Por Siro Darlan

Angela Davis, referência mundial como grande ativista pelos direitos de negros e mulheres, foi muitas vezes perseguida e presa por combater o preconceito racial no Alabama – EUA, um dos estados mais racistas do sul do país, quando esteve no Brasil para fazer conferências, indagou á plateia perplexa: O que eu tenho a ensinar a vocês? O que eu tenho de novo que Lélia Gonzalez já não tenha escrito e defendido? Ela se referia à grande ativista mineira pobre que se tornou uma das mais importantes intelectuais da academia brasileira Lélia Gonzalez (1935-1994).

Lélia, brizolista histórica foi a primeira mulher negra a se tornar chefe do Departamento de Sociologia e Política da PUC-RJ. Foi candidata duas vezes ao parlamento em dobradinha de outro ancestral digno de todas as reverências Abdias Nascimento. Lélia é referência não só no Brasil mas defendeu que: “Ao reivindicar nossa diferença enquanto mulheres negras, enquanto amefricanas, sabemos bem o quanto trazemos em nós as marcas da exploração econômica e da subordinação racial e sexual. Por isso mesmo, trazemos conosco a marca da libertação de todos e todas. Portanto, nosso lema deve ser: organização já”.

É necessário compreender e valorizar que a participação da militante Lélia Gonzalez na “Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias” na qual se discutiu questões relacionadas aos negros, bem como, as demandas apresentadas e os embates gerados. As fontes exploradas são a biografia da ativista, escrita por Ratts e Rios, e a Ata da sétima reunião da referida subcomissão da Assembleia Nacional Constituinte, intitulada “Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias”, na qual Lélia palestrou. De maneira geral, a participação da militante indica os elementos básicos das demandas do movimento negro contemporâneo e a apreensão da validade de seus discursos não parece ter sido unânime entre os constituintes. Contudo, a participação de ativistas na elaboração da Constituição cria a oportunidade de contato dos parlamentares com argumentos legitimadores da causa negra e de visibilidade para demandas sociais.

Lélia Gonzales – Fundação Cultural Palmares

Hoje são muito os grupos de ativistas que lutam pelos ideais originariamente defendidos em seu livros e trabalhos acadêmicos por Lélia Gonzalez, como é exemplo as Comissões da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil, que atuam na Ordem dos Advogados do Brasil, que assim como outros importantes grupos unem-se por alguns elementos centrais, sendo estes: denúncia do mito da democracia racial; busca por uma atuação política e apresentação de demandas aos poderes públicos; exortação de uma cultura afro-brasileira forjada na experiência escravista e pós-escravista; denúncia da discriminação racial, inclusive institucional; importância da educação e valorização de organização de eventos, congressos e centros de estudos; a estratégia de aglutinar os mestiços nos assuntos de interesses raciais; e a educação do negro.

A conquista pelos direitos e o respeito à diversidade racial, religiosa e cultural, assim como o reconhecimento da importância da influência dos africanos, hoje maioria na população e segunda nação com maior número de negros do planeta, precisa ocupar os espaços públicos de poder, de educação e de trabalho, combatendo o preconceito e o colonialismo enraizado em toda a sociedade.

SIRO DARLAN – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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