Por Luiz Carlos Prestes Filho –
O Rio de Janeiro perdeu um carioca da gema que deixa muitos seguidores e grande saudade – o queridíssimo cachaceiro Paulo Magoulas! Líder carismático, ele passou a vida naturalmente… sempre atrasado. Sua filha, Luciana, recorda: “Ele marcava vários compromissos no mesmo dia, um encima do outro. Chegava nos locais, cumpria o compromissos! Mas não necessariamente na ordem e na hora exata. Era um homem sem relógio, com calendário e responsabilidade.”
Filho de grego, o que significa que o costume de consumir bebidas alcoólicas esteve presente em sua vida desde muito cedo, amava a cidade do Rio de Janeiro, conhecia todos os seus recantos e bares. Foi na cachaça que ele se encontrou. Quando conheceu, foi amor a primeira vista: “Se encantou e nunca mais largou um copo, em especial com a branquinha. Apesar dos seus pais não serem fãs deste destilado.”
Maugolas nasceu e morou em Copacabana a vida inteira. Somente depois de velho que resolveu se mudar para Jacarepaguá, conta sua filha: “Seus primeiros estudos foram realizados no Colégio Guido de Fontgaland e no Colégio Rio de Janeiro. Graduou-se pela Escola Brasileira de Administração Pública ‘Hélio Alonso’, com especialização em jornalismo e rádio. Mas ele foi um homem de mil e uma atividades. Teve seu destaque como publicitário; ocupou importantes cargos públicos; trabalhou com o carnaval; e ainda fez bicos como ator, com participações em inúmeros filmes nacionais.”
Apaixonado pelas coisas do Brasil, fez da cachaça sua bandeira: “Foi em 1993, papai estava no restaurante ‘Academia da Cachaça’ com alguns membros da extinta Confraria dos Amigos do Rio, quando veio a ideia de criar uma entidade para defender e valorizar a bebida mais representativa do Brasil – assim surgiu a Academia Brasileira da Cachaça (ABC). Através de um grupo de pessoas com poder de mídia, iniciou os trabalhos. Sempre fui aos encontros da ABC e, recentemente, ajudei na organização da última posse. No início era um grupo pequeno.”
Para Luciana, seu pai merece um livro: “Assunto não falta. Com certeza teremos que abordar sua paixões. Política, futebol, carnaval, publicidade e cachaça são temas que não podem faltar. Mas não necessariamente nessa ordem.”
Como museologa, Luciana entende que quando construírem o Museu da Cachaça não pode faltar o bar “Paulo Magoulas”: “Mas só podem servir cachaça de alambique! Caso contrário ele vai ficar bem chateado.”
Segue abaixo, com exclusividade para o jornal Tribuna da Imprensa Livre, depoimentos de grandes amigos que reconhecem o papel de Paulo Magoulas na luta pela valorização da cachaça brasileira. O destilado que tem potencial para enfrentar o whisky e a vodka em todos os continentes.
Eli Werneck, produtor da Cachaça Werneck:
“O Paulo era um daqueles publicitários de mão cheia. Dava conta do recado sem auxílio de computadores ou quaisquer desses softwares modernos. Lá na década de 80, ele trabalhava na agência (Professa) que fazia a comunicação da empresa onde eu trabalhava (Volvo Penta). Quis o destino que nos reencontrássemos algumas décadas depois – ele já um guru da cachaça e eu, um recém aposentado engenheiro me iniciando na produção da cachaça. Magoulas, embora já fosse provavelmente o Expert número 1 no mundo da cachaça, nunca subiu num pedestal. Ele me ajudou muito, tanto nos comentários e sugestões sobre os produtos, como me ajudando a vender e indicando meus produtos no mercado. E garantidamente fez isso com muitos outros colegas produtores. Ele sabia reconhecer os bons produtos e bons produtores. Não há dúvidas que a Imagem da Cachaça melhorou muito nesses últimos 30 anos e Paulo Magoulas deu uma enorme contribuição para isso. Com o seu carisma, foi pouco a pouco ensinando ao público como degustar e fazendo os donos de bares e restaurantes escolherem boas opções de cachaças para suas Cartas. Deixa no seu legado, a famosa Academia Brasileira da Cachaça (ABC), além do papel fundamental que teve na Confraria de Cachaça Copo Furado, a pioneira do Brasil. Teve também atuação no incentivo às manifestações de cultura popular. Deixa inúmeros discípulos e admiradores. E para nós, amigos, vai deixar saudades!”
Katia Alves Espírito Santo, produtora da Cachaça da Quinta:
“Paulo Magoulas, conhecedor e divulgador da cachaça, por décadas, com seu estilo envolvente, acolhedor e agregador de tantos pessoas e bares com a Cachaça. Foi pioneiro e integrante assíduo da Confraria de Cachaça Copo Furado. E, notoriamente, reuniu personagens célebres em torno da Academia Brasileira da Cachaça (ABC), criada e mantida viva por ele, como produto cultural e de valorização da cachaça. Ele próprio é um personagem célebre entre os tantos artistas, intelectuais e outros notáveis da Academia Brasileira da Cachaça, muito conhecido e estimado, profundamente apaixonado pela Cachaça e seu divulgador por ofício e encantamento. Sua memória ficará conosco para sempre, com saudade.”
João Luiz de Faria, produtor da Cachaça Magnífica
“Paulo Magoulas foi meu irmão. Ele desempenhou papel fundamental na estruturação das políticas brasileiras voltadas para a cachaça. Primeiro no Estado do Rio de Janeiro e depois em todo o Brasil. Época quando os produtores do Estado de Minas Gerais não queriam nem ouvir na palavra CACHAÇA, defendiam a denominação AGUARDENTE. Foi o Paulo quem levantou a nossa bandeira identitária! Em 1994 dei início a um projeto no mínimo insensato, de produzir uma cachaça tão boa que pudesse competir com os melhores destilados do planeta. Foi este sonho que logo me ligou a Paulo Magoulas, criador, àquela altura da ACADEMIA BRASILEIRA DA CACHAÇA e membro fundador da CONFRARIA DO COPO FURADO e que, em virtude de sua paixão pela cachaça estava sempre em busca das melhores branquinhas (ou amarelinhas…) e se encarregava de promove-las. Sua amizade e parceria foram fundamentais para que, com seu aval, a Magnífica fizesse sua estreia junto aos apreciadores mais exigentes. Com ele e seu grande amigo Raul Hazan, percorremos o país participando de feiras, promovendo encontros e reuniões visando a promoção da cachaça de qualidade. Sua ação, seu conhecimento e sua expertise foram precioso estímulo e apoio para o processo de ordenamento e desenvolvimento do setor cachaça. O Paulo sempre estava na minha casa em Santa Teresa, nas reuniões de degustação que promovo com uma certa regularidade. Ele esteve inúmeras vezes no meu alambique, em Miguel Pereira, acompanhando a produção e participando de avaliações técnicas. Era um profissional apaixonado que tinha muita experiência. Sua simpatia reunia a seu redor um grupo cada vez mais numeroso de amigos que hoje choram sua perda. São inúmeras as boas marcas que ganharam reconhecimento a partir de seu trabalho. Seu rico legado permanecerá conosco e será sempre lembrado com saudade. SARAVÁ MAGOULAS! Que os anjos te brindem com uma bela branquinha!”
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Diretor Executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Cineasta, formado em Direção de Filmes Documentários para Televisão e Cinema pelo Instituto Estatal de Cinema da União Soviética; Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local; Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009); É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
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