Por Miranda Sá –
“A superstição ofende mais a Deus do que o ateísmo” (Hélder Câmara)
No início dos tempos, a mente do homem primitivo criou uma religião baseada no temor pelas manifestações da Natureza; e o culto se resumia em manter nas cavernas um braseiro sempre aceso em memória da ancestral da conquista do fogo; obrigando-se a evitar que as chamas nunca se extinguissem.
Este costume foi mantido no mundo civilizado; Fuste de Coulanges (“A Cidade Antiga”) escreveu que “toda casa de grego e romano possuía um altar onde havia sempre restos de cinza e brasas”. Tive um tio italiano (e meu padrinho de crisma) casado com uma irmã da minha mãe, que mantinha no oratório este costume por superstição.
“Superstição”, como verbete dicionarizado, é substantivo feminino, originário do latim, “superstitio”, profecia, medo excessivo dos deuses. Pelo termo pejorativo, “crendice”, temos a crença nos ‘sinais’ ou em fatos que provocam medo e impõem obrigações a seguir para evitar o mau agouro.
A Ciência considera irracional atribuir sorte ou azar em coisas que ocorrem sem nada de sobrenatural, mas que levam a tomar cuidados para evitar acidentes, como passar debaixo de escada para evitar que algo caia na cabeça; ou quebrar espelho, para não se cortar; e deixar os chinelos revirados para não servir de toca para escorpiões….
Além das experiências negativas passadas de geração a geração, a crendice se avoluma pela casualidade, pelas coincidências, pela ignorância ou o mal-entendido. Corre mundo afora a crença de que o número 13 dá azar; nos Estados Unidos este medo se popularizou de tal maneira que algumas linhas aéreas não têm em seus aviões assentos com o número 13.
Estudiosos da cultura norte-americana dizem que esta crença veio com os imigrantes italianos, pois no Sul da Itália muitas pessoas ficam em casa com medo que aconteça algo de ruim nas sextas-feiras 13…. Este temor catolicíssimo nasceu da superstição de que foram 13 os comensais na última ceia de Jesus Cristo.
Por isto tem muita gente que receia de ter à mesa 13 pessoas num jantar. O escritor ítalo-argentino Pitigrilli escreveu uma crônica sobre isto, citando o “14º”, um indivíduo que anunciava nos jornais a disposição de atender o convite de anfitriões no caso dos convidados se resumirem a treze.
Muito se poderia comentar sobre os preconceitos e a crendice fanática dos estúpidos e boçais que estimulam a consciência e dão certeza de que a civilização é fruto da luta entre a Ciência e a superstição.
Quando o conhecimento é livre de ilusão e fanatismo, fica-se impedido de aceitar o fundamentalismo obscurantista do negativismo, que emergiu na crise que vivemos na pandemia do novo coronavírus.
A filosofia lúcida de Voltaire projetou para o futuro a constatação de que “nunca a natureza é tão aviltada como quando a ignorância supersticiosa tem a arma do poder”. … E é o que infelizmente temos no Brasil.
Uma boa formação cultural mostra está na Ciência uma vacina eficaz contra o vírus do presunçoso obscurantismo negativista do capitão Bolsonaro e do seu bando no combate à pandemia, cujo exemplo é a paranoia obstinada de desmerecer as medidas preventivas de evitar aglomerações, de manter isolamento social, usar máscaras e adotar testes. Tal comportamento e exemplo causaram mais de 200 mil mortes pela covid-19 no Brasil, segundo estudos acadêmicos.
A indiscutível e indesmentível psicopatia do Presidente em não enfrentar a circulação do vírus, permitiu a passagem e a movimentação dos corruptos no seu governo, onde, no Ministério da Saúde, se vê avolumarem-se denúncias na compra da vacina Covaxin e outras transações altamente suspeitas.
Bolsonaro diz que não tem como saber o que se passa nos ministérios. Essa desculpa de amarelo tem sua validade porque com tantas “motociatas” anda sem tempo de governar…. Mas não é isto que se leva em conta, e sim de que se trata de um mentiroso contumaz: soube das irregularidades na Saúde e silenciou sobre o malfeito sem tomar medidas para investigar.
Ao acumpliciar-se com transações questionáveis e arriscadas, o Capitão assume a polarização política e ideológica disputando com o corrupto Lula da Silva no campo populista, para mostrar qual dos dois facilita melhor a corrupção e protege com mais empenho os seus corruptos de estimação…. SAI AZAR! (“Toc-toc-toc”).
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.
MAZOLA
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