Por Wilson de Carvalho

VARgonha, à parte, tive vontade de rir quando Luís Roberto, substituindo Galvão Bueno no Bem Amigos,  pediu a união dos clubes, junto à  CBF, para evitar  o desfalque de jogadores convocados para as seleções brasileiras sub-17, sub-23 e principal em – pasmem –  dez rodadas do Campeonato Brasileiro do próximo ano… Ora, quem também prejudica os clubes senão a própria TV Globo?  Paga mal, tanto que a maioria  dos próprios grandes clubes está falida, marca clássicos tradicionais fora dos domingos e em horários absurdos para obrigar a compra no Premiere.   Para agravar, articula um calendário assassino com várias competições ao mesmo tempo, lado a lado com as “parceiras” CBF e Conmebol, que tiveram dirigentes afastados pela FIFA, por corrupção envolvendo até árbitros para a fabricação de resultados. Um ex-presidente da CBF, José Marins,  cumpre pena nos EUA, para onde irão mais dois, Ricardo Teixeira e Del Nero, caso saiam do país.  Serão presos pela Justiça dos EUA. Aqui, no país dos ladrões, se mantêm impunes.

Amistosos absurdos como estes do Senegal e Nigéria e, em novembro, Coreia do Sul e Arábia Saudita, são marcados por uma empresa inglesa contratada pela administração corrupta anterior. E, mais grave, desfalcando os clubes em seus campeonatos para empresários e a CBF ficarem cada vez mais ricos. Ou seja, a seleção brasileira é do domínio de uma entidade  que nada contribui para o futebol e foi  transformada maquiavelicamente em empresa privada pelo ex-presidente Ricardo Teixeira. Situação gravíssima a do futebol brasileiro enquanto estiver sob o comando da CBF, acostumada a pagar dirigentes de federações e clubes para elegerem quem bem entender. Impune e blindada pela Bancada da Bola do Congresso Nacional, que nunca permitiu a conclusão de várias CPIs.

Quando Luís Roberto, da TV Globo, pediu que os clubes pressionassem a CBF, omitiu também que grande parte está na “gaveta”.  Prática semelhante à das Câmaras de Deputados e  Vereadores e o Congresso Nacional.  Em qualquer outro país, os ex-presidentes Ricardo Teixeira e Del Nero estariam presos e seria criada uma Liga Nacional, medida que a CBF não poderia contestar na Justiça.

Como pode uma entidade ter o domínio da camisa da seleção de um país, ainda mais a nossa, cinco vezes campeã do mundo e de uma tradição inigualável em todo o planeta?   E sem dar a mínima contribuição para o nosso futebol? Outro absurdo é o treinador que parece chamar vários jogadores apenas para valorizar o produto dos empresários. E quando convoca por pressão da imprensa e torcedores, coloca-os por alguns minutos como foram os casos de Bruno Henrique e Gabigol, ambos  do Flamengo, os quais atravessam excelente e se enquadram na necessidade de renovação da seleção. Tite também deixa a impressão de não querer mexer nos seus preferidos e dos empresários, mesmo em amistosos contra seleções sem nenhuma expressão. Mais g rave ainda, desfalcando  os clubes em seus campeonatos,  ditatorialmente.

O resultado é o que se observa nos próprios grandes clubes como Vasco, Fluminense e Botafogo, falidos e ameaçados de tomarem o rumo do América-RJ, que também foi grande. De torcida, inclusive. Ou até o Corinthians, que não consegue quitar prestações razoáveis à Caixa Econômica, pela propriedade do Itaqueirão, vale dizer, outro estádio construído desnecessariamente para a Copa do Mundo.

Clubes falidos e a CBF, ao contrário, cada vez mais milionária e sem prestar contas a quem quer que seja e do que for. A não ser aos parceiros e também à Nike, fornecedora de material com poder de convocar e escalar jogadores, conforme aconteceu na Copa do Mundo na França, impondo a presença de Ronaldo, o chamado de fenômeno, mesmo acometido de uma convulsão, o que contribuiu para a perda de mais um título mundial.  Em última análise,  o que faz o atual governo com o discurso de moralizador e não toma providências para salvar o nosso futebol?  Criando uma Liga Nacional, por exemplo, a exemplo de países europeus, em especial?  Por quê?

*WILSON DE CARVALHO é jornalista e escritor. Três livros publicados, cobertura de cinco Copas do Mundo, campeão de prêmios de reportagens esportivas no Estado do Rio, nos anos 80 e 90. Entre os grandes jornais, só não trabalhou no Globo. Um dos principais ícones da crônica esportiva e do Jornal dos Sports e O Dia, veículos  onde ganhou a maioria dos prêmios, entre eles, duas Bolas de Ouro,  e em inúmeras  séries de reportagem,  tais como “Máfia da Loteria”;  “Roubo da Jules Rimet”; “No futebol não tem mais ninguém bobo”  e “Pelé não teme o dia em que deixar de reinar e voltar a ser Edson”.