Por Miranda Sá –
“Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.” (Machado de Assis)
Viciados no ópio cultural que é a leitura, assistimos em duas décadas a imprensa escrita decair por força do surgimento da Internet. São raras as pessoas hoje em dia que ainda compram os jornais diários e as revistas semanais e estas são de pequenas e médias cidades interessadas na política local…
Assim como o rádio subsiste com a televisão, resistindo às projeções de “especialistas” que deveria desaparecer, os jornais poderiam sobreviver com a web, enquanto plataforma de comunicação e informação.
Isto parece que não está ocorrendo, e o que reforça o fim das publicações impressas é a degenerescência da sua linguagem e do seu conteúdo. Joseph Pulitzer, editor que revolucionou os jornais com novas técnicas e criou o Prêmio Pulitzer para valorizar a profissão de jornalista, disse: – “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica formará um público tão vil como ela mesma”.
Com sua sublime filosofia humorística, o nosso Millôr Fernandes disse mais ou menos a mesma coisa: – “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data ”. Ó tempos, ó costumes…
É isto. “O tempo rodou num instante / Nas voltas do meu coração…”. Como jornalista apaixonado e atuante a 70 anos, quando me iniciei como amador e depois com o registro profissional, lamento muito esse deperecimento, talvez um pouco tarde lembrando que vi em cidadezinha do interior de Portugal uma antiga torre onde está escrito abaixo do relógio, uma advertência: “É mais tarde do que pensas”….
É inegável que o Tempo define a ideia de presente, passado e futuro relacionados a episódios circunstanciais que ocorrem, que ocorreram ou estão por ocorrer…. E que durante toda uma vida os eventos se sucedem alegrando-nos ou entristecendo-nos, mas sempre deixando experiências que nos enriquecem.
2.020 anos não é muito tempo, por exemplo, para lembrar uma passagem de Jesus Cristo na Terra. e o seu alerta: – “Guardai-vos dos falsos profetas que se apresentam disfarçados em cordeiros, mas por dentro são lobos vorazes…”; 2.020 anos foi pouco tempo para que os tolos aprendessem isto, pois, até os dias de hoje continuam a se iludir e venerar ilusionistas da religião e da política.
A palavra “Tempo”, dicionarizada, é um substantivo masculino originado do latim, “tempus”, significando estação do ano e momento”, que derivou do grego “témno”, “cortar em pedaços”, “dividir”. A semântica indo-europeia firmou no latim vulgar “temp-os, “esticado, estendido”, de uma raiz ten-, “esticar, alongar”.
Entretanto, a duração das coisas é condicional. Einstein, o genial criador da Teoria da Relatividade, observou que pelo tempo ser relativo e ligado à velocidade, a “diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma persistente ilusão”.
Seguindo o pensamento einsteiniano, perguntamos: – “será que os fatos ocorridos e que estão ocorrendo têm uma sequência presencial inarredável? ”. Parece que sim, pois assistimos no Brasil que a recusa da vacina oferecida pela Pfizer em agosto do ano passado recusada pelo negacionista Bolsonaro continua provocando mortes.
É a necropolítica empreendida por um psicótico que se mostra desarvorado, mantendo dois subministros da Saúde nos piores momentos da pandemia do novo coronavírus. E não fica apenas nesta irresponsável acumulação da ineficiência; há descuidos, conforme lemos na revista Crusoé que o segundo sub, Marcelo Queiroga, é réu numa ação penal por crime contra o patrimônio público.
Cito uma publicação, a Crusoé, cujas reportagens investigativas vêm dando muita dor de cabeça nos corruptos que se assumem como de direita ou de esquerda, porque, como o tempo é medido em horas, dias, meses e anos, tive alguns minutos para rever as críticas à imprensa de Pullitzer, Millôr e as minhas próprias.
Em respeito ao tempo, fecho este texto concluindo que a imprensa, mesmo decadente e ruim, “quando não fala, o povo é que não fala. Não se cala a imprensa. Cala-se o povo”, (William Blake).
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.
MAZOLA
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