Por João Herminio

Certa vez em um jantar de arrecadação de fundos para uma campanha eleitoral de governador, um presidenciável falou bobagens sobre a II Guerra Mundial, praticamente negando o papel da União Soviética e de seu dirigente à época, e exacerbando o papel de Winston Churchill e do Reino Unido.

Evidentemente que respondi sugerindo leituras. Porém, diante de uma réplica com argumento flagrantemente anticomunista, ainda que em tom fraterno, divertido e companheiro, e percebendo uma garrafa de whisky na mesa, acabei sendo flexível e encaminhei o desfecho pacífico da conversa recordando que foi necessária uma ampla frente, com protagonismo da URSS, de UK e de USA, enfim, uma grande coalizão, que ainda contou com Getúlio Vargas e os heroicos pracinhas brasileiros da FEB, para finalmente varrer o nazifascismo do mundo naquele período. Em seguida, logo mudei de assunto pautando e resolvendo o que era importante na ordem do dia.

Trago essa particular lembrança para explicar que com o tempo, a gente aprende a não ter expectativa idealista com quem notoriamente pensa diferente de você, com quem reconhecidamente segue uma linha ideológica distante da sua. É óbvio e engraçado, mas precisa ser dito que o outro jamais será você. Mais que isso, aliança política só se faz com o outro, com o diferente, seja em menor ou maior grau de diferença.

A tão falada “frente ampla”, portanto, com muito mais razão, é na essência uma unidade de diferentes e de amplos setores, necessitando ultrapassar os limites ideológicos e as fronteiras das classes, em nome de um objetivo imediato e urgente politicamente comum. O resto é qualquer outra coisa exceto frente ampla.

É hilário, contudo real: não espere algo de onde nunca algo saiu.


JOÃO HERMINIO – Advogado, mestrando em direito público pela UNISINOS, secretário-geral do Centro Cultural Camarada Velho Toledo (CCCVT) e colunista do Jornal Tribuna da Imprensa Livre.