Por Pedro do Coutto –

As pesquisas dos institutos não detectaram a arrancada final do presidente Jair Bolsonaro nas eleições de domingo e, com isso, falharam da mesma forma que as previsões, entre elas a que fiz e me equivoquei. Lula chegou na frente por uma margem de quatro a cinco pontos percentuais que se traduzem em alguns milhões de votos. Mas a diferença não foi suficiente, como ficou claro, para decidir a disputa do primeiro turno e assim vamos para o desfecho final em 30 de outubro.

A surpresa se generalizou. Não foi apenas na computação final dos votos que as diferenças entre as pesquisas e a realidade se estabeleceram. Foi sobretudo a diferença de 14 pontos que se reduziu para quatro a cinco. Além disso, as pesquisas erraram em São Paulo, erraram no Rio, confirmaram-se no Nordeste e em Minas Gerais e a diferença a favor de Lula foi muito menor da anunciada.

TENDÊNCIA – Candidatos bolsonaristas para o Senado, caso de Hamilton Mourão, para a Câmara Federal e para as Assembleias Legislativas confirmaram a tendência que estava oculta e não foi iluminada pelo Datafolha e pelo Ipec. O fenômeno talvez não seja esclarecido nunca sob o ângulo de suas motivações, mas percebe-se que ressurgiu nas etapas finais da disputa a força do conservadorismo que ocupa posição de destaque na realidade eleitoral brasileira.

Não sei se a imagem final de Lula contribuiu para a redução final da diferença. Não creio nisso. Acredito mais na vontade de conservar uma vaga ideia de poder e de ordem que se choca com as etapas do confronto transformado, aliás como sempre acontece, num espetáculo de competição esportiva.  Entretanto, houve algo mais do que isso. A questão do rebaixamento salarial, com salários perdendo para a inflação e não repostos pelo menos ao nível dela, foi ignorada ao longo da campanha.

Lula tocou no assunto, mas o restringiu ao salário mínimo. Esqueceu que todos os salários são múltiplos do patamar mínimo fixado para a remuneração do trabalho. É possível que tenha se repetido o fenômeno que ocorreu em 1985 quando Fernando Henrique Cardoso perdeu a Prefeitura de São Paulo para Jânio Quadros, e que tanto o antigo Ibope, hoje Ipec, quanto o Datafolha, classificaram de voto envergonhado ou disfarçado nas respostas fornecidas aos pesquisadores.

SURPRESA – Esse aspecto da questão envolveu uma cidade. Em tema de pais, é impossível que tenha se repetido. Acredito mesmo que alguns detalhes e aspectos tenham escapado aos institutos. Os leitores certamente foram tão surpreendidos quanto as empresas de pesquisas e os comentaristas.

Mas os comentários depois do vendaval das urnas começam a buscar fatores que possam explicar o que aconteceu. Talvez não esteja na superfície da alma humana e sim nas sombras que em número muito grande de casos envolvem os pensamentos e as atitudes.

As pesquisas relativas aos votos de Lula aproximaram-se do resultado. O Datafolha apontou 50% dos sufrágios. Ele fechou com 48%. O Ipec estimou em 51%; a diferença foi um pouco maior, mas a colocação em primeiro lugar estava certa. Não se pode confundir pesquisas com os comentários em função delas. Mas agora reafirmou-se a lição de que os metros derradeiros do confronto são o essencial. Veja-se o caso da Bahia. ACM vinha disparado e foi ultrapassado por Jerônimo Rodrigues e os dois vão para o segundo turno.

APOIO –  Lula e Bolsonaro estão definidos também para o segundo turno. Os candidatos não podem esperar e muito menos depender dos apoios que vierem em seu favor. Como me disse um dia numa entrevista para o Correio da Manhã, JK, “cada candidato tem que se afirmar por si. O apoio que obtiverem nas campanhas é adicional e também uma consequência da posição que alcançarem junto aos eleitores e eleitoras “.

Simone Tebet deve apoiar Lula. Quanto a Ciro Gomes, é um enigma. Aliás, com base no que os números podem oferecer de interpretação, os três pontos que perdeu na reta de chegada foram mais para Bolsonaro do que para Lula. De qualquer forma, o embate está projetado. O apoio de governadores eleitos não é o cerne da questão, pois o segundo turno destaca-se pela dúvida que ele representa.

Pedro do Coutto é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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