Por Sérgio Vieira –

Portugal / Europa – Séc. XXI.

Lembro nostalgicamente dos meus tempos de criança, quando saía para ir para a escola primária, ginásio ou científico (idos de 70/80), ou simplesmente vagueava pelas ruas da Vila Kosmos fazendo sempre algo não tão recomendável, minha mãe ficava literalmente às cegas quanto ao meu paradeiro ou destino, o que me acontecia, e os perigos que me cercavam, ora mais, ora menos intensos.

Não existia celulares, não havia meio de comunicação com quem quer que fosse a não ser pelos telefones domésticos (um luxo!) CTB ou CETEL. Ou então pelo popular orelhão levando um chá de espera, até o dissipar da fila que inevitavelmente se formava, e o desespero inquietante aquando de um utente mais demorado em sua chamada.

Bons tempos hein? Talvez. Hoje vivemos a era da comunicação global imediata e sem fronteiras.

Confesso que sou um negacionista quanto ao uso desmesurado das novas tecnologias. Não nego, que, escrever uma carta, endereçar o envelope, ir aos correios, selar a dita e ficar esperando não sei quantos dias para receber umas resposta não era nada confortável comparado com a rapidez meteórica de um e-mail, ou um WhatsApp, ferramentas hoje imprescindíveis para uma comunicação imediata independentemente donde as pessoas se encontrem. Aí sim, têm a minha aprovação e uso-as com frequência.

Mas em contraponto, sou avesso ao uso demasiado, viciante e escravizante de Facebook, Twitter, Instagram. Não possuo (que eu saiba) nenhuma destas ferramentas de comunicação. Sou demasiadamente recatado, tímido e ocupado para perder tempo com tais tecnologias e exposição do meu “eu” nestas redes.

Sou um utilizador assíduo do “professor” Google e confesso um telespectador diário do Youtube, donde tiro informações científicas, novidades políticas, músicas, e me ponho a par e de modo diferente do que as televisões muitas vezes tendenciosas nos emprenham. Já sou literalmente contra quem fica agarrado aos seguidores que têm aqui ou ali, nesta ou naquela rede social, numa disputa quase que fratricida pelo maior número de seguidores.

Levando mesmo à depressão quando este número de “acompanhantes” diminui face a este ou aquele comportamento pessoal e à reação imediata da turba que as seguem.

Embora saiba com certeza absoluta que a Anita, Cristiano Ronaldo, Messi, e outras tantas celebridades não respondem de próprio punho a este ou aquele posicionamento face a algum evento ou fofoca oriundo destas mesmas redes sociais e que os atingem sendo bons ou maus comentários. São devidamente filtrados por seus assessores e respondidos por eles, salvo algum comentário mais pessoal. Mas sei que apesar de estarem um pouco à margem do povão que os seguem, são verdadeiros escravos dos números, tirando, isso sim, lucros enormes das estatísticas destas mesmas redes sociais, porque por trás desse turbilhão de gente existem os patrocínios enormes deste ou daquele anunciante. Tudo bem, é um jogo de interesses e de influências, muitas das vezes, más. Mas sei que existem verdadeiros exércitos de influencers que se digladiam, brigam e têm verdadeiro ódio uns por outros, e não raramente com ódios e perseguições pessoais tudo isto exposto nas tais redes, contando com o apoio ou não dos seus fãs.

Se por um lado, as novas tecnologias vieram trazer mais rapidez nas comunicações, vieram através destas redes sociais devassar mais a vida das pessoas. Vieram expor fragilidades, pontos fracos, acirrar fofocas entre gente famosa e não só. Conheço gente de vida normal e pessoas de todas as classes que não vivem sem estas ferramentas. Pessoas estas, que parecem parar de respirar quando há falta de sinal de NET aqui ou ali, ou quando esquecem, perdem ou simplesmente não sabem aonde deixaram o seu celular. Isto é simplesmente doentio na minha visão.

Daí não saber se são anjos ou demônios estas modernices.

Fico na minha, com meus livros, minha natação, minha bicicleta etc… Acredito que as pessoas devem ser felizes face às suas escolhas. Se preferirem seguir as redes sociais umas boas horas por dia, ao invés de um bom livro, um bom filme, uma boa peça de teatro, ou um exercício físico…tudo bem, é democrático.

Aconselho apenas, que não se deixem levar muito pelas pseudoverdades que os celulares e as redes sociais contêm. Podem por vezes conter armadilhas e teias das quais pode ser extremamente difíceis delas nos desvencilharmo-nos.

PS. São exatamente 21h30 e o sol ainda não se pôs. Escrevo em pleno solstício de verão.

SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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