Por Kakay

“Sem medo de ser feliz!”
–Música da 1ª campanha de Lula.

Correndo o risco de perder meus 3 leitores fiéis, vou contar, pela 3ª vez, a história dos mendigos bêbados da minha Patos de Minas. Quando li nos jornais a notícia a respeito da busca e apreensão em endereços de Carlos Bolsonaro e a informação do TRE do Paraná sobre o julgamento de Moro, inicialmente marcado para 8 de fevereiro, foi impossível não me lembrar daquele episódio.

Como em toda cidade do interior de Minas, tínhamos 2 malandros de estimação que vagavam pelas madrugadas. Um baiano e um sulista. Às vezes, agrediam-se e um ameaçava o outro. Era uma rixa constante. Um dia, o sulista apareceu morto. A polícia nem investigou: prendeu o baiano. Não tinham provas, mas, seguindo o método Deltan de investigação, tinham convicção.

Levado ao juiz para ser interrogado, a 1ª pergunta para o baiano foi:

–O senhor matou o sulista?

A resposta o desconcertou:

–Doutor, acha bão é crime?

O juiz, perplexo, questionou:

–O que o senhor quer dizer?

A resposta veio sincera:

–Matá eu não matei não, mas achei bão demais ele ter morrido!

O Brasil merece ser passado a limpo. Algumas questões impedem o país de ter um encontro natural consigo mesmo. A República de Curitiba, coordenada pelo ex-juiz Moro e pelos seus procuradores adestrados, corrompeu o sistema de Justiça. Foi o Supremo Tribunal que decidiu isso. A farsa da Lava Jato: uma operação criminosa com objetivos políticos que instrumentalizou o Judiciário e o Ministério Público.

A cassação do mandato do Deltan foi uma 1ª resposta. Agora, o mandato do senador Moro está por um fio. Por ironia do destino, ele deverá ser cassado na linha da jurisprudência que cassou a senadora do Mato Grosso que se intitulava o “Moro de saia”. Os 2 estão nus em face dos abusos que cometeram.

Hoje, o que interessa além de fazer justiça aos que corromperam o sistema de Justiça? É a possibilidade de investigação real contra a família de ultradireita que comandou o país. O Brasil precisa enfrentar seus fantasmas. Nós somos as nossas sombras. Não é mais possível viver com nossos assombros, sustos e medos.

Sabemos que Bolsonaro é um serial killer. Os crimes cometidos durante a pandemia ainda serão objeto, certamente, de uma apuração correta. Agora, com uma postura mais ativa do Ministério Público e uma Polícia Federal técnica e com liberdade de atuação. Está cansativo ver tanto crime sem apuração, tanta desfaçatez.

Na realidade, são duas as situações a serem enfrentadas. A corrupção do sistema de Justiça já está tendo resultado. E temos a questão criminal da família Bolsonaro, que deve sofrer as consequências da necessária investigação.

Ou fazemos um embate simples e direto ou não avançaremos. Ou o Brasil confronta de vez esse fantasma que nos assola, ou ficaremos reféns permanentes desses ridículos donos de um quadro macabro. Ao que tudo indica, o cenário na área penal para a família Bolsonaro é grave. Será preciso fazer, sem revanchismo, uma análise independente de tudo o que se deu na pandemia. Mais de 700 mil mortos ainda vagam à procura de justiça.

O país está maduro e o enfrentamento da tentativa de golpe nos deu um rumo e uma esperança na democracia. Só sairemos mais fortes se conseguirmos dar uma resposta a nós mesmos e às vítimas da pandemia, dos abusos e da barbárie. Merecemos isso. Sem perseguição e respeitando os direitos e garantias constitucionais.

Mas sem medo. E sem, mais uma vez, jogar nossos fantasmas para um fosso que sempre nos impede do necessário encontro do país a que fazemos jus. Depende de nós.

“Sou água que corre entre pedras – liberdade caça jeito.”
–Manoel de Barros.

ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, o Kakay, tem 65 anos. Nasceu em Patos de Minas (MG) e cursou direito na UnB, em Brasília. É advogado criminal e já defendeu 4 ex-presidentes da República, 80 governadores, dezenas de congressistas e ministros de Estado. Além de grandes empreiteiras e banqueiros.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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