Por Daniel Mazola

A energia nuclear corresponde a pouco mais de 10% da geração de energia elétrica mundial e, apesar de ser menos agressiva ao meio ambiente comparada às usinas termelétricas e hidrelétricas, existe uma grande polêmica ao redor da utilização desse tipo de energia: os acidentes nucleares.

O mundo já presenciou vários acidentes nucleares, desde Chernobyl até Fukushima, que causaram impactos extremamente graves e sérios. No Brasil temos Angra 1 e 2, em operação e sem acidentes desde 1985 e 2001, respectivamente (foto: Arquivo Google)

O jornal Tribuna da Imprensa Livre conta com um time de colaboradores que poucas empresas ou jornalões corporativos possuem, um deles é o professor e físico nuclear João de Deus Pinheiro Filho, uma das valorosas personalidades homenageadas na 3ª Edição do Prêmio em Defesa do Movimento Sindical, Liberdade de Imprensa e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre e a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Rio de Janeiro.

Com pós-doutorado pelo Departamento de Física da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), o professor João Pinheiro atuou por vários anos na Comissão Nacional de Energia Nuclear – organismo do governo brasileiro responsável pela orientação, planejamento, supervisão e controle do programa nuclear do Brasil -, contribuindo efetivamente com a elaboração de planos de emergência para fazer face a uma situação de desastre no complexo nuclear de Angra dos Reis, no Sul Fluminense.

Nascido no município de Icó, no Ceará em 1947. João de Deus Pinheiro Filho é licenciado em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1970), Mestrado (1976), Doutorado (1983) em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas/CNPq/Rio de Janeiro e Pós-Doutorado no Departamento de Física, Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA, (1994-1996) – Crédito: Iluska Lopes/TIL.

Por 17 anos (2002/2019) o físico nuclear trabalhou diretamente na área de reatores nucleares, que são protegidos com uma sucessão de barreiras que impedem a liberação de material radioativo para o meio ambiente. “A primeira barreira são varetas que guardam as pastilhas de urânio utilizadas na produção de energia nuclear, e a última é uma estrutura de aço que envolve o reator. Abaixo dela ainda há uma camada de concreto de 70 centímetros de espessura“, revela o professor. O espaço aéreo é fechado na região para evitar desastres e aeronaves que desrespeitarem a norma podem ser interceptadas.

Propriedade da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, o conjunto das usinas nucleares Angra 1, Angra 2 e Angra 3 (em construção e com previsão de inaugurar até 2025), são o resultado de um longo programa nuclear brasileiro que remonta à década de 1950 com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) liderado na época principalmente pela figura do Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva, que empresta o nome ao complexo – Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA).

Vista geral da Central Nuclear com Angra 1, Angra 2 e Angra 3 em primeiro plano (Divulgação/Eletrobras)

Segundo o professor João Pinheiro, a cada dois anos é promovido no município de Angra dos Reis um exercício de evacuação para treinar agentes que atuariam diante de risco de liberação de material radioativo e voluntários que vivem nas redondezas das usinas Angra 1 e 2, em operação desde 1985 e 2001, respectivamente. “O órgão regulador determina a remoção preventiva da população em um raio de no máximo 5 quilômetros, caso seja constatada a possibilidade de vazamento. Estudos apontam que não haveria chance de contaminação após esse limite territorial no pior dos cenários possíveis“, destaca.

As usinas de Angra dos Reis foram construídas com capacidade para suportar terremotos de até 7 graus e ondas com altura de 6 metros (Divulgação/Eletrobras)

Testes com sirenes avisando a população são feitos todo mês, rigorosamente às 10h da manhã. A população local é avisada por meio de sistemas sonoros de que se trata de testes. Para não assustar motoristas que desconhecem a região, faixas são colocadas nas estradas avisando sobre a atividade. O complexo nuclear brasileiro é referência em plano de emergência”, enfatiza o professor que contribuiu pessoalmente com diversos trabalhos científicos e acadêmicos para o sucesso do projeto nuclear brasileiro.

Foram elaborados e são testados anualmente por meios de exercícios simulados, os seguintes planos de emergência: 1. Plano de Emergência Local (PEL) da ELETRONUCLEAR; 2. Plano para Situações de Emergência (PSE) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); 3. Plano de Emergência Externo do Governo do Estado do Rio de Janeiro (PEE/RJ); 4. Plano de Emergência Municipal (PEM) da Prefeitura Municipal de Angra dos Reis; 5. Planos de Emergência Complementares (PEC) dos Órgãos de Apoio do Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON).

Professor João Pinheiro e o jornalista Daniel Mazola. A entrevista foi realizada no Literato Café Gourmet, localizado na Rua México, 104 – Centro, RJ (crédito: Iluska Lopes/TIL)

Por fim, o premiado membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre, professor João Pinheiro, lembra que a produção das duas usinas em operação hoje equivale a 40% do consumo de energia elétrica do Estado do Rio de Janeiro. E afirma:

“O tema nuclear inspira um profundo medo na sociedade, mas usinas como Angra 1 e Angra 2 foram projetadas e construídas com barreiras de proteção sucessivas e preparadas para oferecer um alto grau de proteção aos seus trabalhadores, à população residente nas suas vizinhanças e ao meio ambiente“.

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  4. Perfil completo do professor João de Deus Pinheiro Filho (fonte: CNPq)


DANIEL MAZOLA – Jornalista profissional (MTE 23.957/RJ); Editor-chefe do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Consultor de Imprensa da Revista Eletrônica OAB/RJ e do Centro de Documentação e Pesquisa da Seccional; Membro Titular do PEN Clube – única instituição internacional de escritores e jornalistas no Brasil; Pós-graduado, especializado em Jornalismo Sindical; Apresentador do programa TRIBUNA NA TV (TVC-Rio); Ex-presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Conselheiro Efetivo da ABI (2004/2017); Foi Assessor de Imprensa da Federação Nacional dos Frentistas (Fenepospetro) e do Sindicato dos Frentistas do Rio de Janeiro (Sinpospetro-RJ); Vice-presidente de Divulgação do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (2010/2013); Editor do jornal FAFERJ (Federação das Associações de Favelas do Estado do RJ); Editor do jornal do SINTUFF (Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal Fluminense-UFF); Editor do jornal Folha do Centro (RJ); Editor do jornal Ouvidor Datasul (gestão empresarial e tecnologia da informação); Subeditor de política do jornal O POVO, Repórter do jornal Brasil de Fato; Radialista e produtor na Rádio Bandeirantes AM1360 (RJ).