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Os assassinos de Marielle Franco agem novamente!
A covereadora Carol Iara faz parte do mandato da Bancada Feminista do PSOL foi eleita em outubro de 2020 (Reprodução)
Colunistas, Política

Os assassinos de Marielle Franco agem novamente!

Por Aderson Bussinger

O Brasil passa a ter hoje um novo caso de tentativa de calar uma parlamentar negra, feminista, travesti, assim como Marielle Franco, no Rio de janeiro, também identificada e expressão das lutas da comunidade LGBT. Trata-se de Caro Iara, eleita covereadora pela Bancada Feminista do PSOL em São Paulo, com 46. 267 votos, ao lado das covereadoras Silvia Ferraro, Paula Nunes, Natalia Chaves e a Advogada Dafne Sena, que estão iniciando o mandato coletivo feminista. Felizmente o objetivo de matá-la não foi alcançado, visto que dois tiros foram disparados em direção ao interior de sua residência, neste dia 27 de janeiro, mas não conseguiram alcançar seu corpo.

Digo no título acima que os assassinos de Marielle Franco agem novamente, independente de integrarem, ou não, o mesmo grupo de assassinos, milícias, grupo paramilitar, militar ou algo assemelhado, (o que, tendo em vista as circunstancias do caso, o mais provável é que possa ser um outro segmento atuando fora do Rio de Janeiro), mas pelo fato de que podemos identificar nesta tentativa de assassinato as mesmas motivações que levaram á execução de Marielle: o ódio contra mulheres negras que lutam e se destacam!

Com efeito, foi para mim este o principal elemento de motivação, qual seja, o ódio contra o ativismo de mulheres que vem se destacando em todo o país na luta LGBT, sobretudo as negras, que vem despertando em diversas cidades uma enorme quantidade de reações contrárias dos setores racistas, homofônicos e de extrema- direita, como dezenas de depoimentos de vereadoras negras que vem sendo hostilizadas, ameaçadas, como recentemente aconteceu em Curitiba com outra mulher negra de nome Carol, também feminista, a primeira vereadora negra, eleita pelo PT para Câmara dos Vereadores do município, Carol Dartora.

E não faltam exemplos semelhantes!

Este crime, político, está legalmente sob a responsabilidade de investigação da Secretaria de Segurança Pública o Estado de São Paulo, que, através da respectiva Delegacia de Proteção á Pessoa já tomou o depoimento de Carol , portanto, esperamos que tenha iniciado os trabalhos investigatórios, como é seu dever, mas, considerando o seu significado politico, é necessário que os seus desdobramentos sejam acompanhados por toda a sociedade brasileira, mormente as entidades de direitos humanos e de defesa da democracia, OAB, CNBB, ABI, porque, não é aleatório que Carol apresente, desde sua cor, semelhantes características de Marielle Franco, sendo ambas do mesmo partido, representativas e portadoras da mesma mensagem e bandeira da luta LGBT, neste momento em que, mais ainda do que no período no qual Marielle foi executada, a situação política está ainda mais tensionada e polarizada por um governo de extrema-direita no Palácio do Planalto, o que serve de estímulo para diversos grupos de extremistas de direita.

Por estes motivos, creio que a denúncia desta odiosa tentativa de assassinato deva transpor os limites do Município de São Paulo, ultrapassar as divisas do Estado de São Paulo e superar as fronteiras da República Federativa do Brasil, para dizer bem alto a todo o mundo: CHEGA DE PERSEGUIREM E MATAREM PARLAMENTARES NEGRAS !

Termino este texto, dizendo que, sim, os assassinos de Marielle foram certamente os mesmos que tentaram ceifar a vida de Carol, assim como os mesmos mandantes, mesmo sem o mesmo CPF, RG e origem geográfica, mas, do ponto de vista político, pelo pensamento nocivo e pernicioso que está sendo alimentado no Brasil pelo bolsonarismo e movimentos congêneres, para os quais torturar, matar faz parte não apenas do vocabulário de alguns políticos, mas da ação criminosa, conforme se depreende da tentativa de mais este triste crime.

Toda nossa solidariedade a Carol Iara e investigação, processamento e punição para os que tentaram, mas não conseguirão, calar sua voz !!


ADERSON BUSSINGER – Advogado sindical, diretor do Centro de Documentação e Pesquisa da OAB-RJ, conselheiro da OAB-RJ, membro efetivo da CDH da OAB-RJ, membro do IAB, ABJD e ABRAT (Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas). Colunista e membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre, integra a Comissão Nacional eleita de Interlocutores do Fórum Nacional em Defesa da Anistia Constitucional.

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