Por Siro Darlan

Tribuna de Imprensa Livre passa a publicar uma série sobre a Vila Mimosa, sua história, sua gente, suas aventuras e, sobretudo a vida de pessoas que vivem para proporcionar o prazer e a felicidade.

Lá se pratica a profissão mais antiga da história e que a hipocrisia chama de tolerância, mas que nenhuma sociedade toleraria viver sem elas. Conheci a Vila Mimosa quando na função de Juiz da Infância e da Juventude recebi denúncias de que crianças estavam sendo iniciadas precocemente na vida sexual e exploradas por adultos. Fui pessoalmente ao local e fui recebido com as trabalhadoras e trabalhadores em trajes de trabalho. Vi algumas crianças, mas sendo crianças e brincando no ambiente de trabalho das mães.

Vila Mimosa. (Wikipédia)

Encontrei uma assistente social chamada Cleide que logo quis mostrar seu trabalho social com as trabalhadoras e apresentou-me às diversas modalidades de trabalhos alternativos, como costura, cosméticos, cabelereira, dentre outras atividades. Interessei-me por essa parte social e propus à OAB-RJ que montasse um escritório de assistência jurídica no local, eis que grande parte ali estavam por desconhecerem seus direitos sociais ou não saberem como ter acesso a esses direitos: alimentação, reconhecimento de paternidade, reconhecimento de união estável, acesso a medicamentos na rede pública, abuso sexual, violência física e psicológica, exploração do lenocínio, dentre outros problemas jurídicos, os quais solucionados proporcionariam às trabalhadoras outras alternativas.

Mulheres da Vila Mimosa em audiência da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) – Palácio Tiradentes, Centro do Rio. (Arquivo pessoal)

Havia uma mãe que ali trabalhava exclusivamente para angariar fundos para comprar remédios para seu filho especial, remédio esse disponível gratuitamente na rede pública. Outras, abandonadas trabalhavam para sustentar sua prole. Meninas com pouco mais de 30 anos com 9, 10 filhos. Cleide se esforçava, com zero de ajuda oficial para encontrar alternativas. Conseguimos com o Professor Isaias Nascimento da então FAETEC, instalar alguns computadores para aulas de digitação e acesso à internet, além de cursos de idiomas, inglês e espanhol.

Unidade da FAETEC da Vila Mimosa. (Google Maps)

Assim me aproximei das meninas e busquei alternativas para lhes garantir direitos. Aprendi a respeitá-las, porque são essas Genis que nos salvam do dia a dia de ódio dessa sociedade capaz de condenar sem empatia com a importância que lhes deu o próprio Salvador ao sair em sua defesa e desafiar para atirar a primeira pedra aquele que não tiver pecado.

Por essa razão a Tribuna de Imprensa Livre inicia uma série para apresentar à sociedade essa Viva Mimosa que tanto prazer tem dado à Cidade Maravilhosa.

SIRO DARLAN – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.


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