Por Lincoln Penna –
Inicio com um esclarecimento. Retomo neste artigo a pedido de amigos a mesma questão abordada no anterior, só que agora avançando na direção de um exame prévio acerca do período de transição do qual nos dizia Gramsci, que serviu de epígrafe no referido artigo.
O mundo registra tempos amargos a prenunciar situações de incomensuráveis perdas de qualidade de vida para toda a humanidade. É uma constatação que, no entanto, insisto em mencionar para tentar despertar ações concretas visando pelo menos a minimizar essa situação.
Em meus escritos anteriores tenho verberado no sentido de clamar por iniciativas coletivas que independam de governos, uma vez que estes, principalmente o governo federal, parecem ignorar não a pandemia, mas as suas implicações devastadoras no seio da sociedade caso adotem medidas meramente paliativas. Não entende a maioria desses titulares dos executivos do país, que estamos no limiar de uma revolução a nos impor mudanças comportamentais.
Enquanto o mundo se debate sobre o ritmo da imunização a ser mais rapidamente executado em países que ainda não conseguiram uma vacinação em massa, ao passo que outros discutem as conseqüências dos procedimentos adotados; o vírus se multiplica. Suas cepas se expandem sem fronteiras e sem barreiras, dando prosseguimento à revolução que até então só nós achávamos que poderia ser pensada e executada para reformar as estúpidas estruturas que nos governam.
Entretanto, quem diria? Temos de nos preparar para desencadear a contra-revolução para liquidarmos essa revolução insidiosa resultante de um modo de vida que permitiu a proliferação desse inimigo de nossa vida, tendo sido nós mesmos os responsáveis pela fúria da comunidade dos seres viróticos. E essa reação precisa estar centrada na mais extraordinária façanha que temos empreendido, qual seja, a do conhecimento científico, geralmente visto com desdém pelos aliados desse inimigo infernal, o vírus que nos ataca.
Seus aliados são os mesmos que nos governam no único distanciamento que praticam: o do povo.
Já passou a hora de identificar culpados. Eles todos terão no futuro que responder pelo crime de lesa humanidade. No momento, já não é suficiente estar a enxovalhá-los, porque tem se tornado inócuo, sobretudo porque reverte de forma ainda insignificante junto àqueles que idolatram os negacionistas, porque também o são. O momento é de encontrar meios que nos permita resistir à ação de nosso mais poderoso inimigo. Seus exércitos têm sido devastadores, a provocar verdadeiras hecatombes humanas e a deixar seqüelas que se manterão por muito tempo.
Escrevo convencido de minha nova utopia, a de que é possível com inteligência, sabedoria e capacidade de convencimento, baseada na persistente argumentação, reverter esse estágio que nos aproxima da transição ao novo mundo, aos novos tempos que se aproximam da miragem utópica que enxergamos à distância. Os novos coronavírus estão a anunciar a necessidade de acordarmos para a mais cristalina das visões reais, a de que só conjuntamente, irmanadamente, seremos dignos de uma vida em comum.
Se a vacina nos protege do contágio mais letal de nosso inimigo viral, mais necessário se torna a produção de uma vacina que nos abra mentes e corações para acordarmos do pesadelo de um modo de vida que nos massacra e nos isola uns dos outros. Combater o vírus do individualismo, do egoísmo, da indiferença e da morbidez a marcar dolosamente essa fase transacional, é uma tarefa imediata e por isso mesmo inadiável. Afinal, os que desfrutam dos falsos benefícios de uma ordem injusta e temerária, relutam para mantê-los à revelia das multidões famintas e sedentas de justiça e reconhecimento de sua existência.
Por fim, lembrar que nem toda contra-revolução, e é válida também para os contragolpes, visa manter as velhas ordenações. Em alguns casos, elas impedem que algo mais desastroso aconteça para abrir caminho ao novo.
Por acaso, na esfera política, o contra-golpe do general Lott, em 1955, abriu caminho para o mais brilhante período da cultura brasileira, onde todas as manifestações foram inovadoras: a Bossa Nova, o Cinema Novo e as belas curvas de nossa mágica arquitetura, protagonizadas por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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