Redação

Dois peritos federais estão trabalhando em tempo integral na análise do vídeo da reunião do presidente Jair Bolsonaro com seus ministros no último dia 22. Os trabalhos começaram na quarta-feira (12). O Instituto de Criminalística da Polícia Federal ainda não informou quando a perícia deverá ser concluída, mas técnicos da área acreditam que o trabalho deverá durar entre cinco e dez dias.

A perícia foi determinada pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que pediu a degravação integral dos diálogos e a verificação de eventuais edições no vídeo, apontado como prova pelo ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro tentou interferir politicamente na Polícia Federal. O objetivo, segundo o ministro, é averiguar a autenticidade e a integridade do material.

Policiais federais, representantes do governo e da Procuradoria-Geral da República, além da defesa do ex-ministro, assistiram ontem à gravação da reunião. Celso de Mello deu prazo de 48 horas para a PGR se manifestar sobre a divulgação do vídeo. Segundo fontes que acompanharam a exibição, Bolsonaro defendeu mudança na superintendência da Polícia Federal para proteger sua família de investigações.

defesa de Moro pediu a divulgação do vídeo na íntegra como “lição cívica”. Há relatos de que ministros se excederam durante o encontro e dispararam ofensas contra autoridades. O governo resistiu a entregar o material e quer que seja divulgado apenas o trecho mencionado pelo ex-ministro. Em tese, Celso de Mello pode dar publicidade à gravação antes mesmo da conclusão da perícia.

O processo obedece a protocolos internacionais. Os peritos trabalham sobre cópia da gravação para preservar a integridade do conteúdo original. Em seguida é feita a análise de conteúdo, que é a transcrição objetiva de tudo que se passou na reunião, com a descrição do cenário.

Os técnicos analisam também se houve alguma edição, intencional ou não, da gravação. Nesse caso, é avaliado se houve mudança no conteúdo, como inversão na ordem dos trechos, supressão ou adição de imagens. Nem toda edição é considerada uma fraude. Isso só é caracterizado quando há tentativa de mudar o conteúdo com a finalidade de favorecer a parte envolvida.

O período para análise de um vídeo depende do tamanho da gravação e de sua qualidade. Os peritos costumam gastar 30 vezes o tempo de duração do conteúdo para concluir a apuração. Ou seja, se o vídeo tiver duas horas, o trabalho poderá chegar a 60 horas.

O presidente da Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, afirma que a perícia é fundamental para extrair a verdade em uma guerra de narrativas, como a travada entre Bolsonaro e Moro.

“Todo esse trabalho pericial é fundamentado em base científica. Por isso que é um trabalho isento, imparcial, equidistante das partes. Ele busca a verdade dos fatos, independente de prejudicar ou favorecer quem quer que seja. Doa a quem doer, nós buscamos a verdade dos fatos. Temos de trazer a verdade à tona para auxiliar no julgamento dos processos nessa guerra de narrativa para ver quem tem razão”, disse Marcos ao Congresso em Foco.


Fonte: Congresso em Foco