Por Eliara Santana –

A edição do JN de ontem adotou aquela tática já conhecida do Jornal de neutralizar as loucuras nacionais e inserir um pouquinho de normalidade à vida. O fato é que o Brasil está mesmo lascado, e o país não aguenta mais seis meses num esquema de sanatório geral. Esse desequilíbrio político impacta seriamente o funcionamento econômico, num cenário de descontrole inflacionário e desaquecimento da economia.

Por isso, a edição de 13/09 – o jornal já vinha nessa toada desde o 7 de Setembro que não trouxe a hecatombe – estava mostrando um país minimamente aquietado. Claro, os problemas foram enumerados e com as possibilidades de solução arranjadas (soluções essas que passam por organizações fora do Estado), mas sem arroubos no estilo “tocando o terror” Não há governo, e é como se também não houvesse a necessidade de um. Bolsonaro e seu governo não aparecem. Mas as instituições aparecem – sobretudo e magistralmente o Judiciário. Observem, muito atentos, que essa dobradinha já deu muitos frutos (vários podres) ao Brasil. Mas é sempre uma condição muito importante para que os processos caminhem. Para o bem e para o mal.

Mais do que normalidade, as edições do JN querem também resgatar um certo desenho civilizatório que está meio sumido por aqui.

Vou delinear alguns aspectos:

VACINAS E COVID
O mais relevante na abordagem sobre Covid é mostrar a importância do avanço da vacinação e o enorme papel da vacina, assim como a comprovada eficácia. Sem margem para aventureiros que usam remédio de ver. Essa etapa já foi superada, esse é o recado. As reportagens mostram o avanço no Brasil e a situação de outros países, com vacinação em massa e os benefícios para a população. Com destaque (reportagem de 4 minutos) para a ação rápida e efetiva do governo de São Paulo (sempre) em buscar solução para a falta de Astrazeneca.

É certo que o evento ocorreu no domingo, pode estar velho, mas se tivesse sido um sucesso de público estaria até na escalada das manchetes. A edição não deu bola nenhuma ao flop da manifestação nem-nem. Sabem o que a flopagem significa em termos da construção da perspectiva da terceira via. Melhor fingir que não aconteceu.

SOCIEDADE CIVIL SEM ESTADO
A perspectiva crescente é de que há muitas ações sendo feitas para “consertar” os estragos. Todas de grupos da sociedade civil. Grupos sempre ligados a empresas, fundações, nunca a movimentos sociais. Um exemplo: uma reportagem relativamente boa abordou a educação neste momento ressaltando que a pandemia aprofundou ainda mais a desigualdade. Há personagens, casos em destaque, números. No entanto, a fonte ouvida para explicar essa situação e dizer que é preciso haver investimentos em educação é alguém do Itaú Cultural. Não é possível que no país de Paulo Freire não haja pesquisadores mais do que competentes para falarem sobre o tema. Não deveria ser aceito recorrer a uma fundação ligada a um banco privado para falar sobre educação pública.

NENHUM DESTAQUE PARA JAIR
Os programas sociais anunciados – como o programa habitacional para policiais e bombeiros – mereceram notas muito secas, de 30 segundos. O potencial bélico de Jair está neutralizado no JN. É isso o que sustenta a base dele.

LULA SEM CANO CARCOMIDO
A notícia sobre novo arquivamento de investigação contra Lula – a 19ª – recebeu um minuto na reportagem do JN. Sem fundo vermelho, sem cano escorrendo dinheiro, sem imagens depreciativas. A matéria fala que “Justiça arquiva investigação contra Lula por suposto tráfico de influência a favor da OAS”. Observem um detalhe: o uso de “suposto” para referenciar tráfico de influência. As questões relativas a Lula eram sempre noticiadas como asserções, afirmações categóricas que nunca eram colocadas em dúvida. “Suposto” nunca era um adjetivo que se aplicava a Lula. Por ora, isso mudou. A reportagem mostrou brevemente o caso, falando da delação de Leo Pinheiro à Lava Jato, e se encerrou com fala da defesa de Lula (lida por Renata) reafirmando que “os fatos confirmam que o ex-presidente foi vítima da manobras jurídicas para incriminá-lo”.

TSE E RACHADINHA
Matéria de dois minutos mostrou que uma decisão unânime do Tribunal Superior Eleitoral definiu que a prática de rachadinha configura enriquecimento ilícito e causa dano ao patrimônio público. O acórdão da decisão cassou o registro de uma vereadora de São Paulo que praticou a rachadinha no gabinete. Em seguida, William Bonner leu, num tom bastante sério, a declaração do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo (que será o presidente do TSE no ano que vem):

“O esquema de rachadinha é uma clara e ostensiva modalidade de corrupção. Que, por sua vez, é a negativa do Estado constitucional, que tem por missão a manutenção da retidão e da honestidade na conduta dos negócios públicos, pois, não só desvia os recursos necessários para a efetiva e eficiente prestação dos serviços públicos, mas também corrói os pilares do Estado de Direito e contamina a necessária legitimidade dos detentores de cargos públicos. Vital para a preservação da democracia representativa”.

Todos os recados e todas as marcações de posicionamentos e ações estratégicas. E mais do que nunca, a parceria Mídia – Judiciário na manutenção dos ares civilizatórios, da democracia representativa e formal em funcionamento. Sigo mantendo a aposta – Jair será impedido pela tese da inelegibilidade, com Alexandre de Moraes presidente do TSE.

A conferir.

Fonte: Blog Eliara Santana


Tribuna recomenda!