Por Iata Anderson –

Nunca ouvi ou li tanta hipocrisia na mídia quanto o que se diz sobre Vinícius Júnior, autor do gol da vitória do Real Madrid sobre o Liverpool, levando os merengues a comemorar devidamente a 14ª Liga dos Campeões. Como se precisasse, um prêmio que caiu no colo dos chamados “jornalistas”, que envolve ex-jogador, ex-Big Brother, Influencer, Youtuber, etc e tal, qualquer um que tenha conhecimento ou um canal nas plataformas. Uma lástima, não sabem nada, apelam para ganhar audiência, polemizar, ficar conhecido.

O foco não é esse, até porque Vini Jr. não precisava fazer o gol do título para marcar sua passagem pelo Real Madrid, visto que vem subindo de produção a cada jogo, desde que Carlo Ancelotti chegou a Valdebebas, trazendo para sua equipe o italiano Antonio Pintus, que trabalhou algum tempo com Zidane, na campanha do tricampeonato europeu. Considerado um gênio da preparação física, Pintus recebeu aval do presidente Florentino Peres e o resultado foi o melhor possível: três taças, numa temporada de 56 partidas com time passando por PCG, Chelsea, Manchester City e Liverpool, sequência de clássicos poucas vezes vista numa Champions. Três deles de virada ou “remontada”, como gostam os espanhóis. Mas essa turma nem desconfia que o Real tem esse personagem, responsável pelo grande desempenho do time no segundo tempo. Não sabem da importância de Pintus na excelente forma física de Kroos, Benzema, Modric, o craque do time, Rodrygo e Vini Júnior. “Vinicius calou seus detratores” e segue uma lista de pessoas famosas – claro – como se eles também não tivessem apontado as deficiências do garoto criado na fase do Flamengo, vendido muito cedo para o maior clube de futebol do planeta, camisa pesadíssima, estrutura fantástica, que leva a centenas de conquistas e recordes, os “Reis da Europa”. Mas não, o importante é dizer que os outros erraram, eles não.

Mentira deslavada.

14º título europeu do Real Madrid. (Getty/One Football)

Quem acompanha o futebol europeu, principalmente o espanhol, como eu, apontou as falhas de Vini Jr, tão gritantes a ponto de receber críticas na mídia, no clube, dos próprios colegas, inclusive, sim, ele, Benzema, que muitas vezes balançou a cabeça negativamente após uma jogada errada do menino que pagou pela pouca idade, mudança de cultura, sem estar preparado para uma sobrecarga que o esperava. Mesmo assim, aí deve ser colocado o cerne da questão, houve uma transformação como nunca vista no futebol mundial. Em um ano Vini Jr passou de jogador que esteve no time B (Castilla), cotado para ser emprestado, citado como uma fracassada transferência que custou 164 milhões de reais ao clube espanhol. Foi formada uma equipe multidisciplinar, com oito componentes, Vinicius foi ganhando terreno até se tornar jogador de ponta, titular e protagonista do multicampeão europeu. Muita gente o ajudou, claro, mas o grande vencedor foi ele, com sua humildade, velocidade, dribles, passes, lançamentos e alegria que o credenciaram a ser citado como candidato ao troféu Bola de Ouro, o mais cobiçado do Continente. O que acho um exagero. Não existem culpados, não existe o “calar” deus críticos, eu um deles, repito. O que houve foi crítica ao mau futebol apresentado por Vini, nas duas primeiras temporadas. Uma constatação, um fato, nada contra ele.

Mérito para Vini, hoje uma estrela pop do futebol.

Vinicius Junior marcando um gol pelo Real Madrid contra o Valencia. (Soccrates/Getty Images)

O Flamengo perdeu para o lanterninha do campeonato, que não havia vencido nenhum jogo, fez um grande primeiro tempo, poderia ter ido para o vestiário com 3×1, como diria Otélo Caçador, na sua coluna “Pênalty”, placar moral dos primeiros 49 minutos. O time voltou para o segundo tempo com três mudanças, se é possível considerar a entrada de Vitinho como substituição ou a de Pablo, inexplicavelmente titular da zaga, com sua gritante insegurança e pouca velocidade. Um desastre total, reforçado por Pedro, que perdeu um pênalti e nada fez o tempo todo e vive reclamando que não joga. Mas não aproveita as oportunidades, estou cansado de repetir isso. É um bom jogador, ponto. Uma apatia só, que não merece a torcida que tem. E vai continuar assim, enquanto não houver mudanças no comando do futebol.

Não basta trocar o treinador ou comprar jogador de empresário, precisa haver uma grande transformação na Gávea, no comando do futebol, que não poder ser administrado da forma como está, se não quiser pagar um preço muito alto. O Flamengo não pode, como nenhum time popular, de grande porte, se alimentar do passado, pensar que ainda vive em 2019. Precisa acordar para a realidade. A camisa pesa mas precisa ter alguém dentro para ajudar. O treinador é visado, não tem mídia, mas é o menos culpado. Nenhum técnico ganha ou perde jogo sozinho. É preciso analisar o seu trabalho diário para fazer uma avaliação correta.

Já vi esse filme algumas vezes.

O Real Madrid ganhou a 14ª Champions, Nadal o seu 14º Roland Garros, coincidência, não. Ambos arrasam no que fazem.

IATA ANDERSON – Jornalista profissional, titular da coluna “Tribuna dos Esportes”. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, TV Manchete e Tupi; Atuou em três Copas do Mundo, um Mundial de Clubes, duas Olimpíadas e todos os Campeonatos Brasileiros, desde 1971.


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