Por José Macedo

Qualquer livro de história e de economia mostram-nos fatos e enredos que, ao longo do tempo, repetem-se, ora como “tragédia”, ora como farsa.

No Brasil, nos últimos anos, sobremodo, nos 2 últimos, ao que parece, acontecem episódios, já vividos, em outras épocas, que são repetições, a fome, o desemprego, o autoritarismo, a mentira, o genocídio, pandemia, tragédia e a farsa. Nesse diapasão, vale tudo, desde que seja pelo poder, ontem e hoje. O pior é que, as ameaças de autoritarismo, as mentiras, o genocídio, traduzidos em tragédia ocorrem sob o manto do burlesco e da farsa, adredemente, premeditado para enganar. O resultado dessa farsa ê a destruição.

Por esses lamentáveis episódios, a próxima geração será covarde, apática, violenta ou acreditará que a mentira, a farsa e o crime compensam. O futuro será incerto, como incerto foi para a geração das pós tragédias, das pós guerras e do nazifascismo. Para muitos incomoda dizer: vivemos um holocausto do século XXI. Falo, sobretudo do Brasil, falo das quase 540.000 mil mortes e agentes públicos lucrando, corrompendo-se com sobrepreços de medicamentos e de vacinas, enriquecendo-se, ilicitamente.

O atual governo, um farsante, fabrica repetidas tragédias, tenta transformar-se em palhaço, para alegrar, de modo torpe, em seu curral, habitado por uma tropa anestesiada, ignara e estúpida. Esse farsante foi eleito com mais de 67 milhões de brasileiros. Apesar dessa tragédia, apesar da rejeição pelo mundo afora possui uma legião de seguidores. Hoje, somos um país habitado por um significativo percentual de doentes, desiludidos; psicopatas e sadomasoquistas.

Esses episódios são encontrados e repetidos, no curso da história. Vejo que, mudou o invólucro, a forma, ficou o conteúdo, os resultados, perversos, mórbidos e cruéis. Desde o filósofo Hobbes, confirma-se: “o homem é lobo do outro”. “O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente, não há nada novo debaixo do sol” (Eclesiastes, 1:9). Porém, para nossa reflexão, trago a França de Luiz XVI e de Maria Antonieta, dos que viviam bajulando o Rei, usufruindo das benesses da Corte, enfatizando o clero ocioso, do mesmo modo, inútil e corrupto. Como contrapartida a igreja organizada ungia o rei, atribuindo o “poder divino”.

Os fatos ocorrem, repetem-se, embora com suas especificidades.

O presidente Bolsonaro é batizado por igreja pentecostal fundamentalista, no Rio Jordão, sob declaração de um pastor, de ser enviado por “deus”. Deus, existindo, os enviará para o mundo das pessoas más. Tenho o costume, a título de método ou instrumental de reflexões, episódios históricos, tecendo comentários, sejam breves ou não, datas e locais que possuem relevantes significados. É assim o que faço, também, neste momento. A queda da Bastilha, na Revolução Francesa, ocorreu, em 14/07/1789, velha prisão do Antigo Regime, símbolo do Absolutismo. Na época, estava no poder o Rei Luís XVI. A seus intoleráveis desmandos e descontroles, acrescentemos as arbitrariedades, incluindo as da Justiça, que eram amálgama e campo fértil para revolta.

Os ideais do Iluminismo estavam presentes e influenciaram seus formadores de opinião e líderes revolucionários. O povo não suportava mais manter uma corte ociosa e corrupta, além do Primeiro e do Segundo Estados, diga-se, clero e aristocracia. Essa prisão estava, praticamente, desativada, com apenas 7 prisioneiros, mas revestia-se de significativo símbolo, o da decadência do regime. O povo estava revoltado, em função da escassez de alimentos, em função dos privilégios e em função da cobrança de pesados impostos destinados para sustentar o luxo e ociosidade de uma minoria privilegiada, repita-se, representando apenas 2% da população. Esta data reveste-se ainda de significado, porque lembra a revolta popular, marco para mudanças políticas, incentivo e exemplo para o surgimento de uma nova Era, a dos Estados modernos. O absolutismo de Luís XVI estava em fase de vulnerabilidade e decadência, em virtude do que foi dito. A este resumo de incertezas somaram-se os efeitos da seca de 1785, a escassez de alimentos, gerando, carestia, fome e miséria.

A insatisfação popular e revolta decorreram desse contexto, quando, sobre os ombros de 98% da população, composta de burgueses, artesãos, comerciantes, dos mais pobres e camponeses, em crise, recaia o peso de sustentar o combalido Regime. Com a crise, Luís XVI convocou o Órgão Consultivo (os Estados Gerais), compostos por membros dos 3 Estamentos. O Terceiro Estado não concordou com a contagem dos votos na Assembleia Constituinte, o que a partir daí estourou a Revolução Francesa. Com o assassinato de Marat, amigo do povo, a situação saiu do controle. Esse episódio merece ser estudado, por que, dele, a humanidade herdou exemplo e influências para a constituição dos Estados modernos, que se seguiram, não olvidando os ideais consagrados, de liberdade, igualdade e fraternidade, a Declaração dos direitos do homem, fim da escravidão e .mudanças na Justiça. Além de tudo, nunca podemos esquecer de que as mudanças históricas têm sua origem na vontade popular, alimentada por ideais. São os idealistas, humanistas e abnegados, agentes das mudanças necessárias.

Esse cenário estava formado para um dos principais acontecimentos da humanidade, até hoje, uma referência.

No Brasil, estamos em caminho de incerteza e de horror, mas a esperança é a de que, mirando-me na história, atravessarmos esses precipícios, morbidez e o ódio cultivado por esse governo. Gosto da frase de Karl Marx, em epígrafe e título deste texto, datada, de 1852 (18 Brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx).

Para concluir, prossigo: Os homens são os agentes da produção de sua história, “Não fazem segundo sua livre vontade, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diariamente legadas e transmitidas pelo passado.

A tradição de todas as gerações mortas oprime como pesadelo” (18 Brumário Luís Bonaparte, Karl Marx). Ora, sendo os homens agentes produtores de nossa história, a esperança é a resistência e superação, episódios repetidos ou não, tragédias ou farsas. Acredito!

JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.


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