Por Ricardo Cravo Albin –
“Ambientalistas estão chocados com o paradoxo: a devastação na Amazônia diminui, e a do Cerrado aumenta. Um apelo à Janja.”
De fato, a perplexidade provocada pela informação acima faz acreditar que os paradoxos e as contradições confirmam que o Brasil não é mesmo para principiantes.
Como vestir um santo para despir outro? Como se celebrar a diminuição da devastação na Amazônia, um escândalo internacional, quando as mesmas pesquisas sobre resultados positivos na Amazônia anunciam outra tragédia, a devastação criminosa em outro bioma fundamental, o Cerrado? Como Lula vai explicar no mundo que este país está virado de cabeça para baixo? Como fazer o mundo acreditar que os crimes contra a natureza não cessam por aqui, apenas se transferem para outros biomas para que o lucro dos devastadores se mantenha intocável? Meu Deus! Daqui, já que o Presidente parece estar sendo pouco informado sobre a tragédia do Cerrado, faço apelo à participante Primeira Dama, a socióloga Janja, para que alerte Lula sobre um possível novo escândalo internacional a abater o segundo maior bioma do país, o Cerrado. O horror ficou claríssimo na informação do INPER, que monitorou o bioma. A área derrubada no Cerrado de agosto do ano passado a 31 de julho deste ano totalizou 6.400 Km2, a maior desde que ele começou a ser monitorado em 2019.
Neste exato período, quando Lula foi cobrado sobre a devastação da Amazônia em quase todas as reuniões de que participou mundo afora, o acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia foi de 8.000 Km, a menor marca anual em quatro anos. Apesar de nos parecer enorme a área – e de fato é – este número é 7,4% menor em relação ao mesmo período anterior (2021-2022). Ou seja, no Cerrado foi 16,5% maior. O que permite uma conclusão de causa e efeito: foi certamente o tempo menor de ação direta do Governo Federal sobre o Cerrado, porque concentradas as baterias (e com razão) na Amazônia. Isso fez com que se vestisse um santo para se despir o outro, involuntariamente.
Marina Silva, juntando todas suas forças, declarou muito constrangida que os dados “horrorizantes” sobre o Cerrado se devem muito mais às autorizações indevidas pelos estados da União, que são irresponsáveis e criminosos, já que emitem autorizações para a supressão da vegetação.
Deixo claríssimo, desde logo, ao solicitar as atenções de Dona Janja junto a Lula para o gravíssimo incômodo de uma próxima reclamação do mundo inteiro ao nosso Presidente. Como justificar agora o aumento acachapante da devastação ao segundo maior bioma do Brasil, o cerrado, logo depois da Floresta Monumental?
Claro que os dois biomas, o da Amazônia e o do Cerrado, são muito diferentes, mas a destruição tanto de um quanto do outro, os farão se ligar entre si, determinando que a vida da natureza está interligada, assim como os órgãos do corpo humano. Mexe em um, deteriora o outro. Convém alertar os prezados leitores, bem como nossa interlocutora Dona Janja, que todos esses dados sobre os dois biomas principais foram divulgados na cúpula da Amazônia, recém encerrada no último dia 9 em Belém, com a presença de Lula.
As repercussões foram, suponho, imediatas pela gritante contradição entre melhoria e piora da devastação florestal no Brasil.
No Cerrado, cabe anotar que as pesquisas identificaram os estados em que se registraram maior devastação, Bahia, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso e Pará.
Ao Ministério do Meio Ambiente cabe cobranças rigorosas do Governo Federal e consequente apoio financeiro, para reforçar – e já, já, já – o endurecimento na fiscalização do IBAMA e do ICM BIO, com aumento imediato nas apreensões, multas e embargos no Cerrado. Nós, população brasileira, fomos informados de que foram impostas (de janeiro a julho) mais de 2 bilhões de reais em multas na Amazônia, valor 150% maior que no mesmo período do ano anterior. Já no Cerrado, o governo aplicou R$ 133 milhões em multas, menos de 90% que no período anterior.
A conclusão, prezados Dona Janja e leitores, é muito fácil. Dobrar-se, triplicar-se o número de multas, e igual procedimento para se ampliar o número de fiscais. Em resumo, jogo duríssimo.
Salvemos, meus caros, o Cerrado de imediato. Ele nos é essencial. Os criminosos, maus cidadãos, estão à espreita.
RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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