Por José Macedo

No dia 25 de maio de 2020, o cidadão americano, George Floyd, por sua condição de negro, foi assassinado por um policial branco, ação desnecessária e desproporcional, de impulso e motivação racista. A entidade, Ku-klux-klan, fomenta o ódio racial e a supremacia branca, mas não é responsabilizada, ao contrário, é tolerada.

No Brasil e nos USA, o negro tem muito mais chance de ser morto pela polícia, do que no resto do mundo. Em nosso país, o assassinato de negros é uma rotina. No Brasil, 75% das vitimas por assassinatos são negros ou pardos e a probabilidade de um negro ser assassinado é de 2,7 vezes à do branco.

Alguns indicadores esclarecem a situação do negro, escravizado no Brasil, por 350 anos. Na abolição o negro foi expulso das grandes fazendas, não importando a fome e a miséria a que seria submetido, sem qualquer direito, nem a quem reclamar. Estamos no século XXI e persistem as injustiças e a abissal desigualdade. Assim, os ganhos do branco, em média, são de 75% a mais do que os do negro; a população carcerária no Brasil é de 800.000, sendo que 2/3 é de negros e pardos, observando que 53% da população brasileira é de negros, 47% de brancos.

Desgraçadamente, a humanidade nunca saiu do estado de barbárie, seja com a escravidão, o racismo, o preconceito, a discriminação, as guerras e o genocídio. Hitler matou 6 milhões de judeus, além de ciganos, deficientes, comunistas e negros, sob o manto da ideologia da supremacia da raça ariana.

Assim, vivemos em constante estado de guerra, imaginado pelo filósofo, Thomas Hobbes, “somos lobos uns dos outros”. A paz coletiva não passa de utopia, apesar dos pactos e de Contratos Sociais. Quando, em 2015, ocorreu aquele atentado à revista satírica, Charlie Hebdo, escrevi um pequeno texto, publicado no Jornal “O Nordestino”, com o título “Não sou Charlie Hebdo”. No texto falei do desprezo, do preconceito e do disfarçado racismo, um misto de deboche, vilipêndio aos símbolos sagrados de povos que se sentiram ofendidos em sua honra subjetiva e identidade maculada pela revista. Não poderia ficar do lado da revista Charlie, como não fiquei, porque não quis cooperar com o racismo, que espalha preconceito, ódio e destruição do outro. Essa utopia pela paz nos motiva a viver, a prosseguir, imaginando um mundo melhor e mais civilizado, onde as diferenças de cor, etnia, e gênero não continuem fomentando a intolerância e o ódio.

Nossa formação escravocrata formou uma elite atrasada, autoritária e racista, que discrimina e afasta de seu convívio social o negro e o pobre. Em 2018, em eleições livres, o Brasil elegeu o ex-capitão do exército, Jair Messias Bolsonaro, presidente. O ex-capitão e ex-deputado era um obscuro deputado, mas conhecido por pronunciamentos contra os direitos humanos, a favor da tortura e da ditadura, além de pronunciamentos racistas. A eleição de Bolsonaro é corolário desse dantesco inferno. O cientificismo e a teoria bioantropológica racial disseminaram a ideia de que a mistura do homem branco, do negro e do índio gerava o homem inferior. O negro, o mulato, o sertanejo de pele escura eram assim definidos, além de burros, preguiçosos e com forte tendência para a prática do crime. Quem leu “Os Sertões de Euclides da Cunha” verificou a influência lombrosiana e do darwinismo social, cientificista e racista.

Faço lembrar, aqui, a crise migratória na Europa, o sofrimento e mortes em série de migrantes, de africanos e de outras nações. Os povos ricos e desenvolvidos não tomam iniciativa eficiente para erradicar esse fenômeno de sofrimento e de dimensão mundial. Esse texto revela momentos de reflexão e pontuais preocupações, não tem a pretensão de que seja conclusivo, tampouco, arrisco-me a apontar soluções.


JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.