Por Luiz Carlos Prestes Filho –
Para o ex-presidente do Flamengo, administrador de empresas, que trabalhou 36 anos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES): “O Rio precisa de gestão profissional, com transparência e equipes capacitadas para lidar com cada tipo de problema. A gestão pública precisa se modernizar. Guardadas as devidas proporções, faremos o mesmo que fizemos ao assumir a presidência do Flamengo.” Candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro deseja:
Com profissionalismo e sem deixar de lado a paixão, fazer o que quase ninguém acredita: sanear as contas e levar o time às conquistas de hoje. É o que faremos com o Rio. Somos uma cidade privilegiada, com uma infraestrutura de transportes e logística já implementada, mas que precisa ser modernizada e mais bem aproveitada. Não adianta termos portos, aeroportos e estradas se não tivermos planejamento, organização e gestão. Precisamos fazer parcerias e atuar com profissionalismo.
Luiz Carlos Prestes Filho: Como o candidato vê a cidade do Rio de Janeiro no atual contexto do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil?
Eduardo Bandeira de Mello: O Rio perdeu a maior oportunidade de se tornar uma das metrópoles mais bem vistas e conceituadas do mundo quando sediou, num curto espaço de tempo, uma Copa do Mundo e uma Olimpíada. Aquele era o nosso momento, a hora de nos consolidarmos em definitivo como um dos maiores destinos turísticos e econômicos do planeta. Isso sem falar no legado que todos os equipamentos poderiam deixar. Mas não foi o que aconteceu. Esses dois grandes eventos passaram e o que vemos hoje é um abandono geral e a descontinuidade de projetos importantes. Mas com seriedade, bons projetos, boas equipes e capacidade de gestão, podemos fazer do Rio uma referência mundial em termos de cidade turística e sustentável, dois requisitos básicos para qualquer cidade que queira se desenvolver verdadeiramente e ser atrativa para investimentos nacionais e internacionais.
Prestes Filho: O que permite o Rio de Janeiro se destacar? Como cidade da indústria? Como cidade de serviços? Como centro da região metropolitana?
Bandeira de Mello: Temos capacidade de nos destacar nesses três aspectos e em outros mais. Nossa localização e infraestrutura são estratégicas para a implementação de parques industriais, áreas de armazenamento e logística, investindo em regiões que precisam de mais atenção. Temos, também, diversos perfis de consumidores com demandas de serviços dos mais variados e somos um ponto estratégico de desenvolvimento para toda a Região Metropolitana. Temos uma área portuária que está entre as mais importantes da América Latina, um sistema de rodovias que nos liga a todo o país e instituições capazes de apoiar, inclusive, o desenvolvimento de municípios vizinhos, o que também nos beneficia. O Rio é um gigante adormecido, que precisa acordar. Nós seremos o despertador dessa cidade.
Prestes Filho: As políticas de Meio Ambiente devem orientar as políticas de Turismo, Cultura e Desenvolvimento Econômico?
Bandeira de Mello: Não há como separar o Meio Ambiente dos demais setores e potencialidades do Rio. Nossa cidade tem, como vocação, a exploração sustentável da natureza. Quem já sobrevoou o Rio em direção ao Aeroporto Santos Dummont sabe o que é olhar essa cidade do alto. Num mesmo cenário, vemos praia, rio, lagoa, montanha e floresta. Qual cidade no mundo tem isso à disposição da população e dos turistas? O turismo é um ativo econômico fabuloso, e a preservação do meio ambiente, além de ser uma necessidade por si só, também é uma ação estratégica para a atração de pessoas, trabalho e investimentos. A trilha TransCarioca tem 180 quilômetros, atravessa 50 comunidades. Precisa ser preservada e se tornar fonte de trabalho para os jovens dessas comunidades. É a maior trilha urbana da América Latina. Hoje em dia, cada vez mais empresas e consumidores se preocupam em saber se, para onde elas estão indo, a natureza é respeitada e as coisas acontecem de maneira sustentável. Temos todas as ferramentas à mão para fazer com que nossa cidade seja referência em preservação. Mas, não será um trabalho fácil. Foram décadas de descaso e falta de cuidado. Mas Temos como reagir e vamos reagir.
Prestes Filho: Deveriam ser realizados investimentos para consolidar a vocação do Rio no campo da ciência, da tecnologia e da inovação? O poder municipal poderia colaborar para fortalecer as universidades e os centros de pesquisas científicas?
Bandeira de Mello: O Rio é uma cidade privilegiada. Por seu contexto histórico, por já ter sido capital federal e também uma cidade-Estado, temos aqui diversas instituições públicas importantíssimas nos campos da ciência, da pesquisa e da inovação. Cabe à Prefeitura aproveitar essa oportunidade que poucos municípios têm no Brasil. Nessa época de pandemia, por exemplo, temos a Fundação Oswaldo Cruz, modelo de pesquisa e desenvolvimento de pesquisas e prevenção de doenças. Temos, ainda, a UFRJ, que tem avançado no desenvolvimento de produtos e de equipamentos hospitalares mais baratos e eficientes. Faremos convênios com instituições públicas e privadas que puderem colaborar nos mais diversos quesitos. No caso das instituições públicas, não importa se é municipal, estadual ou federal. São todas cariocas, estão no nosso quintal, muito próximas de nós. Vamos fazer dessa proximidade uma estratégia de crescimento e de apoio às políticas públicas.
Prestes Filho: As políticas de controle da ocupação do território da cidade estão adequadas e atualizadas? Quais impedimentos ainda existem do seu ponto de vista fundiário?
Bandeira de Mello: O Rio só ganhou seu primeiro Plano Diretor Municipal em 1992. O segundo foi aprovado em 2011, estabelecendo diretrizes para a política de desenvolvimento urbano e instrumentos para implantá-las. Muitas dessas políticas não foram implantadas. O Estatuto da Cidade impõe uma revisão do tema, o que também não foi feito. Depois de mais de 30 anos de previsão na Lei Orgânica Municipal, não foi implantado o Relatório de Impacto de Vizinhança, que permitiria a melhoria de qualidade de vida em cada bairro. Também não foram instrumentalizadas medidas importantes como a Outorga Onerosa do Direito de Construir, que traria recursos financeiros significativos para investirmos em áreas menos favorecidas. Para piorar, o Plano Diretor não foi adaptado ao código de fiscalização e ao código de meio ambiente. Enfim, vemos um total descaso e abandono nessa questão. Na Prefeitura, irei reconstruir o urbanismo participativo, especialmente através dos Conselhos, vamos revisar o Plano Diretor e valorizar a participação do Instituto Pereira Passos, que detém valiosa base cartográfica e de dados da cidade. Também iremos dar continuidade ao Programa Morar Carioca, com diagnósticos mais atualizados, fazendo a revisão de sua metodologia e avaliação de resultados. Estabeleceremos, ainda, um desenho administrativo identificando todas as regiões nas quais há uma necessária interação operacional da área de urbanismo com outros setores, com canais obrigatórios de informações e diálogos para tomadas de decisões.
Prestes Filho: A política municipal apresenta novos desafios para os próximos anos? Quais serão as prioridades do seu governo? Temos um porto, dois aeroportos e rodovias que nos ligam a todo o país. Essa infraestrutura deveria ser mais potencializada pela prefeitura?
Bandeira de Mello: O Rio precisa de gestão profissional, com transparência e equipes capacitadas para lidar com cada tipo de problema. A gestão pública precisa se modernizar. Guardadas as devidas proporções, faremos o mesmo que fizemos ao assumir a presidência do Flamengo. Na época, em 2013, encontramos um clube com 40 milhões de torcedores que se encontrava no século 19 em termos de administração. Com profissionalismo e sem deixar de lado a paixão, conseguimos fazer o que quase ninguém acreditava: sanear as contas e levar o time às conquistas de hoje. É o que faremos com o Rio. Como já disse, somos uma cidade privilegiada, com uma infraestrutura de transportes e logística já implementada, mas que precisa ser modernizada e mais bem aproveitada. Não adianta termos portos, aeroportos e estradas se não tivermos planejamento, organização e gestão. Precisamos fazer parcerias e atuar com profissionalismo.
Prestes Filho: Quais são as Vossas propostas para Saúde Pública? A prefeitura estava preparada para enfrentar a pandemia da Covid 19?
Bandeira de Mello: Vamos focar nossos esforços e investimentos na prevenção em duas frentes: retomar o nível de atendimento das Clínicas da Família, a saúde primária, e investir no saneamento básico. Meu plano de governo prevê a criação de um fundo com recursos provenientes de outorgas e da iniciativa privada para projetos de saneamento básico em favelas e nas periferias. Quando o investimento é focado na prevenção, diminui a necessidade de cirurgias, de internações em UTI e outros procedimentos caros. É fundamental investir na saúde básica para este cenário de pandemia e de dificuldades econômicas da Prefeitura. Também investiremos na digitalização e na integração das informações disponíveis sobre o paciente nas diferentes unidades para evitar que o doente que já está numa situação difícil tenha que fazer uma peregrinação em porta do hospital. Em relação à pandemia, foi uma tragédia, se fossemos um país, a cidade do Rio lideraria o ranking de mortes por cem mil habitantes. Agora, temos de olhar para frente e ter um plano muito cuidadoso para garantir a vacinação. Temos que trabalhar em conjunto com a Fiocruz e a UFRJ, que mostraram porque são instituições imprescindíveis e importantes para o Rio, desenvolveram testes rápidos e respiradores a custos mais baixos, estão atuando na linha de frente.
Prestes Filho: No campo da Educação existem resultados positivos nos últimos anos?
Bandeira de Mello: Precisamos avançar muito ainda neste campo. Minha vice, a Andrea Gouvêa Vieira, milita nesta área desde os tempos da Câmara de Vereadores. Não podemos nos acostumar com a situação do pai que fica na fila para uma vaga na creche e no fim das contas descobre que não tem vaga. Das 300 mil crianças de zero a três anos, menos de ⅓ são atendidas pelas creches municipais ou conveniadas. Pelos menos para aquelas famílias que estão inscritas no Cadastro Único vou garantir tenham vaga para os filhos. Vamos assegurar ainda que todas as crianças cheguem ao fim do primeiro ano do Ensino Fundamental sabendo ler e escrever através de um programa que vai incentivar os professores alfabetizadores. Temos como meta garantir ensino integral a 60% dos alunos da rede, o que praticamente vai dobrar a cobertura que temos hoje. Vai exigir um enorme esforço orçamentário e de gestão, mas esta é uma dívida que a cidade tem com gerações de cariocas.
Prestes Filho: Hoje os gestores públicos realizam programas para a Melhor Idade; para a Mulher; para os afrodescendentes, indígenas e outras etnias; LGBTs. Temos que melhorar as políticas públicas nestas áreas importantes?
Bandeira de Mello:
Sem dúvidas. As minorias são muitas vezes estigmatizadas e enfrentam desafios bem maiores que outros segmentos, seja no mercado de trabalho e no cotidiano. Temos visto um crescimento dos casos de agressão a gays e a mulheres, de intolerância religiosa, que são inaceitáveis. Precisamos ter políticas públicas para as minorias.
Prestes Filho: O Esporte ocupa um espaço estruturante na prefeitura hoje? A juventude poderia ser mais beneficiada? Os jogos Olímpicos e a Copa de Futebol deixaram um legado que poderia ser mais bem usado?
Bandeira de Mello: O carioca estava na expectativa que a cidade ia bombar, que viveria um ciclo de prosperidade depois que passasse a Copa do Mundo e, principalmente, a Olimpíada, mas aconteceu o contrário. Foi um festival de desperdício de dinheiro público. Você veja o caso, por exemplo, do Complexo Esportivo de Deodoro. Custou R$ 660 milhões, dos quais R$ 120 milhões teriam sido para retirada de entulho, mas, segundo o Ministério Público, não se retirou nenhum entulho de lá. E o ex-prefeito Eduardo Paes é réu na justiça por direcionamento de licitação em Deodoro. A despoluição das Lagoas de Jacarepaguá, uma das promessas olímpicas, é um escândalo de dimensões equivalentes ao da despoluição da Baía de Guanabara porque investiu-se mais de meio bilhão de reais e a situação segue inalterada. O BRT era para ser um legado, mas vai perguntar para o passageiro que se sacrifica e se arrisca todos os dias para saber o que eles acham desse legado. Fica bem difícil falar em legado.
Prestes Filho: A parceria com a iniciativa privada é prioridade? Como o gestor público pode colaborar para com a valorização das marcas e das empresas do Rio nas áreas: metal mecânico; computação; comércio; química; turismo; produção rural; transporte; serviços culturais; outras? O carnaval merece maior atenção?
Bandeira de Mello: As parcerias com a iniciativa privada são necessárias para recuperar a atividade econômica. É claro que precisam ser fiscalizadas, cumprir metas, pautadas pela transparência e pela integridade, ingredientes que têm andado em falta na política carioca. O novo marco regulatório do saneamento básico prevê a possibilidade de criação de fundos com recursos privados para viabilizar obras de infraestrutura. Vamos reativar a agência de negócios da cidade que vai dar todo o suporte ao empresário e ao empreendedor interessado em investir no Rio, especialmente aqueles que atuam em áreas que são a vocação do Rio como a biomedicina, as energias renováveis, o petróleo e o turismo. Tudo isso será acompanhado de uma campanha para valorizar a marca Rio como símbolo de inovação e da capacidade criativa.
Prestes Filho: Sua família sempre teve tradição na política? Conte sobre seu pai e sua mãe, sobre sua família.
Bandeira de Mello: Meu pai foi engenheiro, funcionário de carreira que chegou à presidência da Superintendência de Urbanização e Saneamento do Estado da Guanabara (Sursan), a pessoa na qual me espelhei em relação aos princípios e valores. Meu avô foi fiscal de rendas do antigo Estado do Rio de Janeiro, morava no Grajaú e trabalhava em Niterói e a minha avó foi professora da rede pública. Minha mãe, baiana, se formou em música, mas nunca exerceu a licenciatura e o pai dela, baiano também, era empreendedor, teve uma pequena construtora, de vez em quando quebrava, mas sempre se reerguia.
Prestes Filho: Como você iniciou na política? Como você vê o seu futuro?
Bandeira de Mello: Estou entrando um pouco tarde para a política, não fiz dela uma profissão como se tornou comum no Brasil. Acredito que tenho uma grande contribuição a oferecer à minha cidade, colocando em prática o que aprendi no BNDES, onde fui servidor concursado. Foram 36 anos de muito aprendizado, chefiei o Departamento de Meio Ambiente e do Programa de Modernização da Administração Tributária, que beneficiou centenas de municípios em todo o Brasil. A ideia da minha candidatura à Prefeitura do Rio foi do ex-deputado Miro Teixeira. O convite dele foi praticamente uma convocação e topei porque meu nome apareceu bem colocado numa sondagem feita no fim de 2019. Fiquei sabendo desse resultado quando estava embarcando para assistir o Flamengo na final do Mundial Interclubes.
Prestes Filho: Você entende que o instituto constitucional das eleições é a base da democracia? A democracia é o sistema político que deve ser protegido e fortalecido?
Bandeira de Mello: Com certeza, as eleições são o ápice da democracia, mas a cidadania deve ser exercida diariamente e no exercício do poder público. Incentivar a participação da população e da sociedade civil na gestão dos espaços públicos e na elaboração das políticas públicas são os meios de fortalecer a democracia.
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
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