Por Iata Anderson –

Nem Alfred Hitchcock teria escrito um enredo com tanto suspense quanto essa final da primeira copa programada e bancada por um país árabe/muçulmano.

Que, de verdade, apresentava duas seleções buscando o tricampeonato, uma delas tentando ser a terceira a conquistar o bicampeonato seguido, depois de Itália e Brasil, o time de Deschamps. Uma final espetacular, dirigida por um árbitro muito bem escolhido para a decisão, destaque à parte para Szymon Marciliak, da Polônia, impecável, soberbo, digno de final de copa do mundo. Você viu o jogo, como eu, talvez mais confortável, sozinho com minha prancheta, como gosto de ver jogo, portanto, não pretendo contrariar suas decisões, nem impor as minhas. Para começar, surpresa na escalação de Di Maria, de raro talento, parceiro de Messi, fez o primeiro tempo primoroso, até gol, seguiu no segundo, até acabar o gás. Saiu mas foi importantíssimo na vitória final.

Até fazer 1×0 a Argentina dominava totalmente, jogo nas mãos. Faltou “matar”, como sempre diz o Zico, meter mais um, acabar o papo. Dois a zero é perigoso – não ruim como dizem alguns – e mostrou mais uma vez por que. Aos 66 minutos a França apertou, viu que dava, passou a usar Mbappe com o melhor que ele tem, velocidade. Aos 79’ diminuiu, de pênalti, e três minutos depois empatou. Virou loucura, rasgou o enredo, os “deuses” do futebol largaram tudo e lavaram as mãos. “Seja o que Deus quiser”, disseram. Foi exatamente quando a torcida começou a gritar “olé” e alguns jogadores começaram a cair, fazendo “cera”, que as coisas mudaram. Deu frio na barriga dos nossos vizinhos. Aos 70’ Coman e Camavinga, apenas 21 anos, entraram e o time melhorou no meio e segurou o lado esquerdo dos campeões. Foi assim, cerca de 20 minutos até o emocional (de todos os jogados, claro) se assentar e a dar lugar aos esquemas táticos, melhor para os argentinos com a grande partida de Di Maria, talvez a melhor na seleção. A França “entrou no jogo” somente no segundo tempo, o primeiro foi “ataque contra defesa”, para surpresa geral. Mbappé não conseguia dar suas famosas arrancadas – a Argentina não deixava  o meio-campo passar ou lançar – para as assombrosas acelerações do artilheiro da copa. Os “bleus” viram espaços e se atiraram. Poderiam ter conquistado o título, no último minuto dos descontos, com Kolo Muani sozinho com o goleiro argentino que defendeu com a perna direita, estilo Neuer. Os engenheiros de obras prontas teriam feito, bastava dar uma “fatiada” na bola, por cima. Aí eu paro por aqui.

Sempre admirei o futebol argentino, que considero o segundo melhor do mundo. E não é de hoje. Lembro bem do meu primeiro “ídolo” daquele país, Omar Henrique Sívori, centro-avante maravilhoso, depois Antonio Ubaldo Ratin, quando eu nem pensava em trabalhar com futebol. Outros vieram, até Maradona, passando por Fernando Redondo, Oscar Más, Gabriel Batistuta  Norberto Alonso, que “barrou” Maradona em 1978, Verón, Perfumo, Riquelme, outros mais, até chegar a Messi, definitivamente consagrado após o tricampeonato de seu país. Gênios não se compara, sempre respondo, questionado sobre “quem foi melhor”. Cada um faz a sua história, à sua maneira. Sobre o povo, de quem ouvi tantas críticas, como se fossemos os melhores cidadãos do mundo – muito longe disso – nunca fui molestado por nenhum deles. Mais que isso, guardo com muito carinho o tratamento que recebi em Mar Del Plata, Buenos Aires, Mendoza, Rosário e nos dois meses que passei por lá, na copa de 1978, eu debutando. Estranho, sim, a repentina mudança de comportamento dos “cariocas”, depositando total apoio aos “hermanos”, juntando torcidas e festejando como se o título fosse “canarinho”. Muito estranho. Ô povinho volúvel.

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Escrevi, lá atrás, que torceria para Brasil, Portugal, Espanha e Croácia, nessa ordem. Meus favoritos foram caindo, marcando passagem de volta, torneio que segue. Feliz com o terceiro lugar da Croácia, de Luka Modric, chuteira de bronze na copa, derrotando Marrocos, e do goleiro Dominik Livakovic, 27 anos, Dinamo de Zagreb, observado por Oliver Kahn, CEO do Bayern de Munique que pode oferecer 8,5 de euros por seu contrato, visto que Emanuel Neuer teve fratura na perna direita e ficará muito tempo fora. Modric deverá renovar por mais uma temporada – até 2024 – com o Real Madrid, após a copa, onde foi um dos destaques.

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O que vi de melhor, individualmente, a cada jogo, algumas anotações, às vezes quatro jogos por dia. Os destaques: Messi, Lorris, Mbappé, Gvardiol (Croácia), Pepe (Portugal), Rice (Inglaterra), Rakimi (Marrocos), Ziyek (Marrocos), Enzo Fernandez (Argentina), e Amrabat (Marrocos). Desculpas pelos que não vi. Para quem não lembra, Hakimi, chamado Acraf, na época, nasceu em Madrid e jogou no Real em 2015-16 e 2016-17. Nunca foi titular.

Os melhores em cada posição, para o meu gosto, claro, sem nenhum compromisso: Dominik Livakovic (Croácia), Hakimi (Marrocos), Gvardiol (Croácia), Upamecano (França) e Theo Hernández (França); Modric (Croácia), De Paul (Argentina) e Enzo Fernández (Argentina); Griezman (França), Messi (Argentina) e Mbappé (França).

Zebras soltas. França e Argentina foram disputar a final (para a imprensa velha “finalíssima”, como se existisse essa fase), sem condições do título invicto. Os campeões foram derrotas na estreia para a Arábia Saudita por 2×1, gol de Messi, enquanto a França, já classificada para as quartas-de-final, perdeu para a Tunísia por 1×0.

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Além do único título que lhe faltava, Lionel Messi deixa o Catar como recordista em participação em mundiais, com 26 partidas disputadas, nas copas de 2006 (3), 2010 (5), 2014, (7), 2018 (4) e 2022 (7), ultrapassando o alemão Lothar Matthaus em um jogo. Antonio Ochoa, goleiro do México, 37 anos, poderá ser o único jogador do mundo a participar de seis copas (2026, Canadá, Máxico e Usa). Estou descartando Messi por quê?

Lembrete: Sem desmerecer os campeões, não é essa a intenção, a França chegou ao Catar sem seis jogadores importantes, machucados, “cortou” Benzema, eleito melhor jogador do mundo na temporada passada e perdeu o lateral esquerdo Lucas Hernández, substituído pelo irmão Theo, que acabou como melhor jogador da posição, no torneio. Que belo trabalho, Didier.

Apito final: as transmissões pela TV, um horror, passou da conta. Uma pieguice sem tamanho, falar o que o ouvinte quer ouvir – não saber – ficam bem com todo mundo. Se disser que a torcida do Flamengo é a maior, tem que dizer, não necessariamente a mesma pessoa, aí está o lance, que a do Corinthians também é, por aí afora. Raríssimas informações importantes, e tome estatísticas, google play, altura de jogadores, quantos quilômetros correu, baboseiras que não interessam a ninguém. Fechando a copa, duas pérolas: Croácia x Marrocos disputaram o “terceiro e quarto lugares”, só descobriram, com certeza um ouvinte, aos 62 minutos. Coitado do “Eve”, muito bom, por sinal, mas sem produção. Fechando, com chave de ouro: para não parecer crítica severa, um comentarista disse que o jogador “SE PRECIPITOU UM POUQUINHO”.

Até a próxima Copa.

IATA ANDERSON – Jornalista profissional, titular da coluna “Tribuna dos Esportes”. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, TV Manchete e Tupi; Atuou em três Copas do Mundo, um Mundial de Clubes, duas Olimpíadas e todos os Campeonatos Brasileiros, desde 1971.

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