Por Cacau de Brito

Já perdemos 500 mil brasileiros para o novo Coronavirus.

Estamos em luto por tantas vidas que se foram e, aqui manifesto meus sentimentos a todas as famílias atingidas pela perda de seus entes queridos.

Nossa economia que já estava frágil, desceu ladeira a baixo com a crise sanitária. Outros países, que enfrentaram a pandemia de acordo com as normas preconizadas pela ciência, já se recuperaram da crise. No nosso caso, seguimos enterrando nossos parentes e amigos e assistimos fome e desemprego crescerem de forma assustadora.

A juventude foi afetada como nunca na história recente do nosso país. Foram-se os empregos e também a esperança de retomada da dignidade para milhões de jovens brasileiros. O desemprego é o maior desafio para essa faixa etária atualmente.

De acordo com pesquisa realizada pelo IBGE, de quase 14 milhões de pessoas desempregadas, cerca de 70% é da faixa-etária entre 14 e 24 anos de idade.

O 1º de Maio de 2021 teve ato em fábrica com trabalhadoras em greve. Trabalhadores e entidades sindicais reuniram-se em um ato em frente à Sun Tech, fábrica que se tornou palco de importante luta em defesa dos empregos, em curso no país (Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos/ Reprodução)

A falta de experiência dificulta a inserção no mercado de trabalho. A educação e a qualificação profissional abrem portas, entretanto, os índices de evasão escolar também atingiram patamares nunca vistos. No primeiro trimestre de 2021, o desemprego entre jovens de 18 a 24 anos apresentou o índice de 31%, uma taxa histórica. Segundo pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, um quarto dos jovens, de idade entre 15 e 29 anos, não estuda e nem trabalha. Os estudiosos os chamam de “desalentados”. O perfil desses jovens é composto, em grande parte, por pessoas com maior dificuldade no mercado de trabalho: mulheres, negros, pessoas sem instrução e que habitam nas regiões mais pobres do país.

O governo precisa investir em políticas inclusivas para ajudar os jovens a ingressarem no mercado de trabalho. Sem trabalho e sem estudo fica quase impossível a mobilidade social, ou seja, o pobre se manterá na pobreza, inevitavelmente.

Por proteção e maiores rendimentos, entregadores de aplicativos foram das categorias que realizaram greve durante a pandemia em 2020 (Jaqueline Deister)

Diante da crise, os meios de comunicação e os formadores de opinião apostam no convite ao empreendedorismo, como se todos os jovens tivessem o mesmo perfil: capacidade de liderança, expertise em investimento, planejamento e motivação. Isso não acontece em nenhum país do mundo! Aqui no Brasil, o empreendedorismo é visto como a “salvação” para o jovem e por isso é apresentado como a máxima expressão da liberdade quanto à carreira profissional. Isso é um engodo. Nossos jovens, que amargam o desemprego, em sua maioria se tornam escravos das empresas de aplicativo ou da insegurança da informalidade.

No atual estágio do capitalismo, empreender pode significar abrir mão de estudar, se divertir, estabelecer relacionamentos e até mesmo, cuidar da saúde. Tudo isso com a ilusão de ser o seu próprio “patrão”.

Cabe ao governo e aos legisladores estabelecerem políticas de valorização do emprego formal e não de destruição do direito sagrado ao trabalho digno. O emprego formal aproxima a juventude dos poucos direitos que ainda restam em nossa legislação e coopera para garantir qualidade de vida para essa juventude que segue excluída do mercado de trabalho.


CACAU DE BRITO é advogado, escritor, coordenador do Fórum da Cidadania e membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos fundamentais e militância na área dos Direitos Humanos. Foi diretor e coordenador-geral do Procon-RJ, assessor na Secretaria Municipal de Trabalho e Renda – SMTE, no Rio de Janeiro e chefe de gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ, em duas legislaturas. Fundador da Associação dos Advogados Evangélicos do Rio de Janeiro. Colaborador do Projeto Cristolândia, um programa permanente de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos e codependentes, dirigido pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Fundador e coordenador do Movimento O Rio pede paz e do Fórum da Cidadania do Rio de Janeiro.