Por Miranda Sá –
Para se fazer um espelho, o fabricante usa duas camadas sob o vidro: uma de metal, que para valorizar a qualidade e melhor refletir a imagem, é preferencialmente de prata; e, para finalizar, entra uma camada fosca chamada de base.
Toda vez que assisto a dupla e frontal acusação feita sobre a ganância de Bolsonaro e de Lula, eu me lembro do espelho. Primeiro, porque não acredito que em frente a ele não sintam remorsos por serem corruptos; e segundo, porque me vem a memória uma fábula judaica, que os pastores evangélicos deveriam aprender.
Conta que um acumulador de dinheiro, mesmo depois de ser bilionário, foi se queixar com o rabino porque a comunidade o estava criticando como avarento psicótico; então o sacerdote respeitadíssimo pela cultura geral além da Torah levou-o até a janela da Sinagoga e perguntou-lhe o via através da vidraça.
– “Vejo o pessoal passando pela calçada defronte”, disse o ricaço. O rabino pegou-o pelo braço e levou-o para frente de um espelho: – “O que vês agora?”, perguntou. E o reclamante respondeu que via a si mesmo.
Sentando-se e mandando o crente também se sentar, e falou: Você comprovou, meu irmão, a diferença entre o vidro e o espelho, pelo vidro a gente vê os outros, mas quando este é revestido de prata só vemos a nós mesmos.
Eis uma lição sobre o egocentrismo dos dois líderes que se polarizam eleitoralmente graças à alienação, ao desleixo ou à ignorância da massa, submetida a uma pesadíssima carga de propaganda.
O “deixa passar” por preguiça mental e à ignorância por falta de estudo e informação correta, pesam muito numa eleição. O analfabeto político, condenado por Brecht por não ouvir, não falar e não participar dos eventos políticos, é execrável: Não sabe para onde vão os impostos que paga, nem se informa sobre o custo de vida.
Este alienado é o responsável pela desgraça que se abateu sobre o Brasil, com a disputa permanente e ininterrupta dos extremistas auto assumidos “de Direita” e “de Esquerda”, seguindo líderes que sequer sabem o que significa historicamente os dois termos.
Bolsonaro e Lula são dois oportunistas, isto sim. Ávidos pelo poder, não para trazer a justiça social à Nação, nem para desenvolver econômica do País; pensam apenas em tirar proveito do cargo, acumulando propinas como se fossem “presentes”, e confundindo presentes de outros chefes de Estado ao cargo como se fossem seus; não os entregam ao patrimônio público.
A polarização que vemos está colocada entre os onze contêineres que Lula levou do Palácio e as joias que Bolsonaro se apossou indevida e criminosamente. Envolvidos por uma camada de prata só enxergam a si mesmos e nos induzem a lutar contra eles defendendo o Centro Democrático contra os extremismos.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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