Por Siro Darlan

Santo Agostinho é dos mais importantes filósofos e doutores da Igreja de todos os tempos.

Sua mensagem e espargir através dos irmão agostinianos ao longo dos séculos Ciência e Amor anda muito abalado nos tempos modernos onde a ciência anda em crise ante o negacionismo e o amor anda fora de prática nessa sociedade de ódio. Ainda assim temos sua literatura, ensinamentos filosóficos e exemplo sempre presente no desenvolvimento dos povos. Agostinho diz que “O limite do amor é amar sem limites”.

Vivendo em um mundo onde o que predomina é o egoísmo do capitalismo acumulador de riquezas, Santo Agostinho já advertia que “O supérfluo dos ricos é propriedade dos pobres”. No julgamento do STF que foi decretada a parcialidade do juiz Moro nos julgamentos contra o ex-presidente Lula, o Ministro Gilmar Mendes citou Santo Agostinho alertando do escândalo da mentira que está predominando nos julgamentos do judiciário através da prática do Lawfare.

Citando a obra de Santo Agostinho Sobre a Mentira (De Mendacio), o Ministro Gilmar Mendes chamou a atenção para a aliança judicial mediática que se unem para promover um verdadeiro “assassinato de reputação” utilizando-se de mecanismos legais de perseguição. Santo Agostinho adverte “Permanece, assim, que nenhum homem bom deve mentir”, mostrando de forma categórica o que ele pensa sobre o homem que mente.

Para deixar claro o motivo, ele segue: “Eles são assassinos de si mesmos”. Ou seja, antes de mais nada, a mentira parece ser algo que vai contra o próprio mentiroso. No dia da mentira, onde o que Agostinho diz parece estar tão distante, chegou aos nosso dias quase como regra com o advento das redes sociais e das fake news, vale a pena refletir: Como a mentira afeta a nossa vida? Como nos assassinamos, cada vez que mentimos, um pouquinho? E como isso é prejudicial para a vida de pessoas e famílias atingidas.

Na concepção de Santo Agostinho, a mentira é um ato suicida, porque você está negando no sentido espiritual a verdade a si mesmo. Porque se Jesus é a vida e nós o negamos com nossas mentirinhas (e mentironas), também estamos negando a própria vida. Vamos morrendo espiritualmente. E Santo Agostinho é, mais uma vez, categórico aqui: “Na religião divina, jamais será correto proferir uma mentira, não importa quando”.

Agostinho, portanto, não admitia nenhum tipo de mentira. Em parte, isso foi provocado pela resposta que Agostinho sentia a necessidade de dar a todos aqueles pensadores que admitiam certo tipo de mentira como sendo legítima. A justificativa que alguns deles davam para tanto era, que havia um determinado tipo de mentira que se fazia “necessária” para evitar um dano maior; ou então, que, no caso, a revelação da verdade não traria benefício algum. Aliás isso também foi tangenciado nos votos de alguns ministro que queriam coonestar a ação do juiz suspeito e parcial em nome da coisa julgada, ou da alegação de presença de provas ilícitas a denunciar os atos ilegais do juiz e sua turma de procuradores.

Santo Agostinho, um Bispo da Igreja de Hipona, nascido em Tagaste, (atual Argélia) norte da África em 13 de novembro de 354, era filho de Monica (católica) e Patrício (pagão), e dedicou-se em seus estudos e reflexões à busca do verdadeiro conhecimento. Foi um dos maiores responsáveis pelas concepções educacionais não só de seu tempo, mas também da Idade Média, sendo que sua influência chega até os dias de hoje.

Aurélio Agostinho, como se chamava propôs que buscássemos a verdade em nosso interior. Partindo da concepção de nossa fragilidade do corpo. Agostinho ensinava que ao buscar o conhecimento na matéria, o homem se desviava do que lhe garantiria a verdadeira felicidade, isto é Deus. Portanto para encontrar a Verdade seria preciso que o homem deixasse de lado sua frágil materialidade e se voltasse para seu interior, para desse modo encontrar a iluminação divina da criatura. Cristo como verdadeiro Mestre, deveria ser o modelo através do qual todos os que ensinam deviam estimular a buscarem a verdade em seu interior.

Afinal foi Cristo que disse: “Eu sou a Verdade, o Caminho e a Vida”. A mentira é, então, uma negação do próprio Jesus, e em circunstância nenhuma pode ser tomada como um bem em si.

Toda essa introdução se justifica porque esse anos o Colégio Santo Agostinho, que leva ao mundo através dos educadores agostinianos completa 75 anos dessa tarefa educacional, no coração do Leblon. Inaugurado em 18 de março de 1946 como Externato Santo Agostinho, tinha ao lado uma Igrejinha em honra de sua mão Santa Mônica e o Colégio com suas colunas romanas. A paróquia chama-se Nossa Senhora da Consolação e Correia.

O Colégio Santo Agostinho sempre foi uma referência de nobreza e qualidade na educação no Brasil, mas sobretudo no Rio de Janeiro, sempre com a direção cristão e qualificada dos frades agostinianos que teve entre seus diretores desde a sua fundação os Freis Ângelo Gorostide (1945/1949); Isidro Gonçalves (1949/1951) Valentin Rejon (1951/1962); Fermin Gonzalez (1962/1972); Juan Manuel Perez (1972/1995); Vicente Dies (1995/2001); Jesus Roitegui (2001-…). Tem no seu brasão a água de Hipona, que simboliza a santidade e sabedoria; a estrela que marca o farol da universalidade dos ensinamentos de Santo Agostinho, o Livro aberto faz menção à obra de Santo Agostinho como escritor e autor de obras teológicas e filosóficas; as palavras Caritas et Ciência é o amor ao conhecimento e a verdade, indicando que o Colégio da continuidade à obra de Santo Agostinho.

Foi nesse cenário que cheguei em 1959. Havia uma igrejinha bem menor e muito simpática, com um pátio mouro nos fundos, onde existia um lago com peixinhos e uma lendária tartaruga de 200 anos, que teve um triste fim ao ser incendiada embaixo do lixo, onde se refugiara, sem que o incendiário soubesse. Havia aprendido a ser coroinha na Igreja São Paulo Apostolo de Copacabana, e curtia as férias de final de ano, já morando no Leblon, quando me apresentei para ajudar nas missas durante as férias. Frei Aurélio, o “faz tudo” da comunidade entusiasmou-se comigo que sabia a missa toda em latim.

Disse-lhe que estudava em colégio interno do SAM, situado em Jacarepaguá e para lá voltaria no final das férias. Penalizado, Frei Aurélio conversou com o vigário Frei Valeriano, tio de Frei Heliodoro, que consultou o diretor do colégio Frei Fermin e me ofereceram uma bolsa de estudos no colégio. Ganhei na loteria! Falei com minha mãe e ajeitamos de não mais voltar para o internato do SAM – Serviço de Assistência ao Menor, depois Funabem, depois CBIA, hoje extinto.

Comecei a estudar no terceiro ano primário no melhor colégio e mais puxado ensino do Rio de Janeiro. Grande desafio com minhas parcas economias para integrar-me nessa comunidade de ricos e bem aquinhoados colegas. Uniforme, material acadêmico, roupas, sapatos, viagens ao exterior, e outros conhecimentos completamente desconhecidos e inaccessíveis para um menino pobre vindo de um colégio interno para crianças carentes.

Foi um presente de Deus conviver com “doce frailes cuidan tu vida guardan tu alma contra el mal”. No meu caso era muito mais que doze frades que vou tentar relembrar os nomes: Valeriano, Aurelio, Geraldo Echavarria, Roman, Gregório, Eulogio, Antonio Garciandia, Valentin, Baudelio, Isidro, Heliodoro, Juan Manuel, Manuel Soarez, Miguel, Jose Belmonte, Vicente, Jose Antonio, Enrique, Benjamin, Rui Portugal, Fermin, Bernardino, e outro cujas passagens foram efêmeras. Mas essa convivência e amizade foram um aditivo precioso em minha vida porque passava todos os meus dias na igreja convivendo com ele e trocando informações, jogando futebol e muitas outras atividades aprazíveis.

Depois de algum tempo concluído o curso primário, ou seja o 5 ano, parti para o Seminário de Ribeirão Preto –SP, onde fiquei até o final do ensino fundamental. Voltei para o Rio, e, mais uma vez a generosidade dos frades agostinianos me foi acolhedora, desta vez não mais como aluno, mas como bedel, inspetor de alunos. Essa experiência foi muito agradável, porque, ainda jovem pude lidar com os estudantes com amizade de muitos e aprendizagem mútua.

Daí a razão dessa homenagem ao Colégio Santo Agostinho, ao próprio Agostinho e aos frades que sempre me acolheram e ensinaram o caminho do bem e da verdade.


SIRO DARLAN – Juiz de Segundo Grau do TJRJ, Mestre em Saúde Pública e Direitos Humanos, membro da Associação Juízes para a Democracia, conselheiro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da imprensa Livre.