Por Pedro do Coutto –

As múltiplas reivindicações de governadores estaduais junto ao presidente eleito, Lula da Silva, incluindo compensação por perda do ICMS e retomada de obras públicas paralisadas, politicamente bloqueiam qualquer investida do PL bolsonarista para formar uma oposição intensa ao governo que se instala em 1º de janeiro.

Soma-se a essa questão o apoio anunciado por Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil de Bolsonaro, ao projeto de emenda constitucional da transição e também ao reajuste acima da inflação do salário mínimo.

PRESSÃO – Reportagem de Bianca Gomes e Gustavo Schmitt, O Globo, focaliza amplamente a pressão de governadores tanto por medidas compensatórias pela perda de ICMS, operação usada pelo atual governo para reduzir artificialmente os preços da gasolina e do óleo diesel, e também a pressão voltada para a retomada de obras públicas.

Relativamente ao posicionamento de Ciro Nogueira, senador pelo Piauí, a reportagem é de Matheus Teixeira, Folha de S. Paulo. A posição dos governadores que lutam para reaver receitas perdidas, reflete-se claramente na posição das bancadas partidárias tanto no Senado quanto na Câmara Federal.

Portanto, numa fase de reivindicações encaminhadas ao Palácio do Planalto que entra em campo a partir de janeiro, revela nitidamente que qualquer impulso oposicionista será em vão, pois não é possível que correntes que reivindicam definições presidenciais possam paralelamente declarar-se em oposição ao governo ao qual batem na porta.

APOIO DE CIRO NOGUEIRA – A oposição assim se evapora com o sopro da realidade política e da própria realidade humana. Não é possível, como antigamente ocorreu com a UDN de Carlos Lacerda, fazer-se oposição pelo próprio prazer de se opor. Tal comportamento contraria a essência da política. O apoio de Ciro Nogueira firma uma posição de seu partido que apoiou Bolsonaro nas eleições, mas agora, como era esperado, apoia Lula no governo.

Assim, era mais que previsível o isolamento do bolsonarismo apesar da insistência de bolsonaristas em bater às portas de quartéis na reivindicação mais absurda possível, derrubar a democracia e manter Bolsonaro no poder. Quanto à PEC do Orçamento, ela vai integrar a Lei Orçamentária para 2023, cujo teto, isso sim, se elevará dos atuais R$ 4,8 trilhões, para aproximadamente R$ 5,3 trilhões.

As obras públicas paralisadas têm que ser retomadas, pois a paralisação representa uma economia de muitos milhões de reais e também para a retomada de uma política de emprego com vinculação trabalhista. Sem essa vinculação, como escrevi ontem, INSS e FGTS devem substanciar as parcelas de receita financeira. Basta dizer que a arrecadação das duas fontes sociais incidem sobre as verdadeiras folhas de salários.

MANTEGA É AFASTADO – Depois da correspondência absurda com a secretaria do Tesouro dos Estados Unidos para adiar a eleição do novo presidente do BID, estava clara a necessidade de afastamento imediato do ex-ministro Guido Mantega da equipe de transição do setor econômico. Reportagem de Natália Portinari e Patrick Camponêz destaca o assunto na edição de ontem de O Globo.

Para não causar um impacto capaz de sensibilizar o governo que assumirá em janeiro, provavelmente o vice Geraldo Alckmin traçou uma fórmula para suavizar o afastamento inevitável. Baseou a decisão numa norma do Tribunal de Contas da União que bloqueia a participação de Guido Mantega em cargos públicos ainda em consequência do processo de pedaladas fiscais que acarretou o impeachment de Dilma Rousseff.

Mantega permanece apenas como voluntário e não pode participar da formação da equipe que exige ato administrativo. Mantega se inclui agora num grupo de voluntários que podem ou não ser consultados. Ele teve a sua inclusão anunciada na quarta-feira da última semana e na sexta-feira dirigiu a correspondência à secretária Janet Yellen. Em um espaço de dois dias, acrescento, causou um desastre.

Agora sai de cena.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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