Por Pedro do Coutto

Na edição de O Globo deste sábado, matéria de Mariana Rosário e João Sorima Neto, inclui declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante encontro na Federação Brasileira de Bancos, de que os juros rotativos dos cartões de crédito são um problema muito complexo e que é preciso ser equacionado sem prejuízo para os lojistas e para os compradores.

Realmente o problema dos juros do crédito rotativo, que passam de 400% ao ano, são uma questão altamente complexa. Com essa porcentagem,  é impossível qualquer resgate por parte dos consumidores. Os juros altos, acompanhados pelo fato de os salários perderem sempre para a inflação, formam o caminho que leva ao endividamento das pessoas físicas. Um endividamento que abrange, como a Operação Desenrola revelou,74 milhões de trabalhadores e trabalhadoras do país.

Charge do Fernandão (Arquivo do Google)

O consumo é forçado pela realidade inflacionária na medida em que os rendimentos do trabalho não acompanham os índices do IBGE. O recurso para o consumo, seja  de que tipo for, é o recurso ao crédito. E as taxas agravam ainda mais o problema. É uma declaração espantosa do presidente do BC sobre a questão.

TRABALHO – Cristiane Gercina, Folha de S. Paulo, destaca o início de um movimento na Câmara Federal para tornar sem efeito a portaria do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que condiciona o trabalho aos domingos e feriados à necessidade de inclusão da perspectiva  em convenção coletiva.

A portaria é considerada como um fator de fortalecimento dos sindicatos, uma vez que as convenções coletivas só podem ser firmadas através de entidades sindicais representativas das categorias profissionais. Os críticos da portaria acham que ela criou um problema adicional desnecessário em relação ao quadro atual.

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Verbalização na política, feita por Biden, cria uma outra realidade

Biden chama Xi Jinping de “ditador” após encontrar-se com ele

A verbalização na política, e até em todas as relações humanas, pode definir uma situação verdadeira, mas gera impactos e cria uma outra realidade, evidentemente não desejada por quem a comete. É o caso do presidente Joe Biden ao dizer durante uma entrevista coletiva que o líder chinês Xi Jinping é um ditador.

Ele respondeu a uma pergunta confirmando a declaração feita no passado sobre o presidente chinês. Mas, numa falha enorme, não considerou, pelo que se pode compreender ao interceptar o episódio, a visita que o líder de Pequim estava realizando nos Estados Unidos.

CONVERGÊNCIA – A afirmação, claro, reflete a verdade. Mas nem todas as verdades podem ou devem ser repetidas ou enfatizadas em todas as situações. Os entendimentos entre os Estados Unidos e a China tinham convergido para pontos comuns nos últimos dias.

Não quero dizer que tais pontos sofrerão alteração ou consequência, mas ficou evidente o mal estar estabelecido, dando margem às desconfianças quanto ao comportamento do presidente Biden em outras situações, sobretudo porque ele disputará a reeleição em 2024.

Poderia ter contornado a pergunta e evitado verbalizar uma situação evidentemente real. Mas o real, no momento, era absolutamente impróprio. São lapsos cometidos por autoridades que em função da importância do cargo ganham uma dimensão muito ampla e podem funcionar como freio a objetivos maiores. Na política não adianta perseguir-se o ideal porque este não existe.

DÉFICIT ZERO – Outro exemplo de verbalização que sensibiliza o tema déficit zero, no Brasil, foi feita pelo ministro Fernando Haddad, de acordo com ampla reportagem de O Globo desta sexta-feira, de Camila Turtelli, Alice Cravo, Sérgio Roxo, Alvaro Gribel e Bernardo Lima.

Haddad disse que a meta do déficit zero será mantida até março do próximo exercício. Deixou no ar, portanto, a existência de uma forte hipótese de em março futuro a meta ser alterada. Na Folha de S. Paulo, a reportagem, também bastante ampla, é de Renato Machado e de Idiana Tomazelli.

SELEÇÃO – Foi um desastre a atuação da seleção brasileira de futebol, na noite de quinta-feira, ao ser derrotada por 2×1 pela Colômbia. O treinador Fernando Diniz falhou na condução tática da equipe e nas substituições em série que realizou. Aliás, não só na parte técnica, mas também na convocação dos jogadores.

Agora, enfrentaremos a Argentina na terça-feira no Maracanã. Pessoas da minha família que desejavam ir ao estádio ficaram perplexas com o valor dos ingressos. Uma cadeira à margem do gramado teve o seu preço fixado em R$ 2600. Os ingressos de menor valor já estavam esgotados.

É incrível.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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