Por Luiz Carlos Prestes Filho 

Para o vice-presidente do GRES Vila Isabel, Luiz Guimarães, o isolamento social foi um momento de aprendizado. Ele preferiu ficar afastado da cidade do Rio de janeiro, em localidade próxima ao mar: “Assim tive mais liberdade para desfrutar de uma paisagem infinita, buscar paz junto a natureza. Mas, sinceramente, como gestor da indústria cultural não consegui. Todos eventos foram prejudicados, como ter tranquilidade? Até porque a perspectiva não é boa para o futuro próximo”.

Os projetos de modernização da quadra, no bairro de Vila Isabel, e do barracão, na Cidade do Samba, foram interrompidos: “O que mais lamento foi o cancelamento dos projetos sociais e esportivos, direcionados para atender a comunidade. O nosso povo tem que receber o mais justo retorno pelo amor e esforço que dedicam a escola um ano inteiro. Claro que, também, tivemos que cancelar os shows de samba, pagode e de outros gêneros”.

As reuniões de estruturação do Carnaval de 2021, que empolgou a todos, não puderam acontecer: “O nosso enredo é grandioso – MARTINHO DA VILA! Mas nem começar começamos direito. Fomos obrigados a pisar no freio. Não tivemos condições em dar prosseguimento. E olha que de todas as escolas do Grupo Especial fomos a primeira a anunciar o tema”.

O mundo do samba mergulhou na vida on-line com a Covid 19. E como todas as coirmãs, a Vila teve que estruturar a sua vida virtual: “Tivemos momentos de interação de toda a diretoria, quando ouvimos as opiniões mais diversas, isso para chegar as melhores soluções. Mas é tudo muito novo, não tínhamos essa prática. Gostaria de destacar aqui que criamos uma oficina de fabricação de máscaras e de produtos de proteção. Distribuímos essa produção na nossa comunidade e doamos a outra parte para órgãos públicos do município do Rio de Janeiro”.

O departamento financeiro da escola demonstrou competência, está cumprindo as responsabilidades trabalhistas: “Os salários em dia, tudo correto nesse campo. Entendemos que temos que deixar nossos funcionários seguros e cuidar da manutenção dos estabelecimentos. Esse é o nosso investimento. Nada mais a fazer, pois não temos contratos assinados. Nem a TV Globo e nem o poder público confirmaram nada”.

O vice-presidente conta que o carnavalesco da Vila Isabel não parou durante os quatro meses de pandemia: “O Carnaval de 2021 é uma incerteza. Mas estamos ativos. Antes da paralisação, no início de março, tivemos com o Martinho para discutir o enredo, estabelecer diretrizes. Desenvolvemos a sinopse que nos permite planejar as fantasias e os carros alegóricos. Mas como seguir adiante? Ainda não tivemos as importantes reuniões plenárias decisórias da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). As autoridades públicas, por sua vez, estão caladas”.

A saudade é grande dos encontros na quadra, das feijoadas e das disputas de samba: “Na verdade a pandemia deixa a lição de que, muitas vezes, não damos importância a certos momentos e a muitas pessoas queridas, que deveríamos valorizar. A situação vivida colocou uma lente de aumento em detalhes que passavam despercebidos. Acredito que vamos voltar mais humanos, com Deus e cobertos de humildade”.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).