Por Jeferson Miola –
Boric venceu com a força da ânsia incontível do povo chileno por mudanças.
Boric venceu na eleição que teve a maior participação popular do século 21.
“Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir una sociedad mejor” – Salvador Allende, 11 de setembro de 1973.
***
Governo Piñera promoveu locaute de transporte para favorecer candidato da ultradireita
O coordenador da campanha do candidato Gabriel Boric/Frente Ampla fez um breve balanço do dia de votação ontem (19) no Chile.
O deputado Giorgio Jackson centrou sua avaliação fundamentalmente no problema da falta de transporte público no país, mas sobretudo na Região Metropolitana da capital Santiago [RMS], realidade que atentou contra o direito à participação da cidadania no exercício do voto.
Na RMS, que congrega cerca de 40% do eleitorado do país, Gabriel Boric leva importante vantagem sobre o candidato de ultradireita José Antonio Kast, por isso o locaute de transporte público afeta diretamente o desempenho do candidato da Frente Ampla e pode influenciar no resultado de uma eleição disputada voto a voto.
Jackson foi bastante cuidadoso, para não dizer diplomático, no uso das palavras e evitou responsabilizar diretamente o governo Sebastián Piñera, que apoia o candidato de ultradireita. Importante mencionar que a gestão dos transportes metropolitanos é de responsabilidade do Ministério dos Transportes – portanto, do governo Piñera.
Giogio Jackson sublinhou o padrão atípico da disponibilidade de ônibus em comparação a pleitos anteriores, e enfatizou que nunca havia acontecido uma redução de metade da frota em dia de eleição.
O porta-voz da campanha de Gabriel Boric destacou ainda que pela primeira vez o governo nacional não concedeu um bônus para os motoristas de ônibus. Na opinião dele, para desestimular e desincentivar os trabalhadores a conduzirem os ônibus neste dia.
Jackson disse ainda que nas semanas precedentes, devido à preocupação com a possibilidade de que ocorresse o que hoje ocorreu, a campanha Boric reuniu-se com as autoridades nacionais e apresentou planos de contingência de transporte para garantir o direito da cidadania transladar-se para votar.
Diante da inação deliberada do governo Piñera, na tarde de hoje várias autoridades municipais disponibilizaram vans para assegurar o deslocamento das pessoas aos locais de votação, como foi o caso do prefeito de Maipú Tomás Vodanovic, do partido Revolução Democrática, o mesmo de Boric, e que integra a Frente Ampla [imagem].
Trabalhadores do setor de transporte denunciaram o boicote deliberado promovido pelo governo Piñera para favorecer o candidato de ultradireita. Imagens gravadas pelos trabalhadores [vídeo aqui] mostram as garagens praticamente lotadas com ônibus estacionados.
Após o balanço do coordenador geral da campanha, parlamentares, constituintes, prefeitos e prefeitas que integram o comando da campanha concederam nova entrevista coletiva. Nesta coletiva, ao contrário da postura diplomática de Jackson, as lideranças aumentaram o tom das críticas e responsabilizaram diretamente o presidente Piñera pelo boicote.
A deputada Camila Vallejos, do Partido Comunista, disse que não se trata de incompetências, porque são “indiscutíveis as responsabilidades de Piñera”.
O Chile tem péssimos antecedentes em matéria de lockdown. Na década de 1970, as oligarquias locais, totalmente alinhadas e financiadas pelos EUA, utilizavam a estratégia de desabastecimento, suspensão de transportes e outras vilanias para desestabilizar o governo da Unidade Popular do presidente Salvador Allende. No presente, o lockdown objetiva impedir a vitória de Boric.
O desapreço pela democracia não é um apanágio exclusivo das classes dominantes chilenas, porque é uma característica atávica da burguesia enquanto classe, que não hesita em lançar mão de métodos fascistas e anti-democráticos ante a perspectiva de perda de poder e de privilégios.
Isso vem de longe, de tempos memoriais. Odilon Barrot, por exemplo, o 1º ministro de Luís Bonaparte, já dizia: “Alto lá, a legalidade nos mata!”. Ele se referia ao desprezo pela própria legalidade liberal-burguesa quando em contexto de avanço do poder popular.
A nova ordem quer nascer no Chile, mas a velha ordem esperneia, porque não aceita morrer.
JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista, Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
AGENDA
Tribuna recomenda!
NOTA DO EDITOR: Quem conhece o professor Ricardo Cravo Albin, autor do recém lançado “Pandemia e Pandemônio” sabe bem que desde o ano passado ele vêm escrevendo dezenas de textos, todos publicados aqui na coluna, alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de pessoas a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Sabe também da máxima que apregoa: “entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus” (Daniel Mazola). Crédito: Iluska Lopes/Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
Related posts
Bololô na área – por Kleber Leite
O Ataque à Cultura Nacional
Editorias
- Cidades
- Colunistas
- Correspondentes
- Cultura
- Destaques
- DIREITOS HUMANOS
- Economia
- Editorial
- ESPECIAL
- Esportes
- Franquias
- Gastronomia
- Geral
- Internacional
- Justiça
- LGBTQIA+
- Memória
- Opinião
- Política
- Prêmio
- Regulamentação de Jogos
- Sindical
- Tribuna da Nutrição
- TRIBUNA DA REVOLUÇÃO AGRÁRIA
- TRIBUNA DA SAÚDE
- TRIBUNA DAS COMUNIDADES
- TRIBUNA DO MEIO AMBIENTE
- TRIBUNA DO POVO
- TRIBUNA DOS ANIMAIS
- TRIBUNA DOS ESPORTES
- TRIBUNA DOS JUÍZES DEMOCRATAS
- Tribuna na TV
- Turismo