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Sergio Moro – por José Carlos Mattos
Sergio Moro. (Pedro França/Agência Senado)
Geral, Opinião, Política

Sergio Moro – por José Carlos Mattos

Por José Carlos Mattos

Eu sou botafoguense. Isto, como vocês sabem, além de ser uma condição de vida, é um aviso aos navegantes; cuidado comigo, e, principalmente, não me peçam para mudar de opinião, eu não sei fazer isto muito bem.

Este ano o Botafogo fez a sua torcida passar pelo que o Wall Street Journal em artigo de uma página sobre John Textor, o presidente do Botafogo, qualificou como um dos maiores colapsos da história do futebol desde a criação do esporte. Sim, o WSJ, um dos cinco mais importantes jornais do mundo. O Botafogo, digo eu, é a versão futebolística de Mae West quando falava “When I’m good, I’m very good. But when I’m bad I’m better”. E esse ano o Botafogo realmente exagerou. Apesar disto, ou por causa disto, eu já decidi que nesse Natal o presente que eu vou dar para mim mesmo é uma camisa do Botafogo. Será uma renovação de fé, será quase um ato religioso.

Dito isto, vou tratar de Sérgio Moro, este juiz muito bom que é um péssimo político.

Eu leio com espanto as diatribes que se publicam sobre Moro. Afinal, em um país em que há para se escolher para criticar juízes como Tofolli, Gilmar, Carmem Lucia, Luís Felipe Salomão, os dois Zveiters, entre centenas de magistrados e homens públicos que não têm em seus currículos sequer um momento de grandeza cívica, o cidadão escolher a Sérgio Moro para atacar agora, quando ele se encontra mais fragilizado (ele tem muita culpa nisto, eu sei) me impressiona. Principalmente se há poucos anos o alegre escriba era fã incondicional de Moro, se alegrava com suas sentenças, comemorava quando os tribunais superiores confirmavam, às vezes até agravavam as penas, os vereditos do então juiz de primeira instância que com coragem chamava ao banco dos réus muitas estrelas da aristocracia brasileira para elas explicarem para a justiça por que tratavam os cofres da república como se fossem sua propriedade privada.

Sérgio Moro cometeu o erro de sua vida quando trocou a toga pelo poder executivo.

Ele percebeu as vantagens no curto prazo desta mudança, mas não avaliou bem como seria a manhã seguinte à manhã seguinte. Transformou-se em Ministro de um governo com problemas de honestidade muito próximos ao centro de poder, a começar pelos três filhos do presidente, todos envolvidos em pequenos furtos, tão pequenos quando vergonhosos, como extorquir parte do salário dos funcionários públicos lotados em seus gabinetes.

O que é isso perto dos escândalos da Petrobras? É pouco, mas o juiz que condenou os que assaltaram a Petrobras não pode ser aliado de gente desta vulgaridade. Sérgio Moro se atrapalhou com esta incongruência, julgou que ela iria desmoralizá-lo gravemente. Se ele achava que era necessário estar absolutamente afastado da corrupção para ter sucesso na vida fora da magistratura, ele não poderia ter se aliado a uma família com trinta anos de política nas costas. Não poderia ser surpresa para ele que ao longo destes anos os Bolsonaros tivessem seus crimes de corrupção para explicar. Moro não teve jogo de cintura para jogar nesta circunstância, nem soube manejar a força política que ele tinha na época para se impor. Saiu ruidosamente, atabalhoadamente do Governo, deixou a porta aberta para que seus antigos aliados de ocasião pudessem qualificar a sua renúncia como traição.

Hoje sua casa é o Senado aonde chegou com expressiva votação. O problema é que ali ele – político novato – convive com vários políticos poderosos que o temem e não confiam nele, afinal ele é o único brasileiro que colocou na cadeia integrantes corruptos do legislativo.

Joaquim Barbosa que foi uma versão antecipada de Moro não foi tão longe, e teve que renunciar à vida pública para sempre para poder viver sossegado ou simplesmente viver.

Sérgio Moro está sendo condenado por seus acertos, por sua coragem cívica, não está sendo condenado pelos seus erros profissionais. Se fosse por seus erros na magistratura, as dezenas de juízes que corroboraram as sentenças que ele exarou teriam que também ser chamados para se explicarem, pois erraram mais do que ele até, falharam como revisores.

Eu não sou o Marco Antonio, de Shakespeare, tampouco Moro é Cesar. Ao contrário de morto, ele está no início de sua vida política e quem sabe supere as dificuldades. Exemplo de resiliência ele pode tirar de seu réu mais famoso e atual presidente da república.

Eu vou fazer o que eu posso. Eu vou procurar para comprar um pin do Sergio Moro para colocar na minha nova camisa do Botafogo.

Saudações alvinegras.

JOSÉ CARLOS MATTOS – Jornalista e Botafoguense, ou vice-versa.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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