Por Amirah Sharif –
Direito dos Animais!
Nem bem o ano começou, já estamos profundamente tristes com o ocorrido na cidade de Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro. Desde 15 de fevereiro, fortes temporais atingiram a cidade imperial. Há mortos, desaparecidos, desalojados e desabrigados.
Apenas para esclarecer: os conceitos de desabrigado e desalojado são diferentes. Desabrigado é aquele que perdeu a casa e está em um abrigo público. O desalojado teve de deixar sua casa – não necessariamente a perdeu e não está em abrigos, mas sim em casas de parentes, amigos ou conhecidos.
Nos tempos do Imperador
Lá pelos anos de 1861, 1862, D. Pedro II já se preocupava com o problema das enchentes que ocorriam no Brasil Império.
Em 5 de janeiro de 1862, o imperador do Brasil escreveu em seu diário de viagens: “Ontem de noite, houve grande enchente. Subiu três palmos acima da parte da rua do Imperador do lado da Renânia: um homem caiu no canal, devendo a vida a saber nadar e aos socorros que lhe prestaram. Conversei hoje com o engenheiro do distrito. Pouco se fez do ano passado para cá. Os estragos que fez a enchente levaram 2 meses a reparar, segundo me disse o engenheiro.”
Com um grande fascínio pela ciência, D. Pedro II foi responsável por introduzir a meteorologia no Brasil, um sistema inspirado em tecnologias que havia visto no exterior para ele mesmo conseguir monitorar chuvas, com cálculos feitos a partir de temperaturas e precipitações, que também eram registrados em seu diário.
Nos tempos de hoje
Fortes chuvas que caíram em Petrópolis provocaram enchentes e deslizamentos. A Prefeitura de Petrópolis decretou estado de calamidade pública. É a maior tragédia da história da cidade.
Equipes de resgate trabalham na região desde a noite do dia 15 de fevereiro, ajudando famílias e buscando corpos em meio a escombros.
Mutirão do bem
Animais estão sendo resgatados na cidade de Petrópolis. A operação vem sendo conduzida pela Secretaria Estadual de Agricultura, responsável pelas políticas públicas de proteção e bem-estar animal, em conjunto com o Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD).
Os animais resgatados estão sendo levados para clínicas veterinárias parceiras e, em seguida, para lares temporários, para serem redirecionados, posteriormente, para organizações não governamentais (ONGs) voluntárias que se encarregarão de colocá-los para adoção.
A coordenadora de campo, médica veterinária e bombeira civil, Carla Sássi, do GRAD, destacou que o cenário é bem semelhante ao da tragédia de 2011. “O cenário é o mesmo. Parece que não fizeram nada para mudar a situação.”, lamenta Carla.
Carla Sássi decidiu criar uma ONG ( organização não governamental) para resgatar animais de desastres depois que tempestades arrasaram a região serrana do Rio em 2011.
“Animais são o último elo com tudo que a pessoa perdeu”, diz a veterinária.
Muita gente saiu com a roupa do corpo. Alguns conseguiram salvar os animais. Outros, não.
O trabalho nesse momento é para tirar os que não conseguiram sair das áreas de risco e cuidar da saúde deles.
“Os animais estão muito assustados e arredios e a gente precisa atravessar barreira caída, ir em área que tem perigo de desabar. Está bem difícil e exaustivo, mas é gratificante, porque são vidas que a gente consegue salvar”, comentou Raphaela Buriche, coordenadora do Cobea ( Coordenadoria de Bem-Estar Animal de Petrópolis).
Pontos de Arrecadação
Em parceria com a ONG Rio Eco Petes, vários pontos de doação foram espalhados pela cidade do Rio de Janeiro. Toda doação será destinada para a ONG Dog´s Heaven, de Petrópolis, que fará a distribuição local.
Os pontos fixados de coleta na capital são: Shopping Boulevard (Clubinho do Jujuba, 2º piso); Botafogo Praia Shopping (1º e 5º pisos); Rio Design Barra (Concierge); Rio Design Leblon (Concierge); Shopping Nova América (acesso C , em frente à Camicado) e Shopping Nova Iguaçu (próximo ao guichê do estacionamento, 1º piso).
Banho e Tosa
O secretário de estado de Agricultura, Marcelo Queiroz, estabeleceu uma parceria com a Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) para que um caminhão fique à disposição dos moradores para a realização de banho e tosa nos animais atingidos pelas fortes chuvas e também nos animais que tenham sido resgatados ou abandonados.
Segundo o secretário, essa é uma iniciativa importante, porque os animais resgatados estão muito sujos. Além disso, a proximidade com o caminhão na cidade dá agilidade ao processo e permite o resgate de mais animais.
Compaixão
O padre Fábio de Mello, em um programa de televisão, se dirigiu aos petropolitanos.
“A cidade sempre me acolheu muito. Eu tenho uma ligação e inclusive quase fui morar lá em Petrópolis. Quando vi aquelas imagens, aquelas ruas que são tão conhecidas… acredito que nada pode nos tornar mais próximos uns dos outros do que quando sofremos. Eu sou o outro. Quando eu vejo aquela mulher cavando, numa tentativa de encontrar alguém que ela amava, eu me vejo naquela mulher. O princípio de compaixão se inicia quando o meu coração sente com o coração dela. Eu gostaria de dizer aos petropolitanos que eu tenho certeza de que hoje o Brasil também é petropolitano”.
Pois é, padre, a minha profunda tristeza é de que eu não tenho essa certeza. Isso é que me dói.
AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br
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