Por Pedro do Coutto –

O jantar promovido por empresários do grupo Esfera Brasil em São Paulo, na noite de terça-feira – reportagem de Ivan Martinez-Vargas, O Globo de ontem -, sem dúvida alguma, veio confirmar a força eleitoral do ex-presidente Lula da Silva voltada para as urnas de 2 de outubro.

A participação de proprietários e dirigentes de grandes empresas funcionou também para confirmar o trânsito favorável de Lula junto às forças atuantes do capitalismo brasileiro. Lula somou esses apoios ao manifestado por mensagem gravada pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e acrescentou também manifestações de artistas e lives para as redes sociais da internet em apoio ao seu nome nas eleições de domingo.

FAVORITISMO – Na reta de chegada, o apoio ao ex-presidente, na minha opinião, assume um caráter decisivo para a sua vitória e vem confirmar o amplo favoritismo de Lula nas urnas democráticas. Entre os empresários, participaram vários nomes que não são membros do Esfera, grupo criado por João Carlos Camargo, entre eles o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva; Daniel Feffer, vice-presidente do Conselho de Administração da Suzano; e o economista Gabriel Gallipoli.

O encontro foi realizado na casa de Camargo, no bairro do Morumbi, na Zona Oeste de São Paulo. Todos os 43 atuais membros do Esfera Brasil confirmaram presença, mais do que os encontros organizados pelo grupo em agosto com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Participaram do encontro, inclusive, empresários próximos do governo Bolsonaro, como Flávio Rocha, da Riachuelo; Michael Klein, da Via (controladora das Casas Bahia); e o publicitário Roberto Justus, além do investidor Abílio Diniz, do Carrefour; e de Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da Cosan. O quadro que eu tracei ontem sobre a ação final de Lula na reta de chegada revela-se confirmado.

VANTAGEM – Lula, inclusive, matéria de Luã Marinatto, O Globo, ampliou a sua vantagem em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, segundo pesquisa do Ipec,  concluída na noite de terça-feira e comentada pelo programa de Natuza Nery na GloboNews. Participaram do programa Míriam Leitão, Ana Flor, Gerson Camarotti, Otávio Guedes e Fernando Gabeira.

O excelente repórter Nilson Clava abordou um tema bastante importante: a investida da campanha de Bolsonaro voltada para aumentar a rejeição de Lula atribuindo-lhe imagem negativa. Ocorre que a campanha eleitoral tem que se basear em mensagens positivas de esperança aos eleitores e eleitoras. Não adianta atacar o adversário. Quem fizer isso pode até retirar-lhe alguns votos, mas não os acrescenta para si.

A grande maioria do eleitorado brasileiro que reúne os segmentos de até três salários mínimos não é sensível à ataques desse tipo que tiveram a sua origem nas campanhas de Carlos Lacerda, tanto para deputado federal em 1954, quanto para governador em 1960 na Guanabara, e na campanha para derrubada de Jango Goulart em 1964.

DADO HISTÓRICO  – Mas, eis um dado histórico: embora tenha sido o líder do movimento, sua candidatura em 1965 foi vetada pela própria ditadura militar e com ela rompeu naquele mesmo ano. No AI-5, em dezembro de 1968, foi cassado e preso no QG da PM no Centro do Rio.

As campanhas eleitorais têm que transportar mensagens construtivas. Destruir por destruir não melhora a vida de ninguém. Uma questão de esperança.

DEFLAÇÃO – Como era esperado, e eu com a bola de cristal antecipei, o IBGE encontrou também, além de nos meses de julho e agosto, agora uma deflação de 0,37% em setembro. É falso. Com isso, o IBGE encontrou uma inflação de apenas 8% nos últimos 12 meses, desprezando os efeitos que ela causou ao longo do tempo antes do milagre deflacionário.

Ocorre que a deflação só poderia ser verificada de fato se atingisse o mês de julho de 2021 com base no cálculo do Instituto. Mas não. O IBGE – reportagem de Leonardo Vieceli, Folha e S. Paulo, lança os dados de setembro sobre agosto, e os de agosto sobre os de julho, desprezando o acumulado de janeiro a julho deste ano.  Assim é fácil.

Fabrica-se uma deflação na tentativa vã de somar votos para o governo. Mas quem vai aos supermercados diariamente, como quase todas as famílias brasileiras, constata que o cenário é outro.

PAUTA SOCIAL –  No jantar de terça-feira com os empresários, destacou Valdo Cruz na manhã de ontem na GloboNews, Lula afirmou que retomará a pauta social do país, preenchendo assim uma grande lacuna do governo Jair Bolsonaro, na minha opinião, decorrente do plano de Paulo Guedes que ignora tanto a extrema carência quanto a pobreza e é adepto da mão de tigre do mercado financeiro.

Os cortes de programas sociais comprovam uma ideologia longe das necessidades do povo brasileiro. No caso do empréstimo consignado sobre o Auxilio Brasil, basta acrescentar: como as pessoas que receberão R$ 600 por mês, pagarão juros de 3,5% a cada trinta dias no valor do crédito?

Pedro do Coutto é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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