Por Lincoln Penna –
Não estou a me referir aos regimes monárquicos que mereceram essa denominação de absolutistas, como o da França do período imediatamente anterior à Revolução Francesa ou dos impérios devastados ao longo da Primeira Guerra Mundial, como o da Rússia, da Áustria Hungria e o do império Otomano.
Refiro-me ao novo regime absolutismo que está sendo gestado amparado pelo argumento eleitoral, a conferir aos novos governantes o direito de agir na contramão do bom senso, e a se escudar em forças militares, religiosas e alegais, tais como os milicianos, para construir a travessia que os levem ao exercício pleno do poder de mando, como no Brasil de Bolsonaro. Trump nos EUA foi contido, mas o trumpismo pode ter criado raízes com base num chauvinismo abjeto e odioso.
No Brasil essa demonstração sub nacional colorida nos tons da bandeira brasileira seria apenas gaiata se não fosse perigosa dada a uma hostilidade raivosa de seus ardorosos manifestantes. Intolerantes, violentos e destituídos de razão porque só exibem o ódio, reproduzem o estilo agressivo daquele a quem chamam de Mito. Para essa malta o presidente absolutista está acima das instituições, que só impedem que ele possa exercer sem limites os seus impulsos de um César de meia tigela.
O curioso é que além do núcleo duro dos fanatizados bolsonaristas há quem se curve aos impulsos da sua interminável megalomania, que beira a obsessão delirante de um estágio avançado de demência.
Compará-lo a lideranças carismáticas de tempos passados e de regime autoritários ou totalitários é qualificar sua conduta, porque esses personagens possuíam um projeto para seus concidadãos, mesmo atropelando as liberdades, a democracia e os valores civilizatórios. Nem isso o candidato ao novo absolutista possui. Seu intento é a remoção dos bens democráticos e libertários do povo, para justamente se impor como solução para o caos construído pela sua inação.
Com a pandemia desde cedo desqualificada e por isso mesmo ignorada por Bolsonaro, o tamanho cruel de seus efeitos tem sido desastroso. Nesse momento, meados de março de 2021, o Brasil se encontra no epicentro da crise sanitária mundial com previsões ainda mais catastróficas. Mesmo assim, a sua base fanatizada permanece fiel e toma iniciativas isoladas, porém de alcance imprevisível para o futuro imediato ao atacar das formas mais diversas, seja nas redes sociais ou fisicamente, aos que criticam o governo de seu Mito. A médica Ludhmila ao demonstrar sua incompatibilidade com o ainda candidato a se transformar em presidente de uma república absolutista sofreu ataques e agressões que beiraram à estupidez mais sórdida, com ameaças aos seus familiares, unicamente porque pensa diversamente do Mito.
O tempo das análises e das críticas ao governo e a sua escalada rumo no novo absolutismo já está passando. Afinal, é preciso agir concretamente, até porque entre as parcas medidas desse governo há uma que está na ordem do dia do candidato ao absolutismo de novo formato, que é a distribuição de armas para a população indiscriminadamente. Leia-se: para os seus seguidores que cegamente o acompanham e estão prontos a cometerem aventuras em defesa de seu Mito. Assim e antes que seja tarde demais, é preciso colocar a prudência em alerta.
Ela não é a tradução sempre da cautela serena e avessa ao conflito. Por vezes torna-se imprescindível que ela dê vazão à ação organizada e devidamente esclarecida para que se evite o mal maior.
LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
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