Por Miranda Sá –
“A pior forma de covardia é testar o poder na fraqueza do outro” (Maomé)
A vida nos sujeita a conhecer os nossos limites para encarar a realidade que nos cerca; exige um teste para ver até onde podemos ir e expressar o pensamento, sem ferir alguém.
O homo sapiens (e a mulher sapiens, como quer Dilma Rousseff) é dotado de inteligência e, portanto, apto a entender desde as mensagens mais simples até as intrincadas especulações filosóficas; isto só ocorre, porém, se não estiver apaixonado ou fanatizado pelo objeto a ser analisado.
Os testes foram criados para encontrar certezas e dúvidas…. Entre os mais antigos, registra-se o fato dos rabinos atuando para saber se não havia efraítas infiltrados entre os fugitivos de Efraim, testava-os mandando-lhes falar a palavra “selbboleth” (espiga em hebraico); e o desgraçado que pronunciasse “sibboleth”, era entregue ao carrasco.
Bem mais tarde, a literatura infantil produzida pelos irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm, nos deu o conto “Cinderela” amplamente conhecido, em que o príncipe mandou agentes percorrerem o reino a fim de encontrar a jovem por quem se enamorou, testando mulheres no uso de um sapatinho de cristal que ela deixara ao fugir do baile….
O verbete “Teste” dicionarizado, é um substantivo de dois gêneros e flexão do verbo “Testar”. Sua etimologia é latina (testis.is), ação que busca verificar a verdade de um fato relatado. Sua sinonímia é diversa e rica, arguição, diagnóstico, exame, concurso, constatação, amostragem, prova, etc.
Este texto e a epígrafe com uma sura do Alcorão, se inspiraram na conversação que mantive com uma velha amiga do Twitter; ela, como defensora intransigente do capitão Bolsonaro, criticou o discurso anti-golpe do ministro Luiz Barroso, do STF, chamando-o de desonesto.
A liberdade de expressão me permitiu apontar a insanidade do líder que ela protege, na tentativa gorada do golpe que mobilizou por 72 dias apoio popular e, diante dos manifestantes e pelo vídeo televisivo, atacou a Suprema Corte, xingou ministros e afirmou que não obedeceria às decisões judiciais.
O Capitão fez mais: Exortou os seus seguidores que o autorizassem a tomar medidas autoritárias, rumo à ditadura. O coro estrondoso do “eu autorizo” levou-me a perguntar aonde encontrara, diante disto, desonestidade de Barroso; fiz o teste que a levou a recuar, reconhecendo a competência de advogado no Ministro, “capaz de provar que pau é pedra”.
Nesses tristes (e perigosos) tempos de crise institucional permanentemente provocada pelo capitão Bolsonaro, somos obrigados a testar a reação das pessoas honestas sobre fatos concretos, indesmentíveis. Ele elege inimigos que precisam ser exorcizados como demônios para gáudio dos seus seguidores sedentos de ódio.
Felizmente se encerrou a fase de preocupações com o golpe tentado e armado pela extrema direita nazifascista. Na página virada está escrito que falhou pois só contou com o apoio de militares saudosos e revanchistas da ditadura, pastores mercadores do Templo, milicianos e financiadores laranjas de apoios mercenários.
A massa que viveu a agitação gigantesca da mobilização para apoio das investidas bolsonaristas contra o Estado de Direito, pelo fechamento do Congresso e do STF e uma intervenção golpistas das FFAA, agiu democraticamente e não deu motivo para violência. Frustrou assim, cordata e disciplinada, o uso de medidas extraordinárias de força como queriam os golpistas.
É preciso constatar que a insanidade antidemocrática não contou também com o apoio dos quarteis, como vaticinou o general da reserva Paulo Chagas, ao afirmar na véspera, que “os militares da ativa não apoiarão medidas autoritárias como o cancelamento de eleições”.
Dessa maneira, o capitão Bolsonaro perdeu a chance e não passou no teste dos prognósticos astrais…. Em vez do “eu autorizo” dos fanáticos, a bela Esfinge da opinião pública submeteu-lhe ao enigma do respeito à Lei, e invocando o “Decifra-me ou te devoro” o canibalizou….
Diz a milenar sabedoria maçônica que o Grande Arquiteto do Universo impõe a todos um teste para saber qual seu propósito na vida; este foi feito no “after day” de 7 de setembro, e assim, do rugir leonino do golpista ouviu-se guinchos de um rato…
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.
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