Por Miranda Sá –
Escrevi uma crônica leve, cheia de pitorescas curiosidades para ser lida na data em que se comemora o Natal que reverencio como todos os que sofrem a influência do cristianismo. Repetindo anos anteriores nos reunimos em família, mulher, filhos, netos e bisnetos.
Poderia ter usado isto como tema; não o fiz porque considero o que celebramos uma festividade pagã, lembrando que o 25 de dezembro fazia parte do calendário civil romano como o Dia do Sol Invencível.
Homenageava o deus Mitra, patrono da justiça e da aliança e condutor da luz com farras orgíacas. Ele era representado materialmente pelo sol. Estas festas pagãs duraram até que o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano.
Então, o deus que vigiava a ordem cósmica, as estações do ano e a alternância do dia e da noite, foi substituído por Jesus Cristo divinizado; e o culto ao Sol Invencível foi proscrito pelo Edito de Teodósio, no ano 380.
Mesmo proibido, o mitraísmo continuou sendo a religião popular em mais da metade da parte ocidental do Império, sendo que muitos cristãos aderiam às festividades do Solstício de Inverno que ocorrem em dezembro no Hemisfério Norte.
A hierarquia católica sentiu isto e se apropriou da data, decretando o dogma da Natividade. Foi o trigésimo-sexto papa, Libério, que reinou sobre a Igreja Católica Romana de 352 até 366, que impôs o dia 25 de dezembro como data do nascimento de Jesus Cristo.
Libério e seus acólitos estabeleceram a Natividade junto com as demais festividades católicas, como a Páscoa da Ressureição e o Pentecostes herdado dos judeus (que dignifica o recebimento por Moisés das Tábuas da Lei), adaptando-o para a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos.
Pretendendo despertar e conquistar os pagãos para Cristo, o seu nascimento poderia ter sido em qualquer data. Antes, recebia a atenção de diversos seguimentos cristãos para o 7 de janeiro, o 3 de março ou o 13 de abril, adotados por antigas seitas cristãs.
Lucas no seu evangelho (Lc, 1, 26) expõe que o arcanjo Gabriel anunciou a vinda do filho de Deus a Maria, seis meses após o profeta João Batista ter nascido, o que ocorreu a 24 de julho. Portanto, por uma gravidez normal de nove meses, a noite do nascimento de Jesus dificilmente teria sido em dezembro.
Vê-se então que a adoção do 25 de dezembro, atendendo ao interesse expansionista do papado, não foi a única concessão ao mitraísmo. O sacerdócio católico vestiu-se igualmente ao vestuário dos prelados e do pontífice de Mitra, com os papas usando o turbante mitral, de que os rabinos judeus já haviam também se apossado.
Diversas vertentes do cristianismo discordam e contrariam a adoção da Natividade a 25 de dezembro no Ocidente, Europa e Américas; mas aceitam-na a Igreja Anglicana, a maioria das Igrejas ortodoxas e tendências protestantes nórdicas.
A Reforma protestante, proibiu a celebração do nascimento de Cristo admitida pelo Papado que segundo Martin Lutero. era uma das fraudes papistas e denunciou-a como uma volta ao paganismo.
Austero, o luteranismo combatia também o Carnaval por sua inegável ligação com o catolicismo. Tal como é festejado no Ocidente, antecede a Quaresma criada na Alta Idade Média por um período de 40 dias antes da Páscoa.
Como o culto do Sol Invicto, o Carnaval tem também a sua origem greco-romana e era celebrado em Roma no solstício de Inverno, como a Lupercália, que ocorria em fevereiro.
Tudo visto e pesquisado não se trata de uma crítica, nem uma condenação como fez Lutero; trata-se apenas de um registro histórico sobre as festas pagãs. Da minha parte, festejo o 25 de dezembro com os meus parentes e amigos. Trocamos presentes e semeamos alegria com comida e bebida.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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