacável sob o ponto de vista da garanti dos direitos fundamentais e individuais, com foco na prioridade absoluta, direito fundamental de cunho constitucional e universal, para crianças e adolescentes exercerem o direito ao lazer. Seus filhos e netos certamente não precisam recorre ao judiciário para garantir o exercício desses direitos, mas acha que filhos e filhas de pobres e favelados só recorrendo à Justiça. Barbárie!!!!

Sua manifestação racista e odiosa extrapola o mundo da comunicação social e atribui a todos aqueles que nesse verão de 50 graus, genericamente atos de “gangues que disseminam o terror em praias e ruas da Zona Sul, a sociedade fluminense continuará fadada a conviver com esse martírio cotidiano.” Falsa premissa essa que afirma que “A Justiça proibiu a ação preventiva da polícia nos acessos à praia, determinando a suspensão da apreensão de menores – mesmo aqueles fardados para crime com as notórias camisetas pretas – durante a operação verão. Somente em flagrante delito a polícia poderá agir: ou seja, somente após o crime ter sido consumado. Primeiro se espanca ou mata para em seguida a polícia poder atuar.”

Afirmar que os jovens da periferia que estão usando camisetas pretas estão fardados para crime é o cúmulo do racismo e preconceito contra os cidadãos escravizados pelos brancos e colonizadores. O tronco continua presente na mídia corporativa.

A juíza da Infância e da Juventude Lysia maria da Rocha Mesquita, com grande sensibilidade recorreu a alma do povo carioca, sempre hospitaleiro e aberto à diversidade, tanto que nossa Cidade tem o privilégio de conviver inclusive geograficamente com pretos e brancos, ricos e pobres, de forma gentil e alegre. Até mesmo lembrou a poesia de nossos compositores mais queridos e consagrados para citar a areia, espaço democrático de encontros e festas, o samba que também une os diferentes sem preconceitos, os esportes populares que consagra atletas de todas as cores e classes sociais, tudo isso acontece no espaço democrático da praia onde louvamos ao romper de cada ano Iemanjá e todo sincretismo religioso que une a alma de todos os brasileiros e brasileiras.

O jornalista não viu poesia, mas destilou em suas linhas o ódio, o racismo estrutural, criticado pela juíza. Voltou-se para explicar o inexplicável, por interesses pessoais ou profissionais, quem sabe? Quando afirma que “pouco ou quase nada pode ser feito para evitar o caos em Copacabana durante o verão. O Rio de janeiro continuará condenado a conviver com situações como a jovem que matou o fã de Taylor Swift 24 horas após ser liberado de uma prisão por conta do roubo de chocantes. ” Não traça uma única linha para apontar o verdadeiro responsável por esse caos social que é seu amigo o governador Claudio Castro que nada construiu de positivo durante sua administração a serviço do ódio e da violência.

Porque sua polícia é tão violenta, porque ele segue a política implantada por seu antecessor do “tiro na cabecinha”, e não faz da polícia uma fiel cumpridora das leis e do respeito aos cidadãos que tem o dever de proteger. Ele e seus antecessores impõe a política do apartheid e mantém os pobres no exílio cultural, não constrói escolas, não investe na cultura, no exílio social onde moram os pobres não há habitação digna, não há saneamento básico, não há acesso a água e eletricidade. Como nos campos de concentração nazistas os moradores da periferia e das favelas vivem sob tortura social permanente, e enquanto a educação é sucateada, a saúde é privatizada e inacessível, o coro come o jornalista vibra e se coloca contra os freis que o judiciário impõe ao Capitão do mato moderno fardados e armados.

Utiliza-se de fatos excepcionais, que acontecem por falta de política educacional, única capaz de mudar o cenário de ódio alimentado por uma mídia insensível e racista, para afirmar, mais um preconceito contra os filhos dos pobres que “As gangues, com participação ostensiva de menores, continuarão a agir.”. Afirmativa mais uma vez falsa. Os autores dos crimes citados não eram menores. Mas isso não muda o quadro de irresponsabilidade administrativa que reina há muito tempo no Estado do Rio de Janeiro. Mas essa Cidade é tão maravilhosa que resiste a todos esses preconceitos e abençoada pelo Cristo Redentor, continua abraçando todos os filhos e filhas vindos da África ou do Velho Continente.

Isso como disse Dra. Lysia, nós atuamos com o bom humor dos cariocas e fluminenses, o que não dá para aceitar é o preconceito e a barbárie.

SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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