Por Jeferson Miola

Um estranho silêncio da população argentina chamava atenção das empresas de pesquisa eleitoral e da crônica política do país nas semanas prévias às eleições primárias [as PASO – Primárias Abiertas Simultáneas y Obligatorias] ocorridas neste domingo, 13 de agosto.

Com o resultado das PASO, o silêncio deu lugar a um sentimento de estupefação com a verdadeira hecatombe eleitoral que foi o desempenho surpreendente do ultradireitista Javier Milei, da força política La libertad avanza, que obteve a maioria das intenções de voto – cerca de 30,3%.

Sérgio Massa, do bloco Unión por la Patria [UxP], candidato do governo Alberto/Cristina Kirchner, alcançou 21,3%, ficando em segundo lugar. Com os votos de Juan Gabrois, o UxP alcançou 27,27%. E Patrícia Bullrich, direitista radicalizada e com uma retórica odiosa e extremista, ficou em terceiro lugar com 17% representando o espaço político Juntos por el cambio, do ex-presidente Maurício Macri, que totalizou 28,27% considerando o desempenho de Horácio Larreta.

As primárias [PASO] são um importante indicador de tendência do que poderá acontecer em 22 de outubro, quando acontece o primeiro turno da eleição presidencial. As PASO funcionam como uma pesquisa eleitoral representativa, pois capta a intenção de votos de aproximadamente 70% do eleitorado que compareceu às mesas de votação neste domingo.

Desde este ponto de vista, portanto, o cenário que as PASO prefiguram é nitidamente desfavorável ao peronismo/kirchnerismo e consideravelmente favorável ao espectro de direita/extrema-direita.

Evidente que nos dois meses até o primeiro turno de votação muita coisa ainda pode acontecer, inclusive o despertar do povo argentino para os riscos que Milei e Bullrich representam, enquanto ameaças fascistas que são.

Nestes próximos dois meses, o campo antineoliberal e popular terá uma árdua travessia pela frente, tendo de enfrentar dificuldades relevantes, a começar pela situação crítica da economia.

O governo nacional, tremendamente debilitado e com reduzida força política para reverter rapidamente a realidade econômica, ainda terá dificuldades notáveis para contrarrestar a especulação das oligarquias e do mercado com o dólar.

Além disso, Milei é um fator de potencial agravamento da desestabilização e especulação, devido às suas propostas de dolarização da economia e extinção do Banco Central, dentre outras medidas absurdas.

Neste sentido, poderá haver o aprofundamento da grave crise econômica com a evolução do debate eleitoral, tendo como resultante caos econômico, social e humanitário nos moldes do colapso que a Argentina viveu em 2001.

Há, aqui, uma confluência explosiva: a campanha de Milei repete a mesma consigna que embalou aquele período de turbulência e vertigem vivido pela Argentina no primeiro ano deste século: – “que se vayan todos!”.

Os próximos dramáticos dias definirão as condições em que o país chegará em 22 de outubro.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

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