Por Jeferson Miola

O PL, Partido do Bolsonaro, agiu de modo no mínimo dual em relação ao TSE e ao sistema eleitoral brasileiro.

Em um ato, o presidente partidário Valdemar Costa Neto participou de visita institucional à sala de totalização dos votos do TSE. Ao final do evento, reconheceu a transparência do sistema do TSE.

Contrariando o delírio do Bolsonaro e dos generais, o presidente do PL assumiu publicamente que não existe a fantasiosa “sala secreta”.

Em outro ato, o PL divulgou relatório em que a consultoria contratada pelo Partido sustenta que as urnas eletrônicas não são confiáveis e que o sistema de apuração e totalização dos votos do TSE é suscetível a fraudes.

O resumo do relatório da consultoria foi apresentado como um “texto apócrifo” [sic], embora tenha sido divulgado em papel timbrado do PL.

O Partido intencionalmente alimenta suspense sobre a autoria e responsabilidade pelo documento, apesar do mesmo ter sido encomendado aos diretores do Instituto Voto Legal, que são notórios bolsonaristas.

Contratados pelo PL, eles receberam 215 mil reais do fundo eleitoral para fabricarem a versão farsesca a respeito do sistema de votação brasileiro. Um trabalho ilegal e golpista financiado, portanto, com dinheiro público para atentar contra as regras da democracia.

A reação do TSE foi contundente e direta. Em nota, o Tribunal denunciou que as conclusões da auditoria do PL “são falsas e mentirosas, sem nenhum amparo na realidade, reunindo informações fraudulentas e atentatórias ao Estado Democrático de Direito e ao Poder Judiciário, em especial à Justiça Eleitoral, em clara tentativa de embaraçar e tumultuar o curso natural do processo eleitoral”.

O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, incluiu o relatório no inquérito das fake news, por considerá-lo uma peça falsa e mentirosa. Moraes também pediu a “apuração de responsabilidade do Partido Liberal e seus dirigentes, em eventual desvio de finalidade na utilização de recursos do Fundo Partidário”.

A dura reação de Moraes foi uma resposta sob medida ao ataque do PL à soberania popular, pois ao mesmo tempo em que o PL se mascara como um partido legalista e fiel às Leis, também arreganha sua contraface conspirativa.

O PL repete o jogo sujo do Bolsonaro sobre as urnas e o TSE, e por isso se revela um partido tão incompatível com a democracia como seu candidato à Presidência da República.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

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