Por Miranda Sá

“É preciso que alguém fale, e fale alto, e diga tudo, custe o que custar!” (José Américo de Almeida)

Homenageou-se no mês de março o aniversário do jornal norte-rio-grandense “Tribuna do Norte” e o seu fundador, Aluízio Alves, jornalista de vocação sempre atuante. Aluízio, como homem de bom senso, conhecia o leitor-padrão dos jornais e ensinava na redação que era melhor suprimir o trecho de uma matéria do que acrescentar firulas ao conteúdo.

O noticiário jornalístico se perde por excesso de floreado que tira a atenção do leitor, como uma reportagem que li vinda de Nova York muitos anos atrás. Trouxe a história de uma violinista (de nome italiano, mas esqueci) que deixou no testamento o pedido para que no seu enterro se ouvisse uma tocata de Paganini e que o seu Stradivarius fosse enterrado com ela…. Ora, ouvir Paganini é uma maravilha; mas enterrar uma fortuna por simples egoísmo é uma excentricidade muito cara.

Essa extravagância testamentária se repete com pessoas de várias profissões, não é como se pode pensar, a vaidade egocêntrica dos artistas; a encontramos, por exemplo, entre os políticos, em maioria carreiristas, gananciosos e personalistas, como vimos nos discursos em defesa das emendas parlamentares discutindo o Orçamento.

Ensinar a fazer silêncio em algumas oportunidades deveria fazer parte da educação doméstica infantil, como escovar os dentes, não falar com a boca cheia e não beber água antes da sopa…. Hemingway lembrou num dos seus livros que “são necessários dois anos para aprendermos a falar e sessenta para aprendermos a calar”.

Como tal ensino não é praticado, vimos há pouco o ministro Fábio Faria exagerar na falação, sugerindo que os jornais publicassem balanços sobre vítimas da pandemia, ignorando que já havia se formado um consórcio dos veículos de imprensa só com este objetivo…. E é o “homem de Bolsonaro” na Comunicação.

Tem um aconselhamento proverbial que diz: – “Falar é bom, calar é melhor, mas ambos são desagradáveis quando levados ao exagero”; esta lição serviria ao governador João Dória, que com incontinência propagandista correu para anunciar uma “vacina 100% brasileira” o que não é bem assim…

Os agentes públicos deveriam atentar que se o pronunciamento correr o risco de um equívoco, melhor será que se faça silêncio. Dicionarizada, a palavra “Silêncio” é um substantivo masculino significando total ausência de som, e também uma interjeição, quando vem precedida pelo sinal de exclamação. A origem é latina (silentium, -ii) e tem referência à situação de quem se abstém ou para de falar.

Um dos mais belos toques militares de corneta é clarinada do Silêncio, que é executado como honra fúnebre em enterros e avisa o recolhimento noturno. Kafka se refere à energia que reside no silêncio, e Shakespeare encerrou a sua genial peça Hamlet saindo da boca do príncipe moribundo: – “O resto é silêncio…” destas palavras se aproveitou o festejado escritor gaúcho Érico Veríssimo intitulando um dos seus livros, publicado em 1943, “O Resto É Silêncio.

Guardar o silêncio é prova de inteligência; mas ao alcançarem o poder, muitos s’ esquecem disto mantendo irrefreável loquacidade em assuntos que não lhe competem, ou simplesmente desconhecem, mas fingem conhecer…. E o pior é que não se conformam com as críticas da mídia sobre a tagarelice.

É assim que age o inconsequente presidente Bolsonaro na pandemia do novo coronavírus. Obcecado em desdenhar a peste como foi orientado pelo antigo líder, Donald Trump (que já se desculpou, mas não repercutiu aqui), e sem uma assessoria para orientá-lo, pois se cerca de iguais e inferiores à sua formação intelectual, continua dando maus exemplos à população pelo negacionismo explícito….

E, desgraçadamente, influencia o bando extremista falsamente assumido como “de direita” ou “conservador”, mas simplesmente de fanáticos pelo Chefe e achegados ao poder, muitos deles recebendo pixuleco nas redes sociais para defender o “tratamento precoce”.

Neste cenário vergonhoso e constrangedor, dá vontade de sugerir ao “Posto Ipiranga de Bolsonaro”, o ministro Paulo Guedes, ávido pela ressurreição da CPMF, que crie uma taxa para os boquirrotos, na mesma proporção como cobra pelos alimentos.


MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.