Por Amirah Sharif

Direito dos Animais!

Na semana passada, quis me distrair um pouquinho e fui “zapeando” os canais de televisão até que vi uma cena em que uma cantora sertaneja mata uma barata com o pé descalço dentro de uma casa de reality show.

Foi estranho ver uma barata na tal casa e, mais estranho ainda, alguém matá-la com o pé descalço numa demonstração clara de que o importante é que barata deve ser exterminada, porque incomoda.

Risco à saúde?

Segundo Ana Bonassa, bióloga, doutora em Ciências pelo ICB-USP ( Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo), não há grandes riscos à saúde, quando se mata uma barata com o pé descalço. “O que sabemos é que baratas podem ser repositórios de microorganismos, como a salmonella, que causa vômito, diarreia, entre outras coisas”, explica. No entanto, de acordo com a bióloga, esses microorganismos precisam encontrar uma via de entrada para nosso corpo, como a boca ou um machucado na pele. Outra coisa que pode ocorrer é alguma reação, principalmente na pele, caso alguém tenha passado veneno na barata. “Mas a concentração também é pequena, então não daria nenhum efeito”, explica a bióloga.

Não me parece que a participante do reality tenha pensado em doença ou em algum tipo de consequência. Ela passou, viu uma barata e deve ter pensado que ali não era o lugar dela, então a pisou, esmagou, matou. Simples assim.

Planeta Fome

Elza Gomes da Conceição, a gigante Elza Soares, quando tinha apenas 13 anos, chocou a plateia com a surpreendente voz durante o programa de calouros de Ary Barroso, na rádio Tupi.

O meu filho mais velho João Carlos estava morrendo. Eu já tinha perdido dois filhos e não queria perder mais um. Eu não tinha dinheiro pra cuidar dele e ouvi no rádio que o programa do Ary Barroso de calouros Nota 5 estava com o prêmio acumulado. Não sei como, mas eu sabia que ia buscar esse prêmio”, disse Elza, que conseguiu fazer a inscrição, mas, para mostrar o seu talento e se apresentar, a avisaram que tinha que “ir bonita”.

Eu não tinha roupa, nem sapatos, não tinha nada! Então, eu peguei uma roupa de minha mãe, que pesava 60 kg e vesti, só que eu pesava 32 kg, já viu, né? Ajustei com alfinetes. Tudo bem que agora é moda. Hoje, a Madonna usa, mas essa moda aí fui eu que comecei. Alfinetes na roupa é muito meu, é coisa de Elza!” brincou a cantora.

Elza Soares lembrou que a plateia do show d calouros riu muito ao vê-la vestida daquele jeito e descreveu aquele momento:

Seu Ary me chamou e perguntou:

– O que você veio fazer aqui?

– Eu vim cantar!

– Me diz uma coisa: de que planeta você veio?

-Do mesmo planeta que o seu.

– E qual é o meu planeta?

– Planeta Fome!”

Apesar de muitos imaginarem que se tratava de fome de comida, Elza Soares escolhida pela BBC como a cantora do milênio, explicou o real conceito da resposta.

Tenho fome de saúde, fome do respeito, fome do amor”.

Ary Evangelista Barroso foi radialista e compositor de música popular brasileira. Ficou famoso por seus sambas, sendo conhecido como autor de Aquarela do Brasil, considerada uma expressão dos chamados “samba-exaltação”, foi também indicado ao Oscar de melhor canção original com a música Rio de Janeiro do filme Brasil. (Wikipédia)

Luto na MPB

Elza Soares faleceu no dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro e no mesmo dia da morte de Garrincha, que morreu em 20 de janeiro de 1983.

Lá pelos idos da década de 60, no auge da bossa nova, ritmo que vinha de uma classe média carioca branca, ela desceu o morro com orgulho de ser negra.

Elza sempre brigou por um mundo melhor, mais justo, mais humano.

As baratas

Segundo Eduardo Fox, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade federal do Rio de Janeiro “as baratas são insetos muito diversos e abundantes e, por serem onívoras, ou seja, por comerem de tudo, têm papel vital como decompositoras de restos orgânicos. Além disso, elas fazem parte da dieta de muitos outros animais, como aves, aranhas, lacraias e escorpiões. As baratas urbanas, em especial, são totalmente dependentes da presença dos seres humanos e muito importantes dentro da cadeia alimentar das cidades. Apesar de representarem apenas uma mínima porção das espécies existentes de baratas, cerca de 1%, elas são muito numerosas e o seu desaparecimento causaria um forte desequilíbrio nos ecossistemas urbanos. Por servirem de alimento a muitos predadores que fazem parte da fauna da cidade, como ratos e morcegos, seu fim causaria também uma rápida desestabilização das populações animais. Esses insetos consomem rapidamente toneladas de fezes, cadáveres, restos alimentares e até papel, cigarros e plásticos. Se sumissem, sofreríamos com um rápido acúmulo de resíduos humanos nos esgotos e cemitérios. Seria necessário um longo período de readaptação ecológica até que outro ser vivo ocupasse o nicho das baratas. Por isso, mesmo que não se goste delas, é mais sábio deixar que continuem habitando nossos esgotos, lixeiras e cemitérios”.

Ih, nojento!”

Ary Barroso e Tião Macalé. (Reprodução/Google)

Lembrei-me de Augusto Temístocles da Silva Costa, mais conhecido como Tião Macalé, comediante brasileiro, que tinha um sotaque característico e que era conhecido pelo bordão “ Ih, nojento, tchan!”

Pois é, Macalé, nojento é ainda o ser humano esmagar uma barata achando que ela não serve pra nada, é nojenta e não merece viver. Nojentas são nossas atitudes contra negros, contra pobres, contra favelados, contra gays, contra qualquer um que não faça parte de nosso mundinho colorido de Alice. Nojento é tudo isso e mais um pouco.

Até breve, guerreira Elza! Por enquanto, vou continuar aqui zapeando os canais de Tv e, até quando Deus permitir, continuar defendendo a VIDA!

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br


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