Por Ricardo Cravo Albin

“O ramerrão na insistência da sedução dos desfiles das Escolas de Samba já entupiu todas as universidades do mundo, bem como seus sociólogos. Eis aqui um raro sopro de originalidade.” – Ricardo Cravo Albin – Carnaval 2023.

Havendo tantos assuntos agudos a serem pautados dentro do dia a dia da realidade do Brasil, em especial a tragédia dos Yanomami, opto hoje por escrever sobre um assunto que não nos envergonha como o acima citado, escândalo de repercussão internacional agora investigado pelo Ministro Barroso do STF como genocídio. A desculpa é óbvia: Estamos há menos de três semanas para o início do carnaval.

O MAM do Rio inaugurou uma exposição absolutamente original sobre a grande Festa Popular do Rio, o carnaval, centrado em suas Escolas de Samba. Mas como, se todos insistimos nesse assunto entra ano sai ano? Só que o título que nomeia este texto define o que considero “rara exceção”: São quarenta painéis de grande porte, com fotos da diversidade do desfile amorosamente clicados pelo fotógrafo Riccardo Giovanni, ítalo-americano de nascença e carioca apaixonado pelo Rio desde muitos anos.

O artista, que a cidade agora reconhece e proclama, é engenheiro e economista. Foi o arquiteto da obra “I Love Rio”, inaugurada no Cristo Redentor, e publicou o livro “Think Rio”, alentado volume de mais de 400 páginas que foi distribuído pelo mundo como cartão de visita para quem queira conhecer o Rio.

Não à toa, o atentíssimo fotógrafo enfatiza que sua expo no MAM, que será exibida em várias capitais da Europa e Estados Unidos é uma visão dos desfiles como forma de arte criada por ele dentro das suas fotografias. Para começar, suas fotos são instantâneos jornalísticos em preto e branco. Quando coloridas e transpostas para o preto e branco, Riccardo pinça apenas uma cor e a insere dentro da foto. Ou cor única em detalhes igualmente únicos e contidos severamente, ou seja, sua técnica nunca vista por mim antes em qualquer clique de fotógrafo conceituado permite que o público possa ver claramente as emoções dos desfilantes, assim como detalhes dos figurinos e dos ritos faciais, até corporais, dos personagens fotografados, individualmente ou no conjunto. Portanto a imposição de uma determinada cor na crueza do preto e branco original recria a foto, impondo-lhe um toque único de magia, de criação.

Enfim, do que se pode definir, como acentuava Mario Pedrosa, de arte. Ou de milagre.

Todos sabemos muito bem que a intensidade e velocidade do desfile monumental embriaga e confunde dentro de um sentimento global de beleza. Tão ágil e forte quanto um soco inesperado no estômago. Mas os milhares de detalhes, encantos sutis e minimalistas, que cada ala sugere praticamente se quedam fora da memória específica do recorte individualizado de cada momento.

Creio que, mesmo eu acostumado com a verificação permanente dos sortilégios com que sempre as Escolas me nutriram a vida inteira, nunca pude testemunhar progressões e avanços plásticos no tratamento dos chamados “flagrantes fotográficos”.

Riccardo Giovanni imaginou um toque de fantasia, de sonho, uma originalidade plástica a se desenvolver ao infinito não impossível em novos experimentos sequenciais de recriação da fotografia.

Corra ao MAM!

Depois você terá que ir longe… a Londres, Roma ou Nova York para ver essa exposição tão universal.

Exposição O Carnaval que Ninguém Vê: O Encanto da Arte Fotográfica na Marquês de Sapucaí do fotógrafo e artista Riccardo Giovanni - Alex Ferraz

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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