Por Daniel Mazola

“Nosotras en Libertad” foi gerado durante o isolamento imposto pela pandemia, reúne depoimentos, fotos e vídeos de 200 autores e ex-presos políticos que narram, na primeira pessoa, sua vida em liberdade.

“Nosotras en Libertad” é um e-book, concebido durante o isolamento imposto pela pandemia, que reúne depoimentos, fotos e vídeos de 200 autores e ex-presas políticas que narram suas vidas em liberdade na primeira pessoa e foi apresentado no espaço, a Nave Ciência Technopolis.

Promovido e produzido pelo Coletivo de Ex-Presas Políticas, o livro contém cerca de 200 contos e material audiovisual que acompanha a trajetória de seus autores e todo o seu conteúdo estará acessível gratuitamente na web a partir do dia 15 de outubro.

O desenho artístico da obra foi realizado por uma equipe formada por Laura Chuburu, Mariana Ardanaz e Darío Doria e, como Isabel Eckerl, uma das integrantes do Coletivo e uma das autoras do livro, explicou, “Haverá maneiras diferentes de entrar no material: uma será por regiões como o porto, o Paraná, as montanhas ou a planície, mas também uma chamada de fora; enquanto outra possibilidade é entrar pelos nomes dos autores”.

Se o caminho escolhido é fazê-lo por uma dessas regiões, quem o convida a entrar é um cantor: Teresa Parodi, Verónica Condomí ou Marián Farías Gómez. Os três estão programados para estarem presentes na apresentação no Tecnópolis.

A obra tem precedente em 2006, quando o mesmo grupo editou “Nosotras, presas politicas”, livro escrito por 112 mulheres que reúne histórias de presas entre 1974 e 1983 e reflete sobre seu cotidiano por meio de memórias, cartas e desenhos que tentativa de testemunhar a complexidade do terrorismo de Estado.

Em 2019, os integrantes do Coletivo de Ex-Presos Políticos organizaram um encontro no Hotel Bauen, que contou com a presença de 300 mulheres vindas de diversos pontos do país e do Canadá, Uruguai e Chile.

“A partir desse encontro, o vínculo foi fortalecido, participamos em grupo pela primeira vez do Encontro Nacional de Mulheres e o que supúnhamos excitar um grupo foram seis oficinas com muita gente, muita demanda para conhecer a nossa experiência; militância a como nos temos mantido hoje, questionamentos sobre o feminismo, como fazemos a resistência e como permanecemos inteiros hoje e com vontade de lutar “, explica Eckerl, que foi preso em 1975 e levado pela primeira vez para a prisão de Olmos e após o golpe militar na prisão de Devoto.

O militante das Forças Armadas Revolucionárias (FAR), a Juventude Peronista (JP) e um dirigente sindical de professores de Mar del Plata afirmam que “diante da enorme demanda” decidiram traduzir os textos em um livro que “desde o início “eles sabiam que o nome seria” Nós em liberdade “.

“O que queremos transmitir é que somos mulheres comuns com vontade de lutar, de se organizar e o livro é uma resposta política. Tínhamos companheiros detidos até 87 e naquela época estávamos fazendo ações com e-mails, mas com o avanço da tecnologia nos chegou um pouco mais perto.”

Quando a pandemia começou, o diálogo foi transferido para o WhatsApp, onde formaram um grupo do qual participam cerca de 400 companheiros. “Também temos subgrupos: temos trabalhado com o presídio Devoto para que não o derrubem, é respeitado que é um lugar de memória”, explica.

“O que queremos transmitir é que somos mulheres comuns com vontade de lutar, de se organizar e o livro é uma resposta política”. ISABEL ECKERL

Sobre o novo livro, totalmente financiado pelo grupo, Eckerl diz que “tem humor, mas também textos de partir o coração” e relata: “A maioria de nós tem dificuldade em se inserir, se adaptar. O tempo médio que ficamos presos é de cinco, seis anos. Tem uns que eram menos, mas outros que tinham oito ou dez anos. A partir dessa situação, tem colegas que se formaram na universidade, construíram um ofício, formaram família”.

Desde a década de 90 estão neste espaço: “Percebemos que um estava sindicalizado, outro organizava esta ou aquela atividade na universidade, procurando sempre linhas comuns de organização, solidariedade e com o tempo passamos a ver o nosso feminismo”, assegura.

“Éramos mulheres que procurávamos colocar nossas aspirações e decisões em todas as mesas de discussão de nossas organizações que eram atravessadas pelo mesmo patriarcado e estávamos impondo algumas coisas. Há camaradas que hoje militam em tempo integral dentro dos movimentos de mulheres, cada uma olhava pois como pôde ou como soube e convergimos hoje neste livro ”, defende. (Informações: télam)

DANIEL MAZOLA – Jornalista profissional (MTE 23.957/RJ); Editor-chefe do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Consultor de Imprensa da Revista Eletrônica OAB/RJ e do Centro de Documentação e Pesquisa da Seccional; Membro Titular do PEN Clube – única instituição internacional de escritores e jornalistas no Brasil; Pós-graduado, especializado em Jornalismo Sindical; Apresentador do programa TRIBUNA NA TV (TVC-Rio); Ex-presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Conselheiro Efetivo da ABI (2004/2017); Foi vice-presidente de Divulgação do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (2010/2013).


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