Por Pedro do Coutto

O Integralismo que surgiu no Brasil na década de 30 e que na realidade terminou em 1938, com o frustrado ataque ao Palácio Guanabara com objetivo de matar o presidente Getúlio Vargas, representou a ponte entre o nazismo de Hitler e a posição ideológica dos extremistas da direita no Brasil. O tema integralismo foi abordado por Ancelmo Goes, no espaço que brilhantemente ocupa em O Globo, edição de 04/07.

Os nazistas usavam camisas negras com a suástica nas mangas e sua saudação era “Heil, Hitler!”. O integralismo de Plínio Salgado ostentava camisas verdes e um sigma nas mangas. Sua saudação de braço levantado, como os nazistas, era a palavra “Anauê” da cultura indígena.

ELOGIO DE GOEBBELS – Em novembro de 1937 Goebbels enviou mensagem a Vargas, já então ditador, congratulando-se com a decretação do Estado Novo dia 10 de novembro, quando fechou o Congresso e passou a governar por Decretos-Lei. A tortura passou a ser praticada. Getúlio Vargas não respondeu a Goebbels, mas se comprometeu com Plínio Salgado a nomeá-lo Ministro da Educação. Plínio Salgado programou um desfile de integralistas na Rua Pinheiro Machado, passando em frente ao Palácio Guanabara. Além de sede do governo, residência da família Vargas.

Logo após o desfile. Vargas determinou ao temível chefe de polícia Filinto Muller que iniciasse a prisão dos principais líderes da ação integralista, pois o serviço secreto identificara vários nomes. Sentindo-se traído, Plínio Salgado organizou um atentado terrorista contra Vargas através de invasão ao Palácio Guanabara. O ataque esperaria o tenente Júlio Nascimento, integralista, estar em serviço comandando a guarda do Palácio. Ele facilitaria a entrada dos terroristas nos jardins e depois ao segundo andar durante a noite.

DEU TUDO ERRADO – Acontece que Júlio Nascimento foi envolvido pelo medo e não apareceu para comandar a guarda. Foi substituído pelo capitão Maurício Kices, que não sabia de nada e comandou firmemente a resistência. O episódio é narrado pelo jovem historiador Daniel Mata Roque que pesquisou bem o episódio. A resistência de Kices foi fundamental e deu tempo para que chegasse o general Leite de Castro que cercou o Palácio com acesso facilitado pelo Fluminense Futebol Clube.

Plínio Salgado conseguiu chegar a uma corveta portuguesa ancorada na Baia de Guanabara. O governo de Portugal lhe concedeu asilo. Depois da anistia de abril de 45, Plínio Salgado criou o Partido de Representação Popular e foi eleito deputado federal.

GUERRA AO NAZIFASCISMO – A substituição de Nascimento por Kices impediu um corte abrupto na história de nosso país. Naquele tempo, intelectuais como Gustavo Barroso, Miguel Reale, Santiago Dantas, D. Helder Câmara e Alceu de Amoroso Lima eram adeptos daquela doutrina. Romperam quando o Brasil declarou guerra a Alemanha de Hitler e à Itália de Mussolini. O Brasil foi o único país da América do Sul a declarar guerra ao nazifascismo.

Vinte navios mercantes brasileiros, a partir do Baependi foram torpedeados por submarinos alemães. Em maio de 42 uma passeata da UNE acabou acarretando a queda de Filinto Muller da chefia de polícia. Filinto vetou a passeata. O presidente da UNE era Hélio de Almeida, mais tarde presidente do Clube de Engenharia e Ministro dos Transportes do governo João Goulart. Hélio de Almeida não se conformou com o veto e resolveu recorrer ao Ministro da Justiça, mas Francisco Campos havia sido demitido na véspera por Vargas. O ministro interino era o diplomata Vasco Leitão da Cunha que autorizou a passeata.

CARTA DE DEMISSÃO – Filinto Muller foi ao Guanabara e entregou sua carta de demissão. Getúlio Vargas aceitou na hora e os estudantes tomaram as ruas do centro do Rio.

Cito o episódio para acentuar que Filinto não permaneceu no governo até a deposição de Vargas a 29 de outubro de 45.

Outra informação. Plínio Salgado concorreu a presidência da República nas eleições de 1955. Teve 10% dos votos.


*Pedro do Coutto é jornalista / Enviado por Raimundo Alves Braga – Teresópolis (RJ)