Por Lincoln Penna –
Polarização é uma das palavras mais mencionadas nesses longos meses que antecedem as eleições presidenciais do ano que vem.
Claro que ela se refere às candidaturas de Bolsonaro e de Lula, polos opostos dessa refrega que se anuncia como sendo um encontro definitivamente sacramentado. E é muito provável que assim seja.
A polarização existe, porém não deve estar restrita a nomes e ou candidaturas. O que pretendemos firmar como eixo fundamental dessa polarização é justamente aquela situação a envolver projetos de país. As candidaturas mais bem posicionadas ou não devem se situar nos dois nortes que configuram essa verdadeira polarização. Um deles nós já tivemos oportunidade de citar na postagem anterior, quando nos referimos ao Obscurantismo como projeto de país.
Esse projeto capitaneado pelo atual presidente define um campo, e em suas linhas gerais visa desmontar as estruturas de um estado minimamente nacional em face da estrutura erguida ao longo das últimas décadas, com maior ou menor capilaridade em termos do nosso espaço territorial, cujas diferenças e desigualdades regionais ainda persistem.
Lembramos que essa política de desprezo e aniquilamento de órgãos públicos, voltados principalmente para dar proteção e condições de preservação ambiental aos nossos ricos biomas, por exemplo, teve ainda como complemento não desprezível o ataque às manifestações culturais, subtraindo recursos das áreas estratégicas do serviço público, particularmente no que se refere às políticas sociais. Dentre elas, a destinada à educação, saúde, ciência e tecnologia.
Listar os malefícios causados em cerca de três anos de uma governança que visa destruir o legado de direitos individuais e sociais, além do patrimônio público, e cujos legisladores consagraram na Constituição de 1988, ela própria objeto de ataques frontais, é reiterar o que temos salientado nessas postagens.
Com a entrada no rol das candidaturas do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, alinhado de primeira hora do atual presidente, o painel das candidaturas não mudou significativamente no que diz respeito à verdadeira polarização. Esta nova e já prevista candidatura integra o campo do capitão presidente e acrescenta unicamente um problema a mais para ele.
Isso porque essa polarização existente consiste exatamente no confronto entre a democracia como valor civilizatório – por favor, as adjetivações nesse cenário são dispensáveis -, e aquela que se apresenta falsamente como a dona do moralismo e da defesa da pátria. Contudo, ela está amparada no objetivo de destruir o patrimônio nacional e promover a volta do regime autoritário. E a Operação Lava Jato, que fez aflorar a figura de Moro é um exemplo bem significativo, não obstante ter ludibriado muita gente honesta, mas ingênua politicamente.
A boa fé dos eleitores iludidos pelo credo do combate à corrupção, artimanha usada para mascarar a verdadeira intenção das forças que embalaram o atual presidente deu certo em 2018. Com isso, resultou neste governo da destruição, sinceramente assumido pelo presidente.
Se essa configuração tiver amparo na realidade dos fatos, não existe a tão proclamada terceira via. Ela só faz sentido se teimarmos em centrar as eleições em nomes, ou mesmo em partidos, mesmo sendo eles importantes. Mas, se consideramos os projetos em questão; de um lado os que se situam no campo regressista e entreguista; e de outro, os que estão filiados aos projetos nacionais e desenvolvimentistas com inclusão social, o panorama é outro. E neste, não há espaço para terceira via.
É, por outro lado, importante que se insista na defesa da democracia como valor civilizatório. Para os que possam demonstrar alguma reticência no emprego do termo, por considerar que está desgastada essa menção, e seu uso apropriado pelas classes dominantes, lembramos que a disputa em torno de seu uso faz parte da lutas de classes. Por isso, para cada formação social que assume sua identidade com um dos sistemas de produção, capitalista ou socialista, há de ter uma leitura que se contrapõe à outra, de modo que cada qual possa chamá-la de sua.
Não é apenas o embate entre as liberdades e a igualdade, como costumavam afirmar alguns analistas de um passado mais remoto. É algo mais do que isso. Ou se sustenta uma democracia para poucos, ou se alarga mais generosamente os bens públicos para todos. Esta é a questão. E isto implica em se ter um projeto de país a necessitar de compromissos a serem levados adiante por lideranças políticas com eles, os projetos, identificados e acolhidos.
Logo, para as forças populares compromissadas com o futuro da nação e desde já com os rumos do país, o que importa é a derrota eleitoral de um projeto que tem provado ser antinacional e antipopular. Portanto, antidemocrático porque para poucos, em virtude de não preservar as conquistas que a nação brasileira e de seu povo construíram com muito ardor, luta e determinação.
Centremos o combate aos responsáveis pela miséria da política, do povo mais vulnerável objeto do descaso governamental, e em defesa de nosso patrimônio ambiental, cultural e nacional em face dos que desejam dar continuidade a esse desmonte nacional. Na defesa intransigente dos que têm sido instrumentos dessa onda de extrema direita antipatriótica e a serviço, conseqüentemente, de interesses externos do grande capital.
A personalização dos nomes centrais dessa polarização, se de um lado é quase inevitável em se tratando de lideranças políticas de vieses distintos e antagonizados, pode correr o risco de se colocar em segundo plano os projetos de país. Estes sim é que precisam ser protagonizados.
Desse modo, ao se focalizar os projetos é dado o alerta ao eleitorado para as conseqüências da escolha, não apenas do nome do próximo presidente, mas a do país que se deseja construir ou reconstruir.
LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
EVENTO
MAZOLA
Related posts
Editorias
- Cidades
- Colunistas
- Correspondentes
- Cultura
- Destaques
- DIREITOS HUMANOS
- Economia
- Editorial
- ESPECIAL
- Esportes
- Franquias
- Gastronomia
- Geral
- Internacional
- Justiça
- LGBTQIA+
- Memória
- Opinião
- Política
- Prêmio
- Regulamentação de Jogos
- Sindical
- Tribuna da Nutrição
- TRIBUNA DA REVOLUÇÃO AGRÁRIA
- TRIBUNA DA SAÚDE
- TRIBUNA DAS COMUNIDADES
- TRIBUNA DO MEIO AMBIENTE
- TRIBUNA DO POVO
- TRIBUNA DOS ANIMAIS
- TRIBUNA DOS ESPORTES
- TRIBUNA DOS JUÍZES DEMOCRATAS
- Tribuna na TV
- Turismo