Por Amirah Sharif –

Direito dos Animais.

Li recentemente que cientistas descobriram que o SARS-CoV-2, o vírus da Covid-19, está se espalhando entre animais silvestres como o tamanduá-bandeira, o peixe-boi marinho e uma espécie de macaco do Cerrado e da Amazônia. A infecção de animais dessas três espécies no Brasil revela de uma forma assustadora, a meu ver, que o coronavírus chegou em espécies selvagens sem contato próximo com o ser humano.

Descoberta da infecção

Uma nova realidade da pandemia no Brasil: animais selvagens infectados com coronavírus – Moreno Pet Blog

As infecções no tamanduá-bandeira e no macaco foram identificadas por um acaso, quando a equipe da professora Valeria Dutra, do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso, foi atender um macaco sagui-de-cauda-preta e um tamanduá, ambos atropelados na região de Cuiabá. A infecção pelo Sars-CoV-2 foi detectada pelo teste RT-PCR, que se tornou uma rotina para os animais atendidos naquele hospital veterinário. Esses animais acabaram morrendo em função das lesões sofridas pelo atropelamento, não pela doença Covid-19.

E os peixes-boi?

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A infecção nos peixes-boi foi constatada em animais monitorados pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos do ICMBio, na ilha de Itamaracá, em Pernambuco. Apenas dois positivaram para o Sars-CoV-2 no exame de RT-PCR, mas nenhum deles apresentou sintoma.

E cães e gatos?

Alexander Biondo, professor titular de zoonoses do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi o cientista pioneiro na identificação de pets infectados pelo Sars-CoV-2 no Brasil. Ele liderou o PetCovid-19, o maior estudo já realizado no país para investigar a doença em cães e gatos e seus desdobramentos para a saúde humana.

Cães e gatos podem ser infectados por meio do contato com o tutor, explicou o professor Biondo. “Nosso estudo na UFPR mostrou que cerca de 15% dos animais que tiveram contato com um tutor positivo foram infectados. Mas não há qualquer evidência de transmissão de cães e gatos para humanos. E tampouco casos de morte desses animais no Brasil e somente alguns relatos não confirmados no mundo. Sabemos, porém, que os cães parecem ser ainda mais resistentes do que os gatos.”

Espécies mais vulneráveis

As espécies mais vulneráveis, segundo Alexander Biondo parecem ser os mustelídeos, grupo que inclui lontras, ariranhas (foto abaixo), iraras, furões e o vison. Eles não apenas contraem o vírus quanto podem morrer de Covid-19. Há fortes indícios de que os veados-de-cauda-branca, comuns nos EUA, contraem com facilidade o vírus, centenas testaram positivo, porém, não adoecem e sequer há evidência de que possam transmitir.

Estudo revela repertório vocal das ariranhas - ((o))eco

Nos Estados Unidos

Hon Ip, do Serviço Geológico dos Estados Unidos , em Wisconsin e seus colegas testaram animais que encontraram ao redor de uma fazenda de visons, que foi o local de um surto em Utah e descobriram que gambás, ratos e outros animais eram suscetíveis a uma variedade de coronavírus.

Suresh Kuchipudi, do Laboratório de Diagnóstico Animal da Universidade Estadual da Pensilvânia e colegas conduziram estudo depois que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos publicou uma pesquisa em que 40% dos veados-de-cauda-branca (foto abaixo) testados em quatro estados tinham anticorpos contra o Sars-CoV-2, o que evidencia que eles foram alguma vez infectados.

Veados-de-cauda-branca nos EUA são infectados por 3 variantes do Sars-CoV-2 - Revista Galileu | Biologia

Segundo Ip e Kuchipudi , os humanos são a principal fonte de propagação do vírus. Se a Covid-19 originalmente veio de morcegos, os humanos são as espécies que o amplificaram e o espalharam.

O que fazer?

O bom senso diz que, enquanto houver seres humanos suscetíveis, daremos oportunidades para que o vírus circule e mude, então é necessário vacinar o maior número de pessoas para que possamos pelos menos minimizar a transmissão entre os seres humanos.

Cachorros e gatos não podem transmitir Covid-19 aos humanos - A Lavoura

Em primeiro lugar, é importante esclarecer que não existe saúde humana sem saúde animal. Em segundo, que não existe o bem-estar individual, se não pensarmos primeiro no bem-estar coletivo englobando tudo e todos, animais humanos e animais não humanos. E, finalmente, precisamos entender que a pandemia ainda não terminou e que o brado de D’Artagnan e de seus companheiros , o do um por todos e de todos por um ainda é muito atual.

Pratiquemos, então!

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AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br


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