Por Carlos Pronzato

Em setembro de 1936, durante a Guerra Civil na Espanha, o fascismo teve diversas organizações, civis e militares, que atuaram contra a República espanhola. Em Granada especificamente, terra natal do poeta Federico Garcia Lorca, que seria fuzilado em agosto, aos 38 anos, logo no início da contenda, pelos falangistas da ultra direita, a sublevação nacionalista foi cruel, detendo e fuzilando os seus inimigos, ou aqueles imaginados como tais. A sublevação já tinha fracassado em Málaga, e Granada, na região de Andaluzia, estava rodeada pelo território republicano. Nessa cidade, os “vermelhos” formigavam.

Dentre muitas outras agrupações direitistas – A Falange, A Guarda de Assalto, As Milícias de Ação Popular, Os Espanhóis Patriotas, O Esquadrão Negro, As Milícias de Comunhão Tradicionalista, etc.- existia A Defesa Armada de Granada. Seus filiados eram conhecidos como os “mangas verdes” devido aos seus braceletes desta cor e eram em geral inúteis para integrar agrupações militares por serem demasiado velhos. A sua missão se reduzia a espiar os seus vizinhos e denunciar atividades ou antecedentes de orientação esquerdista. A Defesa Armada chegou a ter no início, mais de 2.000 filiados e 4.000 solicitações de admissão, sendo responsável pela morte de centenas de granadinos inocentes.

Estabelecendo um paralelo com a turbulência política de hoje, num cenário rotundamente orwelliano, poderíamos imaginar que o processo fanático ultradireitista tupiniquim contemporâneo dos acólitos bolsonaristas, evangélico e miliciano, poderia chegar a tais extremos? Nos EUA, país cuja bandeira é tão exaltada quanto a verde amarela pelos seguidores do ex capitão, após os atentados de 11 de setembro foi instituído o Patriotic Act, pacote de leis antiterroristas que autorizava procedimentos contrários às liberdades civis como escutas telefônicas e monitoramento de mails, e que foi amplamente criticado.

Assistimos, nas recentes comemorações do Dia da Independência, ao discurso do ex presidente Lula sinalizando seu evidente desejo de retornar ao pleito eleitoral com vistas à corrida presidencial de 2022. Após todas as estratagemas – Golpe, facadas, fakes news, prisão do líder das pesquisas – aplicadas pela direita, desde o triunfo de Dilma Rousseff em 2014, para atingir de qualquer forma a presidência e enterrar de vez o “comunismo vermelho petista”, não seria adequado imaginar que uma simples evidência de um possível triunfo do PT nas próximas eleições poderia desencadear uma caça às bruxas brutal das hostes fascistas verde amarelas? Que as atrocidades acontecidas na Espanha, e em toda a Europa posteriormente, nos sirvam de alerta em tempos de avanço do fascismo no mundo.


CARLOS PRONZATO – Cineasta documentarista, poeta, escritor, membro do IGHB.

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