Por Pedro do Coutto

O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, continua aguardando uma resposta do treinador Carlos Ancelotti do Real Madrid para saber se ele aceita ou não ser o técnico da seleção brasileira na Copa de 2026. Uma boa matéria de Diogo Dantas, O Globo desta quarta-feira, focaliza o tema e acentua que Ancelotti só pode responder no início de 2024, quando termina o seu contrato com o Real Madrid. Neste, ele recebe US$ 11 milhões por ano. Claro, a CBF tem que apresentar uma proposta de, pelo menos, igual valor.

Mas o problema não é apenas este. É que a insistência de Ednaldo Rodrigues está, sem dúvida, valorizando de forma destacada o técnico italiano e, como reflexo, subestimando tacitamente o futebol brasileiro na medida em que coloca o destino da seleção de ouro na dependência de Ancelotti aceitar a tarefa.

DEPENDÊNCIA – O futebol brasileiro perde com isso. Os treinadores de nosso país também. Mas o mais importante na minha impressão é que nenhum time pode depender de um só homem por mais genial que seja ou de um treinador de reconhecida competência para se afirmar. E se viesse a depender de um só figurante, não seria o futebol brasileiro.

Repito aqui um artigo magistral de Achiles Chirol em 1962, no Correio da Manhã, quando, na Copa do Chile, Pelé distendeu um músculo da perna esquerda no jogo de estreia contra a Tchecoslováquia. “Sem Pelé”, era o título do artigo. Nele, Achilles Chirol que já não  se encontra mais entre nós, sustentou que se para vencer a seleção dependesse de um só homem, por mais genial que fosse, não seria o futebol brasileiro.

PARADIGMA – O exemplo de 1962 deve servir como paradigma para um panorama em 2023, pois julgar as eliminatórias com um treinador e depois, no caso de Ancelotti aceitar, com outro, é uma decisão muito negativa. Francamente, na minha opinião, Ednaldo Rodrigues e a Diretoria da CBF devem esquecer Ancelotti. A qualidade do futebol brasileiro, único pentacampeão do mundo, está muito acima do brilho ou da qualidade dos técnicos que se consagram nas equipes da Europa. Atuamos muito mais contra o Senegal e fomos derrotados.

O sistema defensivo fracassou e abriu espaço demais para a equipe africana. Mas no futebol acontecem coisas assim. Vamos em frente e nos inspirar nas cinco taças do mundo conquistadas, não demonstrando temor, aspecto que atingiu Tite nos mundiais de 2018 e 2022. No ano passado, Tite fez substituições extremamente negativas contra a Croácia, demonstrando uma sensação de insegurança sem motivo. Vamos com um novo treinador para 2026, que se sinta seguro à frente da seleção brasileira.

DIREITA SEM BOLSONARO – Em artigo publicado ontem na edição de O Globo, Bernardo Mello Franco coloca uma questão que ainda não foi bem avaliada, mas começa a ser a respeito de qual será a posição da direita com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. O julgamento do ex-presidente da República começa hoje no Tribunal Superior Eleitoral. Não parece haver dúvida que será declarado inelegível, sobretudo em função da palestra que fez para os embaixadores de países estrangeiros, criticando o sistema eleitoral do Brasil.

Mas há outros processos contra Bolsonaro. Acusações não faltam, ainda mais agora com a tradução dos textos encontrados no celular do seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid que se ajustam com o projeto de decreto do ex-ministro Anderson Torres. A direita terá que buscar um outro candidato, levando-se em conta que a situação de 2026 será ao menos semelhante a de hoje no Brasil. O problema é que a direita não é um bloco sólido. Ela é o resultado do posicionamento de extremistas ao lado de apenas conservadores.

PRESSÃO – Vai daí que os exacerbados deverão pressionar por um candidato que reflita os impulsos que na verdade levaram à invasão de Brasília e as depredações que marcaram o 8 de janeiro, e que ficará na história como um dos maiores atentados à liberdade e à democracia no Brasil.

Um panorama bem parecido ao do Partido Republicano nos Estados Unidos no qual Donald Trump tem maioria de 61% para ser escolhido candidato. Mas, 61% representa uma divisão partidária muito acentuada. Numa interpretação clara, há uma fragmentação entre os republicanos que levam à dúvida de como será nas urnas o comportamento dos que estão contra o ex-presidente do país. Votarão em branco, vão se abster e qual a fração que poderá votar em Joe Biden? São questões vitais para Trump.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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