Por Ricardo Cravo Albin –
“O realismo compulsório do momento não exclui um imaginário singular; a tragédia humanitária exige e apura o olhar o outro.” (Margareth Dalcolmo- Trecho de seu prefácio no livro Pandemia e Pandemônio)
Ia abordar hoje, e já pela segunda vez, o sucesso da instalação da novidade cultural deste final de ano, a criação da Academia Brasileira de Cultura, a ABC da Cesgranrio, inaugurada pelo agilíssimo Carlos Alberto Serpa. E que já está apelidada de “O abecedário da cultura de A a Z”, ou seja, abrangendo toda uma diversidade do fazimento cultural, o mais amplo e sem preconceito possível. Acolhimento e inclusão que o novo presidente da Academia Brasileira de Letras, o cientista político e escritor Merval Pereira, também anunciaria como intenção futura para a ABL ao ser eleito há dias, orgulhando-se com toda razão das eleições recentíssimas de Fernanda Montenegro, Gilberto Gil, Paulo Niemeyer ou José Paulo Cavalcanti.
Minha sábia e carola bisavó martelava uma frase a exprimir verdades, fossem pequenas ou grandes: “o homem põe, Deus dispõe…”. De fato, os jornalistas que escrevemos sobre as urgências da atualidade nesses tempos priorizados pela pandemia não devemos mesmo jogar para escanteio o horror que impede agora o término da Grande Peste, a variante ômicron, cepa que apregoa uma conclusão óbvia, já antecipada por todos cientistas: a solução final da pandemia estará na vacinação total do planeta, o que vale dizer sem meias palavras, ricos e pobres, pretos e brancos. Ainda que cerca de oito bilhões de doses tenham sido aplicadas pelo mundo e que 43% da humanidade já completaram o ciclo da vacinação, a trágica observação apregoada é uma única: a imunização cai a menos de 3% nos países pobres. O resultado abre-se aos nossos olhos assustados: países enormes como a África do Sul com apenas 24% de vacinados se tornam barreiras intransponíveis para o desejado término da pandemia.
Segundo a OMS declarou em nota veemente, países não vacinados convenientemente serão terrenos férteis para o surgimento de novas e desconhecidas variantes ou cepas mais contagiosas, talvez até mais letais, driblando (o pior) a imunidade já fixada até em populações quase 100% imunizadas. Todos nos lembramos do consórcio Covax, criado pela OMS para os países pobres. A projeção inicial era aplicar 2 bilhões de doses na África até o final do ano.
Pasmem: até semana passada as doses não chegavam a 550 milhões. Portanto, não é mesmo surpresa que a ômicron esteja sendo o fantasma da vez, ainda desconhecida no essencial, ou seja, driblar a imunidade das vacinas aplicadas a duras penas no mundo até agora.
Os efeitos imediatos já se fizeram sentir. O prefeito Eduardo Paes acaba de cancelar o réveillon de Copacabana, respeitando (como de fato deveria ser obrigatório) o comitê científico estadual. A atitude sensata do Prefeito do Rio agregou outra consideração muitíssimo prudente, a de tomar posições sempre mais restritivas quando houvesse quaisquer diferenças de opiniões. Ou seja, fechar mais, abrir menos.
Intuo eu – com muito pesar – que não haverá carnaval. Ao menos, posso deduzir que nosso Paes tenha abandonado uma frase infeliz dele, a de que “jamais poderia imaginar carnaval com máscara higiênica”. Dito e feito: pecou pela língua. Mas, vê-se agora, que se redimiu e volta a ser o político confiável em que a maioria votou, até por respeitar a saúde pública mesmo que custe qualquer tentação eleitoreira.
Como sempre, meus leitores são testemunhas, este cronista sempre se bateu pela máxima de que uma vida, uma que seja, não terá jamais preço. A saúde e a segurança antes da economia? Por certo. E fim de conversa. O decisivo é: diante das incertezas, a cautela será prioritária. Aliás, adverti isso no livro Pandemia e Pandemônio, lançado nesses dias pelas livrarias da Travessa, com recomendações de Margareth Dalcolmo, Nélida Piñon e Jerson Lima. O livro está sendo muito requisitado na Bienal do Livro, com a qual me congratulo de coração pela coragem em realiza-la.
Em meio à crise e tudo, o amor pelos livros, seus adeptos e seu mercado preponderaram.
P.S: Saúdo e recomendo o livro “Tempo para não esquecer”, da médica e escritora Margareth Dalcolmo, a ser lançado nesta quarta dia 8 de dezembro, na Travessa do Leblon, às 20:30 h.
RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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